Mas, apesar de processos de instrumentalização tão bicentenários quanto a própria data, o 7 de Setembro continua a ser importante – e a fazer parte do imaginário nacional –, indo muito além de ser apenas um feriado. Um caso de simbologia.
“Eu vejo o 7 de setembro, atualmente, como um bom pretexto para falarmos de história. As datas comemorativas têm esse papel. Elas podem levar as pessoas a parar e pensar na história de seu país, na história de sua sociedade, e refletir sobre o que foi, o que é e o que pode ser essa história. São momentos interessantes de reflexão”, acredita o professor João Paulo Pimenta. “Por mais que essas datas sejam comemoradas de maneiras diferentes dentro de uma sociedade, é importante que elas sejam sempre valorizadas a partir de uma perspectiva crítica e não como se elas traduzissem uma história perfeita. Os símbolos nacionais, inclusive essas datas, não são descrições perfeitas da história. São apropriações, manipulações, inserções da história”, afirma ele.
A professora Cecília Helena, do Museu Paulista, vai por um caminho semelhante. “Todas as nações selecionam uma data para demarcar seu surgimento. O 7 de setembro acabou se consolidando. No presente momento, a data e o modo como foi selecionada e sedimentada podem ancorar questionamentos sobre o passado e sobre a memória com a qual chegou até nós”, reflete. “Não se trata, porém, de substituir uma narrativa sacralizada pela política e memória pela imposição de outra qualquer. Mas de compreender a complexidade e multiplicidade racial de pessoas e grupos que atuaram na Independência. Compreender o quanto nossa história foi marcada por confrontos, conflitos armados, mortes, exclusões e extermínios. Buscar o passado com outros olhos, menos viciados pelo saber já sabido, mais abertos para sementes lançadas e derrotadas lá trás, mas que podem iluminar outras independências no presente”, conclui ela.
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