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A população da cidade de Satuba, localizada na região metropolitana de Maceió, está indignada com o descaso do poder público, em especial da Prefeitura. A cidade, que abriga uma das melhores escolas agrícolas do País, clama por socorro e parte da população vive a mercê do abandono e em condições sub humanas, convivendo com o lixo, falta de iluminação pública, esgotos correndo a céu aberto e expostas a graves problemas de saúde.
Por outro lado, a economia local amarga uma crise pouco vista em sua história. Muitos comerciantes estão fechando as portas de seus estabelecimentos e deixando a cidade após anos de luta. Eles reclamam que a Prefeitura não prestigia o comércio local, uma vez que 90% das compras são realizadas em Maceió e em outros centros. Esse desaquecimento econômico vem provocando a extinção de vários postos de trabalho, deixando famílias inteiras sem qualquer tipo de renda.
Até mesmo a agência lotérica e o posto do Banco Popular fecharam suas portas. Por conta disso, até mesmo para pagar uma conta de água ou energia, a população tem que ir até Maceió.
Os servidores municipais também não estão nada satisfeitos. Eles alegam que, além da desvalorização profissional, andam bastante preocupados com a recente implantação, por parte do Executivo, do Sistema de Previdência Própria, que extingue o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o FGTS. “Esse método não deu certo na maioria dos municípios e Satuba poderá ser mais uma vítima. Mensalmente descontam 11% dos nossos salários, mas ainda não disseram para onde esse dinheiro está indo. O prefeito implantou o sistema sem consultar a gente ou mandar alguém para explanar melhor sobre o assunto. Estamos as escuras”, frisou o servidor municipal Edmilson da Silva Vasconcelos, que trabalha como coveiro.
Edmilson denuncia ainda que muitos servidores que não apóiam a atual administração vêm sendo alvo de perseguições por parte do prefeito Cícero Titor. “Para complementar a renda tenho que vender capinhas de celular, chaveiros e outros souvenirs durante a tarde. Sabendo da minha necessidade, o prefeito vive mudando o meu horário no cemitério para que eu não tenha um horário fixo de trabalhar por conta própria.
Esgotos, sujeira e risco de doenças proliferam pela periferia
Apesar do descaso estar por toda a parte, a periferia é a que mais sofre. No conjunto Margarida Procópio, por exemplo, os esgotos correm a céu aberto. O serviço de coleta de lixo é precário e o matagal toma conta das ruas. Com bueiros entupidos e sem qualquer tipo de saneamento, os alagamentos são comuns nos períodos invernosos.
Nossa reportagem também detectou outro problema grave naquela comunidade. Vários bueiros estão sem as tampas de bronze, colocando em risco a vida das pessoas. De acordo com o auxiliar de pintura, Seandro Rocha do Nascimento, que reside no local há 18 anos, três crianças já caíram nos bueiros e, por sorte, não morreram. “Nos últimos meses três crianças caíram nesses bueiros. Elas caminhavam pela rua e caíram dentro da água suja. Por sorte pessoas que passavam pelo local viram e as puxaram rapidamente”, disse, indignado, o morador que completou: “A Prefeitura esqueceu que essa comunidade existe.
Aqui vivemos abandonados. O posto de saúde praticamente não funciona, o lixo não é coletado e ainda temos que conviver com o mal cheiro”.
Outra moradora revoltada com a situação é dona Maria das Graças, que vende batatas fritas na porta de sua residência, localizada defronte a um canal nas imediações do terminal de ônibus. Segundo ela, o seu comércio foi prejudicado por conta do mal cheiro. “Esse mal cheiro está afugentando minha freguesia. Pelo fato de comercializar alimento, as pessoas ficam com nojo e não compram mais”, lamentou a senhora.
Na Travessa Nossa Senhora da Guia, nas imediações da linha férrea, a comunidade também vive em situação sub humana. Lá, os esgotos também correm a céu aberto. Crianças, sem terem a noção do perigo, brincam as margens do que era pra ser um córrego e acabam contraindo diversos problemas de saúde. Uma moradora revoltada reclama da grande quantidade de moscas e, principalmente, mosquitos da dengue, que já vitimou várias pessoas daquela localidade.
A comunidade dos Gregórios é outro local abandonado pela atual administração. Durante a noite a escuridão é grande. Tratores não realizam a terraplanagem das ruas e o resultado é muito mato e lixo. Numa das ruas, o matagal tomou conta e praticamente transformou a rua numa trilha. Moradores estão, inclusive, plantando milho e mandioca no local onde deveria ser uma rua.
Obras no Estádio Municipal estão abandonadas
Ainda segundo os moradores, a gestão anterior conseguiu, junto a Escola Agrotécnica de Satuba, a doação de uma área para a construção do estádio municipal. O local foi limpo e todo murado. Na atual gestão o projeto não teve continuidade e o local transformou-se num imenso matagal e local preferido para o consumo de entorpecentes.
“Esse campo é um dos grandes sonhos dos satubenses. Hoje não temos um local para bater uma bolinha e se divertir nos finais de semana. As crianças e os jovens ficam ociosos, sem terem o que fazer, e muitos rumam pelo mundo da marginalidade”, frisou o morador Kleber Farias.
No local chegou a ser colocada uma placa, informando o valor da obra, orçado em R$ 402 mil, sendo R$ 12 mil de contrapartida da Prefeitura. A placa foi colocada há mais de um ano, mas, segundo o morador, até agora nada foi feito.
Comerciante reclama da falta de apoio
Outro satubense indignado com a situação é o comerciante Ronaldo Inácio. A falta de dinheiro circulando na cidade, segundo ele, vem causando muitos prejuízos ao comércio e, conseqüentemente, o desemprego.
“Recentemente tive que dispensar três funcionários, devido a baixa clientela. Além de churrascaria também trabalho no ramo de material de construção. O prefeito não compra, sequer, um joelho hidráulico em nossa cidade e manda trazer tudo de Maceió. Isso é muito ruim, pois ele deveria prestigiar o comércio local, independente da cor partidária do comerciante”, lamentou.
Por outro lado, ultimamente a violência também tem amedrontado os satubenses. Como não há empregos, a ociosidade toma conta dos jovens. Muitos, devido a falta de estrutura familiar adequada, rumam para o mundo da marginalidade.