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29/07/2011 20:13:09

Alagoas subestima o poder dos bandidos, diz pesquisadora da Ufal

Alagoas subestima o poder dos bandidos, diz pesquisadora da Ufal
Dra. Celia Nonata pesquisadora UFAL

Com repórteralagoas // odilon rios

 

Pesquisadora na área de criminologia, a professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Célia Nonata, disse que ações da polícia militar- como as que foram vistas nesta quinta-feira no conjunto Carminha- depois da morte da dona de casa Maria de Lourdes Farias de Melo (arrancada de casa por traficantes, assassinada e em seguida esquartejada)- não funcionam de forma permanente, garantindo às pessoas que moram na região apenas uma "tranquilidade momentânea".

Apesar do comandante do Policiamento da Capital (CPC), coronel Gilmar Batinga, garantir que a PM só sai do Carminha que o Estado retomar o controle da região- ela acredita que o atual modelo de policiamento não ajudará Alagoas a combater o crime organizado.

"Nós temos sérios problemas em Alagoas".

E o quê fazer a curto prazo?

"Olha, é preciso uma ação mais efetiva. Faço estudos em boletins de ocorrência e os policiais que os preenchem não sabem ler nem escrever. O corpo policial precisaria ser mais qualificado. E precisaria ter mais polícia na rua. É o que deve ser feito a curtíssimo prazo".

Quais as características do crime organizado em Alagoas?

"Não temos crime organizado. Crime deste tipo há no Rio de Janeiro, porque existem morros, favelas, um líder, uma hierarquia. No Nordeste- ou como estudamos, em Alagoas- não temos isso. Não há morros e favelas como os do Rio."

Como analisa a ação da PM na área do Benedito Bentes, quatro dias depois da morte brutal daquela dona de casa?

"O Estado perdeu o controle sobre essa região e o quê assusta mais: o Estado não sabia disso. Se houvesse policiamento ostensivo- o mínimo- ações como essa do tráfico nem existiria. A comunidade que sofre uma perda deste tipo percebe que não resta muito a ser feito".

Quando a senhora fala deste "básico" ou "mínimo" se refere às condições estruturais das polícias?

"Isso. A polícia no Nordeste é desestruturada, mas não posso analisar mais detidamente por não ter dados da região nas mãos. Vamos a Alagoas, objeto dos nossos estudos: Alagoas não tem crime organizado, ações de tráfico organizadas. Não temos ainda uma estatística e o Estado subestima o poder dos bandidos. Vemos que o povo vai criando os seus mártires- como esta dona de casa assassinada- e como esta mesma população não acredita na polícia, ela mesma recorre aos seus métodos de execução".

A senhora apresentou estas informações a integrantes da Secretaria de Defesa Social. O que eles disseram?

"Mostrei que a forma atual de separação dos crimes- no caso das mortes- está errada. Os crimes em Alagoas têm características de execução. É um tipo de violência que chamamos "violência doméstica". Enquanto a Secretaria de Defesa Social não tiver um convênio com a Ufal paa estudar esta quadro, vamos ter um quadro que temos hoje."

A senhora estuda boletins de ocorrência. Consegue ter acesso a eles com facilidade?

"Demorei dois meses para ter acesso aos dados do primeiro batalhão. É assustador. Não há informações sobre conflitos no campo. O Sudeste mostra que a parceria entre universidade e a parte operacional das polícias funciona e muito. Houve redução da criminalidade".

Há um forte investimento do Governo na ideia da polícia comunitária. O que acha deste modelo?

"Polícia comunitária é polícia assistencialista. O PM entra na casa da pessoa, conhece todo mundo, quem é ou não do mundo do crime. O policial perde sua postura de autoridade diante das pessoas. Ele vai lá ajudar a colocar o gás, a tirar o gato da árvore ou socorrer o menino afogado. É isso o que as comunidades querem para o combate ao tráfico? Polícia comunitária é uma farsa. O que é isso? O policial vai virar anjo de bandido?"

O que intriga no crime em Alagoas?

"Sou de Belo Horizonte. Tenho uma amiga em Alagoas, conversamos muito. Ela me diz que o Brasil pode falar no palavra "bala perdida" mas, aqui, este conceito nao existe. A bala aqui tem endereço e pessoa certa. Isso é execução- diferente do que vemos em outros lugares, como no Rio. Isso não é melhor ou pior. É uma característica que me chama a atenção". Pesquisadora na área de criminologia, a professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Célia Nonata, disse que ações da polícia militar- como as que foram vistas nesta quinta-feira no conjunto Carminha- depois da morte da dona de casa Maria de Lourdes Farias de Melo (arrancada de casa por traficantes, assassinada e em seguida esquartejada)- não funcionam de forma permanente, garantindo às pessoas que moram na região apenas uma "tranquilidade momentânea".

Apesar do comandante do Policiamento da Capital (CPC), coronel Gilmar Batinga, garantir que a PM só sai do Carminha que o Estado retomar o controle da região- ela acredita que o atual modelo de policiamento não ajudará Alagoas a combater o crime organizado.

"Nós temos sérios problemas em Alagoas".

E o quê fazer a curto prazo?

"Olha, é preciso uma ação mais efetiva. Faço estudos em boletins de ocorrência e os policiais que os preenchem não sabem ler nem escrever. O corpo policial precisaria ser mais qualificado. E precisaria ter mais polícia na rua. É o que deve ser feito a curtíssimo prazo".

Quais as características do crime organizado em Alagoas?

"Não temos crime organizado. Crime deste tipo há no Rio de Janeiro, porque existem morros, favelas, um líder, uma hierarquia. No Nordeste- ou como estudamos, em Alagoas- não temos isso. Não há morros e favelas como os do Rio."

Como analisa a ação da PM na área do Benedito Bentes, quatro dias depois da morte brutal daquela dona de casa?

"O Estado perdeu o controle sobre essa região e o quê assusta mais: o Estado não sabia disso. Se houvesse policiamento ostensivo- o mínimo- ações como essa do tráfico nem existiria. A comunidade que sofre uma perda deste tipo percebe que não resta muito a ser feito".

Quando a senhora fala deste "básico" ou "mínimo" se refere às condições estruturais das polícias?

"Isso. A polícia no Nordeste é desestruturada, mas não posso analisar mais detidamente por não ter dados da região nas mãos. Vamos a Alagoas, objeto dos nossos estudos: Alagoas não tem crime organizado, ações de tráfico organizadas. Não temos ainda uma estatística e o Estado subestima o poder dos bandidos. Vemos que o povo vai criando os seus mártires- como esta dona de casa assassinada- e como esta mesma população não acredita na polícia, ela mesma recorre aos seus métodos de execução".

A senhora apresentou estas informações a integrantes da Secretaria de Defesa Social. O que eles disseram?

"Mostrei que a forma atual de separação dos crimes- no caso das mortes- está errada. Os crimes em Alagoas têm características de execução. É um tipo de violência que chamamos "violência doméstica". Enquanto a Secretaria de Defesa Social não tiver um convênio com a Ufal paa estudar esta quadro, vamos ter um quadro que temos hoje."

A senhora estuda boletins de ocorrência. Consegue ter acesso a eles com facilidade?

"Demorei dois meses para ter acesso aos dados do primeiro batalhão. É assustador. Não há informações sobre conflitos no campo. O Sudeste mostra que a parceria entre universidade e a parte operacional das polícias funciona e muito. Houve redução da criminalidade".

Há um forte investimento do Governo na ideia da polícia comunitária. O que acha deste modelo?

"Polícia comunitária é polícia assistencialista. O PM entra na casa da pessoa, conhece todo mundo, quem é ou não do mundo do crime. O policial perde sua postura de autoridade diante das pessoas. Ele vai lá ajudar a colocar o gás, a tirar o gato da árvore ou socorrer o menino afogado. É isso o que as comunidades querem para o combate ao tráfico? Polícia comunitária é uma farsa. O que é isso? O policial vai virar anjo de bandido?"

O que intriga no crime em Alagoas?

"Sou de Belo Horizonte. Tenho uma amiga em Alagoas, conversamos muito. Ela me diz que o Brasil pode falar no palavra "bala perdida" mas, aqui, este conceito nao existe. A bala aqui tem endereço e pessoa certa. Isso é execução- diferente do que vemos em outros lugares, como no Rio. Isso não é melhor ou pior. É uma característica que me chama a atenção".