Com maltanet // adalberto custódio
Com cerca de 210 mil habitantes, população de Arapiraca está mudando costumes e hábitos comuns para se proteger da criminalidade.
Arapiraca, a segunda maior cidade do Estado de Alagoas, vive um momento preocupante em sua história. Os números que retratam a violência estão crescendo assustadoramente, transformando a tranqüilidade e os hábitos interioranos do seu povo num imenso cenário de medo, tensão, angústia e, principalmente, a sensação de desamparo por parte das autoridades responsáveis pela Segurança Pública.
Proprietários de estabelecimentos comerciais localizados na periferia estão instalando grades de segurança a partir das 18 horas. Os clientes são atendidos do lado de fora e toda a transação entre pagamento e liberação dos produtos é feita em meio às grades. Enquanto isso, as residências parecem mais fortalezas. Muros altos, portões fechados, câmeras, alarmes e cercas elétricas isolam famílias inteiras do resto do mundo. Esse “aquartelamento” social faz com que muitas ruas permaneçam praticamente desertas durante a noite.
Há pouco mais de três décadas, a cidade de Arapiraca era conhecida em todo o Brasil como a capital nacional do fumo. Até hoje, muitos arapiraquenses relembram com saudosismo os tempos da forte pujança econômica, onde grande parte da população buscava no “ouro verde” o sustento familiar. No início da década de 90, a cultura do fumo entrou em declínio e muitos pais de família perderam a principal fonte de renda, o que desencadeou no surgimento das periferias desestruturadas e fadadas ao abandono social.
Apesar de ser chamada de “metrópole do futuro” por alguns estusiastas locais, a realidade é que Arapiraca enfrenta problemas graves que a deixam muito distante desta sonhada realidade. A falta de segurança pode não ser o principal problema, mas certamente é um dos que mais incomodam os arapiraquenses. Nos últimos anos, a população passou a presenciar verdadeiros cenários de guerra, onde pessoas são assassinadas em via pública e à luz do dia.
Além dos assassinatos, diariamente são registradas outras modalidades de crime em Arapiraca, a exemplo de assaltos, espancamentos, roubo de veículos e até seqüestros relâmpagos.
Na semana passada, o condutor de uma motocicleta foi perseguido e assassinado com mais de 10 tiros de pistola na Rua Nossa Senhora da Salete, uma das ruas mais movimentadas do bairro Itapoã. O crime aconteceu por volta das 15 horas, num horário de grande circulação de pessoas. A polícia foi até o local, fez rondas, mas, como na maioria dos casos, não conseguiu localizar os atiradores.
No dia 23, durante a abertura dos festejos juninos no Lago da Perucaba, uma pessoa morreu e outras quatro pessoas ficaram feridas após um jovem de 18 anos abrir fogo no meio da multidão. O que era pra ser uma festa se transformou num pesadelo.
Os assassinatos passaram a ser uma prática criminosa quase que diária em Arapiraca. Ao ligar o rádio logo cedo, a população recebe uma “enxurrada” de notícias ruins, que traduzem os boletins emitidos pela Polícia Militar, Instituto Médico Legal e Unidade de Emergência do Agreste.
Nona cidade mais violenta do Brasil
As estatísticas mostram que a violência em Arapiraca perdeu o controle e ultrapassou fronteiras. Recentemente, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Sanghali e veiculada em rede nacional pela Rede Globo de televisão, apontou a capital do Agreste como a nona cidade mais violenta do Brasil.
A pesquisa foi realizada com base em dados coletados entre os anos de 1997 e 2007. No período em que foi realizada a pesquisa, os homicídios em Alagoas apresentaram um percentual de 59,6 por 100 mil habitantes. E não foi só Arapiraca que colocou Alagoas nesta triste estatística. A capital, Maceió, superou Arapiraca, ficando na 8ª colocação em termos de violência.
Em março deste ano, um novo levantamento feito e, lamentavelmente, as duas cidades alagoanas apareciam nas mesmas posições anteriores. Críticos consideraram que seria mais seguro morar num país de guerra do que em um destes municípios. Pela ordem do resultado da pesquisa, os dez municípios mais violentos do Brasil são: Jurema (MT), Nova Tebas (PR), Tailândia (PA), Guairá (PR), Coronel Sapucaia (MS), Viana (ES), Tunas do Paraná (PR), Maceió (AL), Arapiraca (AL) e Linhares (ES).
“Bases comunitárias podem ser a saída”, diz subcomandante
De acordo com o subcomandante do 3º Batalhão de Polícia Militar, capitão Anaximandro, a implantação de bases comunitárias deverá ser uma das saídas para erradicar a escalada da violência em Arapiraca. Segundo ele, esse sistema de policiamento vem dando certo em todo o Brasil e deverá também dar certo por aqui.
No início do mês de junho, o governo do Estado, através do diretor de Prevenção à Criminalidade da Secretaria de Estado da Defesa Social, coronel Carlos Alberto de Mendonça, e o prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa, assinaram os Termos de Cessão do Uso de Equipamentos de Videomonitoramento e de Bens Imóveis ao governo do Estado para a instalação das três primeiras bases de Policiamento Comunitário no município.
No total, Arapiraca receberá seis bases de policiamento comunitário. As três primeiras irão funcionar nas imediações da Feira da Fumageira, Lago do Perucaba e Jardim das Palmeiras, locais considerados problemáticos para a polícia local.
Segundo o capitão Anaximandro, cada base contará com 17 policiais, uma viatura, sistema de monitoramento na base, rádio e computador. “A vantagem das bases comunitárias é que cada grupo de policiais fica responsável por um determinado raio de atuação, delimitado em volta da base. Esse sistema está dando certo em São Paulo, no Rio de Janeiro e certamente dará em Alagoas também”, frisou o sub comandante.
Ainda segundo Anaximandro, os bairros Primavera, Manoel Teles e Jardim das Paineiras são as áreas mais críticas segundo a polícia quando o assunto é tráfico de drogas. “Iremos iniciar as bases por estes locais mais problemáticos, mas já estamos pensando em outros pontos estratégicos da cidade”, garantiu.
Deputado arapiraquense elogia iniciativa do governo
O deputado estadual Severino Pessoa (PPS), representante de Arapiraca na Assembléia Legislativa, anda apreensivo com a escalada da violência que parece não ter fim na cidade. Segundo o parlamentar, a comercialização e consumo de entorpecentes, principalmente o crack, são os maiores responsáveis pela onda de assaltos, roubos e assassinatos registrados ultimamente.
Ainda segundo ele, o crack tem sido o responsável por destruir muitas famílias, principalmente da zona rural. A vontade de saciar o vício leva jovens de todas as idades a cometerem atos impensados, deixando o trabalho da lavoura e passando a vender objetos pessoais ou da própria família para conseguir dinheiro para comprar a droga.
Sobre a iniciativa do governo em implantar as bases comunitárias em Arapiraca, Severino Pessoa disse que a polícia tem que estar trabalhando dentro das comunidades. “As bases comunitárias possibilitarão que os policiais se familiarizem com os problemas das comunidades. Esse projeto vem dando certo em vários lugares do país e minha torcida é que também dê certo em Arapiraca”, frisou o deputado.
Falta de estrutura familiar e qualificação profissional
De acordo com a assistente social Rosângela Maria da Silva, o aumento da violência pode estar diretamente relacionado a diversos fatores, entre eles, o crescimento desordenado da cidade, aliado à falta de estrutura familiar e a desqualificação profissional.
Para Rosângela, o governo não deveria apenas estar preocupado em investir na Segurança Pública, comprando viaturas, armamentos ou colocando policiais nas ruas, mas sim dando mais atenção à investimentos primários como oferecer educação de qualidade para as crianças e qualificação profissional para jovens e adultos. “O desemprego, aliado a falta de qualificação, geralmente provoca o sentimento de inferioridade no ser humano. Se essa pessoa não recebeu uma educação familiar voltada à valorização dos princípios morais e espirituais, o caminho geralmente é a marginalidade”, finalizou a assistente social.