Com tudonahora // plinio lins e carlos madeiro
O superintendente da Caixa Econômica Federal em Alagoas, Gilberto Occhi, afirmou ao Tudo na Hora, na tarde desta terça-feira (22), que o atraso nas obras de reconstrução das áreas atingidas pelas enchentes de junho de 2010, em Alagoas, se deve, em grande parte, à carência de mão-de-obra de média e alta especialização para tocar as obras. O problema foi exposto, mais cedo, na Assembléia Legislativa pelo secretário de Estado da Inafraestrutura, Marco Fireman, aos deputados estaduais. Occhi estava presente no encontro.
Os contratos para a construção de 17,5 mil unidades habitacionais foram assinados em setembro e outubro de 2010 – e o cronograma, até agora, indica que só 10% das obras foram executadas.
Gilberto Occhi ressaltou, porém, que alternativas estão sendo criadas para contornar esse obstáculo. “O principal, a nosso ver, é que as obras estão garantidas e os recursos assegurados”, disse Occhi.
A dificuldade de mão-de-obra "é real", disse o superintendente, que confirmou ter recebido esse alerta das construtoras e dos sindicatos. “Temos, neste momento, mais de 40 mil unidades habitacionais sendo produzidas ao mesmo tempo em Alagoas. Esse total inclui as 17,5 mil casas das vítimas das enchentes, e mais cerca de 25 mil de outros programas, como o Minha Casa Minha Vida. Isso é um volume inédito, absorve toda a mão-de-obra disponível na construção civil. Para você conseguir um servente de pedreiro é relativamente fácil. Mas encontrar pedreiros, eletricistas, maquinistas, azulejistas, bombeiros, encanadores, marceneiros e outros, na quantidade que se necessita, não está sendo fácil. Estão mesmo em falta no mercado, todo mundo conseguiu emprego, não há profissionais sobrando”, afirma.
A falta de profissionais qualificados, disse Occhi, atinge as empresas que tocam as construções populares e também as responsáveis por grandes obras da construção civil.“Não é só em Alagoas, é no Brasil inteiro. O ritmo de obras no país está muito forte e o suprimento de mão-de-obra não acompanha esse crescimento”, diz.
Sobre os atrasos nas obras de reconstrução da tragédia de 2010, Gilberto Occhi concorda “em parte”, como acentuou. “Se nós fôssemos esperar que todos os projetos ficassem prontos e todos os trâmites fossem atendidos, como licença ambiental e laudos do Corpo de Bombeiros, por exemplo, só hoje é que estaríamos assinando os contratos. Nós abreviamos o processo da forma mais correta: assinamos os contratos para garantir os recursos, com projetos simplificados de habitação, mas com uma cláusula suspensiva: os recursos só são liberados com o projeto apresentado e aprovado pela Caixa”, diz.
“Ninguém gosta de obra atrasada, nem nós, nem os prefeitos, nem o governo do Estado e muito menos, principalmente, as famílias que perderam tudo e necessitam de um teto, de um endereço. Estamos fazendo o possível, lidando com dificuldades que são grandes, buscando solução para cada problema que aparece. O principal é que as obras estão garantidas e os recursos, assegurados”.
Criatividade
Para tentar contornar o problema, as construtoras, segundo Gilberto Occhi, estão usando a criatividade e apressando o processo de formação de profissionais, tanto nas obras de reconstrução como nas demais, por todo o Estado. “Os profissionais da construção civil estão sendo treinados no próprio canteiro da obra. O Sistema S, principalmente Senai e Sesi, está fazendo um esforço grande para ajudar na formação desses profissionais, abrindo mais inscrições para treinamento e formação”, observa.
Na ponta tecnológica do processo, até engenheiros estão em falta no mercado, diz o superintendente da Caixa em Alagoas. “Resultado: grandes empresas de construção civil estão buscando os melhores alunos em faculdades de engenharia, pelo Brasil afora, e recrutando esses acadêmicos para que, logo após a diplomação, eles comecem a trabalhar. Por aí se tem uma idéia de como está o ritmo. É um efeito colateral do crescimento do país”.
Gilberto Occhi chama a atenção para o fato de que, no curto e médio prazo, o ritmo de obras – e a consequente necessidade de mão-de-obra especializada – vão aumentar ainda mais, com a proximidade da Copa do Mundo de 2014, em 12 cidades-sedes, e das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. “E antes mesmo da Copa do Mundo teremos a Copa das Confederações, em 2013. Imagine a demanda de profissionais para construir estradas, aeroportos, estádios, vilas olímpicas, hotéis, habitações de todos os padrões, um leque imenso de obras. Teremos que formar contingentes enormes de mão de obra, e em ritmo acelerado, para atender a essas necessidades”.
Até o material de construção é parte do problema: a oferta não acompanha a demanda, diz Occhi. O problema maior é com cimento, tijolos e ferro. “Tem fila, sim. O fornecedor está optando por entregar primeiro a quem paga à vista e depois a quem compra faturado. E para alguns itens é exigido pagamento antecipado”.
O resultado? “Temos aqui em Alagoas algumas construtoras de porte que estão driblando esse problema com criatividade. Conheço três empresas que instalaram no próprio canteiro de obras fábricas de blocos de concreto, lajes e vigas, para não depender da disponibilidade e do humor de fornecedores”, disse o superintendente.
Acelerando
O coordenador do Programa da Reconstrução, Luiz Otávio Gomes, disse que, apesar das carências de mão de obra e de material, o ritmo de construção das casas segue em “ritmo acelerado”. Segundo ele, a previsão é de que até dezembro todas as 17.500 casas que estão sendo construídas sejam entregues às famílias vítimas das enchentes.
“O prazo de construção é de 12 meses. Nós estamos antecipando alguns casos. Conjuntos em Quebrangulo e Rio Largo devem ser entregues entre junho e julho. Mas de um modo geral, essas casas devem começar a ser entregues entre outubro e dezembro. As construtoras deverão cumprir o prazo de entrega até dezembro”, informou.
Sobre as críticas dos desabrigados que vivem em barracas nos acampamentos, Luiz Otávio Gomes disse que “são compreensíveis”. “As pessoas que perderam seus lares clamam pela urgência. Mas é preciso entender que, para construir uma casa, é preciso um terreno, um projeto arquitetônico, projetos complementares e um financiamento. Só depois disso começa a obra”, explicou.