Com gazetaweb // janaina ribeiro
Chamas, gritos, desespero, pessoas desmaiando e móveis e utensílios domésticos espalhados pelo meio da rua. Esse era o cenário desolador na favela da Torre, localizada Avenida Senador Rui Palmeira, no Dique Estrada, no Vergel do Lago. Um incêndio de grandes proporções destruiu dezenas de barracos e o Corpo de Bombeiros não tinha viaturas suficientes para apagar o fogo. A suspeita é de que o incêndio tenha sido provocado por uma panela de pressão.
“Meu Deus, o que eu vou fazer da minha vida? Pra onde eu vou? Eu não tenho mais nada, perdi tudo, só ficou a roupa do corpo”, gritava a dona de casa Claudineide Maria da Silva Santos, de 22 anos, que precisou ser amparada pelas vizinhas enquanto via seu barraco pegar fogo.
Ela foi apenas uma das dezenas de vítimas que perderam tudo no incêndio que destruiu parte da favela da Torre. Por causa do vento forte, as chamas se alastraram rapidamente e os focos de incêndio só cresciam no local. “Eu estava trabalhando quando recebi uma ligação. Corri pra cá e, quando cheguei em casa, não restava mais nada. O fogo destruiu as camas, o sofá, as cadeiras, a geladeira, o fogão, televisão, som, tudo, tudo. Não faço a mínima ideia do que vou fazer agora. Essas chamas destruíram tudo o que consegui em cinco anos”, contou o mecânico Danúbio de Alcântara, que morava com a irmã.
No barraco de Maria Andréia dos Santos, que morava com o filho de 13 anos, nada restou. “Nem uma roupa pra contar história. Minha vida acabou junto com o fogo”, gritava ela aos prantos.
Corre-corre para apagar as chamas
Para conter as chamas, o Corpo de Bombeiros Militar enviou, inicialmente, apenas uma viatura de combate a incêndio com capacidade para cinco mil litros. Diante da grande proporcionalidade que o fogo tomou, outro carro precisou ser acionado. Entretanto, enquanto a segunda unidade não chegava, a água do primeiro caminhão acabou e os bombeiros ficaram parados por alguns minutos sem ter como equacionar o problema.
Para ajudar a apagar as chamas, os militares apelaram à população. “Sabemos que essa é uma situação muito delicada, mas usamos da psicologia para reverter o quadro de desespero. A gente tenta mostrar aos moradores que, se eles também ajudarem, podemos controlar o fogo com mais rapidez”, explicou a tenente Viviane Suzuki, que comandava os trabalhos.
Os moradores reclamavam da falta de estrutura dos bombeiros e ameaçaram quebrar a viatura. “Eu queria só ver se fosse um incêndio gigantesco. O povo morreria, as casas seriam completamente tomadas pelas chamas e os bombeiros ficariam com essa mangueira do tamanho do nada pingando água. Isso é um absurdo. Como é que uma instituição importante como essa não tem uma viatura grande e mais carros? O governador vai esperar um desastre maior para equipar o órgão? Se só tem uma viatura aqui, acho que o quartel vai mais tê-la de volta. Vamos destruir logo tudo”, ameaçou Sinval Barbosa, que é pescador.
Moradores salvaram os bens que puderam
Não era possível mensurar a quantidade de barracos atingidos pelas chamas. E, enquanto existia parte deles que ainda não tinha sido destruída, os moradores corriam para salvar o que estava ao alcance deles.
O corre-corre e entra e sai para retirar móveis, eletrodomésticos, utensílios, roupas e calçados era grande. Muita gente depositou os objetos na calçada, no meio da rua e no canteiro que corta a Avenida Senador Rui Palmeira.
E a Polícia Militar foi acionada para ajudar os bombeiros a retirar os moradores das casas, haja vista que muitos deles ainda ofereciam resistência em abandonar o pouco que tinham. “A gente já não tinha nada e ainda perder a quantidade tão pequena de bens que havíamos conquistado com muito esforço, é de cortar o coração”, lamentou a marisqueira Maria Cícera dos Santos, , que quase desmaiou depois de ter inalado fumaça e precisou receber oxigênio de uma viatura do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu).
Assim como ela, outras pessoas também passaram mal e foram socorridas pelas unidades de salvamento resgate do Samu e dos bombeiros.
E, enquanto toda a movimentação acontecia na favela, populares comentavam que o incêndio começou num barraco que estava fechado, mas com uma panela de pressão no fogo. Eles contaram que ouviram o 'estrondo' supostamente provocado pela panela.