antonio aragao //
O desabamento de um galpão ocorrido na ultima quarta feira dia 16 as 10:00hs no alojamento conhecido como “cidade de lona” localizado na margem da BR-104 km. 37.4 que abriga os desalojados da cheia de 2010 do povoado “Jacinto” (zona rural do município) provocou lesões no menor José Janailson da Silva de apenas cinco anos de idade que na hora da quase tragédia brincava no local em companhia de outras quatro crianças duas delas suas irmãs.
O fato inicialmente mantido em discreto sigilo somente chegou ao conhecimento da imprensa na tarde da quinta feira através de um site editado em Arapiraca que publicou uma nota da Secretaria da Infra Estrutura do Estado noticiando que na segunda feira 21 as providencias seriam tomadas e que seria aberta uma investigação. Na nota havia a afirmação de que dois operários haviam ficado feridos.
Entretanto na realidade quem saiu lesionado o menino que é filho de uma agricultora (separada do marido) identificada como dona Maria Sirleide da Silva de 25 anos de idade que tem mais dois filhos todos menores que sobrevivem de uma pensão alimentícia de cinquenta reais semanais, da “bolsa família” além do trabalho na roça da mulher que na tarde deste domingo não dispunha sequer de dinheiro para locomover seu filho ao Hospital Regional São Vicente de Paulo em busca de atendimento medico,
Na noite do sábado (19) o menino apresentou quadro febril e reclamou de dores no dedo (de onde foi extraído sangue coagulado), dores no braço e principalmente na cabeça. A criança foi medicado sem orientação médica com a ajuda dos vizinhos, pois segundo a senhora Sirleide nos últimos dias não tem trabalhado para cuidar do filho e o que recebe como pensão mal dá para comprar alimentos.
A informação dos moradores é que na mesma noite do dia do acidente a firma recolheu todo material utilizado para as construções além de seus funcionários. Na quinta feira, um cidadão se dizendo engenheiro apareceu prometendo financiar o tratamento da criança que não consegue sequer se levantar do leito humilde dividido com a mãe e seus dois irmãos, não se alimenta direito e quando está acordado chora constantemente com muitas dores.
Com o consentimento de dona Sirleide, entramos na barraca da Defesa Civil e constatamos o estado de pobreza extrema da agricultora que esboça choro ao falar sobre a situação do seu filho. Ela conta que “estava no rio lavando roupas e deixei as crianças no barraco. Como fazia muito calor, Girleane Lais (a filha mais velha de sete anos) levou Janailson e José Herbert (de apenas três anos) para o galpão, pois era para lá que todos iam quando está fazendo muito calor”.
A agricultora continua sua narrativa dizendo que quando se aproximava da barraca onde mora percebeu uma movimentação estranha. “Era o povo da firma socorrendo o menino que foi levado para o Hospital São Vicente de Paulo, tomou injeção, teve a cabeça enfaixada e voltou para casa sem sequer fazer uma radiografia e agora seu estado de saúde está piorando”.
Dona Sirleide ainda disse que um policial civil esteve no alojamento e marcou para a terça feira próxima o exame de corpo delito do menor no IML em Maceió. Afirma que não vai poder ir porque não dispõe de dinheiro para o transporte, mas foi tranquilizada quando soube que por certo o Delegado Dr. Cicero Lima deve mandar conduzi-la de ida e volta com o filho em uma viatura da Policia Civil.
No local que denota abandono pode-se notar a presença de dezenas de crianças extremamente pobres, algumas seminuas brincando próximo a BR onde o fluxo de veículos é intenso, mulheres correndo envoltas em toalhas saídas do banho (o banheiro é coletivo não tem chuveiro e está igual a todos os outros acampamentos: não dispõe de água para higienização). vários poços a céu aberto, uma cozinha comunitária abandonada e dois galpões que seriam o escritório de apoio das construtores do futuro núcleo residencial, um dos quais, segundo os moradores “condenado pelo engenheiro da própria firma”.
Um morador que pediu para não ser identificado foi buscar em seu alojamento um pedaço de madeira onde existe feito provavelmente por um carpinteiro com uma saliência, que segundo ele “era uma das mãos de força de sustentação do telhado do galpão que caiu”.
Voltamos a transcrever a nota da SERVEAL publicada no dia 16 de fevereiro de 2011 pelo site “Alagoas em tempo real”:
“Serveal esclarece acidente em União dos Palmares
por Assessoria
Em relação ao incidente ocorrido em União dos Palmares, com o desabamento de uma construção, cujo projeto é do Serviços de Engenharia do Estado de Alagoas S/A (Serveal), e que foi executado por uma empresa contratada por esta, o presidente da Serveal, Ronaldo Patriota, instalará uma comissão para apurar responsabilidades do acidente, bem como as causas.
Ronaldo Patriota ainda visitará o local juntamente com técnicos da empresa. O caso será tratado com total publicidade e transparência e será de conhecimento público um relatório elaborado pela empresa apontado as causas – como já citado – do lamentável acidente.
A Serveal lamenta pelos dois acidentados (?????) e reitera que seu compromisso é com o bem-estar da população alagoana, sendo parceira em projetos que sempre foram referência na construção civil, inclusive no processo de reconstrução das cidades atingidas pelas enchentes. Ao tempo em que esclarece que ao fim da apuração, todas as providências cabíveis quanto às responsabilidades serão tomadas.
Afinal, a transparência nas ações e o zelo com os serviços sempre foram os nortes da direção da Serviços de Engenharia do Estado de Alagoas. A comissão será formada por três engenheiros-civis dos quadros da empresa e o resultado final deve ser divulgado na segunda-feira (21)”.