Com cadaminuto // emanuelle oliveira
As chuvas que atingiram o Rio de Janeiro e deixaram mais de 600 mortos e milhares de desabrigados fizeram as autoridades dos demais Estados entrar em estado de atenção, a exemplo de Alagoas que em junho de 2010 enfrentou uma situação parecida em 19 municípios, que ainda se recuperam das enchentes que devastaram cidades inteiras, a exemplo de Branquinha, onde inúmeras famílias continuam morando em barracas, aguardando a reconstrução das casas.
Diante disso, o Governo Federal vai implantar no Brasil um sistema nacional de prevenção e alerta de desastres naturais. Com isso, a partir da conjugação de dados meteorológicos e geofísicos, será possível dar o aviso para que as populações sejam retiradas das áreas de risco. O supercomputador Tupã terá condições de promover levantamento da incidência de chuvas, ampliando o nível de detalhamento para 5 km na América do Sul e 20 km para todo o globo.
Segundo o meteorologista da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luiz Carlos Molion vários aspectos contribuem para a destruição de cidades por conta da chuva. Ele lembrou quem em Alagoas, após levantamento, foi comprovado que as enchentes ocorreram não apenas devido à inundação no rio Paraíba e sim, ao rompimento de uma barragem em Bom Conselho, que fica em Pernambuco.
“Quando a barragem do açude da Nação, que tinha 600 milhões de metros cúbicos de água rompeu, causou inundações ao longo dos afluentes do rio. Por isso, o desastre não foi totalmente natural, embora o clima tenha contribuído, já que desde maio estava chovendo intensamente. Isso não acontece só aqui. Na Austrália um reservatório foi mantido cheio por receio de seca e para que não houvesse rompimento abriram as compotas, o que causou alagamentos”, explicou.
Em relação ao Plano nacional de prevenção e alerta de desastres naturais, Molion afirmou que não basta apenas colocar as ações no papel, destacando que no Nordeste deveria haver uma rede de monitoramento de tempo/clima, com meteorologistas e hidrólogos, além de investimento em pessoal qualificado para que o trabalho de prevenção de tragédias ocasionadas pela chuva seja efetivo.
“É fácil ter um supercomputador, o difícil é encontrar pessoas capacitadas para operá-lo. Na Secretaria do Meio Ambiente de Alagoas existe uma equipe que tem cargos comissionados, mas sempre que muda o governo os profissionais ficam sem saber se irão continuar os trabalhos. Na Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, por exemplo, há muitos problemas, mas chegaram recursos”, pontuou.
O meteorologista lembrou que Alagoas é um dos poucos locais que possui um radar, mas para prever chuvas de forma mais precisa seria necessário que Estados da costa leste, como Sergipe, Pernambuco, Paraíba e Natal também tivessem o equipamento, capaz de registrar a possibilidade de chuvas com 48 horas de antecedência, com 60% de confiabilidade.
“O radar existe em apenas oito cidades brasileiras, mas para uma cobertura adequada, com 24 horas de antecedência e 70% de precisão nas previsões seria necessária essa rede nos Estados. Na Ufal temos a recepção de imagens de satélite, através do qual vemos o deslocamento e crescimento de nuvens, mas com investimentos poderíamos dize precisamente onde iria chover com 2 ou 8 horas de antecedência”, informou.
No entanto, Molion ressaltou que se as autoridades não estiveram prontas para agir o trabalho da meteorologia não adiantará. De acordo com ele já houve reuniões com a Associação dos municípios alagoanos (AMA) para alertar sobre a necessidade da Defesa Civil ter os equipamentos necessários para agir, além de planos emegenciais que só existe em Maceió, Pilar e Atalaia.
“Quando chove nos demais municípios os prefeitos decretam estado de calamidade pública, mas para a liberação de verbas pelo governo é preciso relatórios e avaliação de danos. Juntos com o coronel Almeida e o coronel Denilson, da Defesa Civil de Maceió e do estado fizemos reuniões na AMA, mostrando que há possibilidades de chuvas são maiores entre janeiro e março, mas parece que os gestores não levaram a sério”, lamentou.
Ainda segundo o meteorologista os esforços maiores são feitos para salvar vidas, por isso é necessário que as pessoas que moram em áreas de risco saem quando começar a chover forte, lembrando que em Maceió existe um zoneamento para evitar tragédias e destruição, como a que ocorreu há dez anos no Litoral Norte e em 2004, quando houve tempestades severas no Estado. Além disso, ele destacou que na Zona da Mata a chuva já começou.
“Quando há uma tragédia como a do Rio de Janeiro o governo lança um plano de prevenção, mas se não houver um trabalho de meteorologistas e hidrólogos em cada estado de nada vai adiantar porque em São Paulo e Minas a chuva continua. As pessoas são orientadas, mas voltam a construir suas casas em grotas e barrancos. Em Palmeira dos Índios choveu granizo, por isso já deixamos a Defesa Civil em estado de atenção. Vamos monitorar o tempo e avisaremos diante de qualquer indício de chuvas fortes em Alagoas”, ressaltou.