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16/05/2010 00:00:00

Especiais

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Com o jornal-al // joão lyra

Criado nos Estados Unidos, nos anos oitenta, o crack é uma droga de fácil acesso no Brasil. Produzido a partir da pasta de cocaína misturada com outras substâncias, ele é sólido e pode ser fumado. Como é absorvida rapidamente pelos pulmões, a droga entra logo na corrente sanguínea e o efeito é instantâneo. Em até dez segundos, o sangue contaminado chega ao cérebro.

O crack surgiu oficialmente no Brasil em 1989 e, um ano depois, 380 mil pessoas já haviam experimentado a droga. Atualmente, estima-se que esse número pode ter chegado a 1,5 milhão, ou até a 2 milhões de usuários. Em face desse vertiginoso crescimento, especialistas consideram que o Brasil já vive uma verdadeira epidemia, com efeitos devastadores sobre a saúde dos usuários, atingindo, também, a organização de suas famílias. Embora essa droga seja muito usada por jovens e crianças de rua, filhos da alta classe média já aparecem entre seus maiores usuários — 40% do total.

Ainda no que diz respeito à saúde, a literatura médica assinala que o consumo do crack provoca mais de 50 problemas, envolvendo, principalmente, os sistemas nervoso e circulatório, os rins e os pulmões. A droga compromete, irreversivelmente, o funcionamento dos neurônios, o que atrapalha a cognição e a capacidade de concentração. Acelera o coração, causa arritmias e aumenta a pressão arterial. Com o tempo, o viciado pode sofrer um infarto do miocárdio e, em casos mais graves, uma parada cardíaca.

Pesquisa realizada em 2008 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com 270 “craqueiros”, descobriu que quase 50% dos usuários têm um parente ou um amigo que morreu assassinado. Entre os 270, 87% já se haviam envolvido em atos violentos, 62% tinham participado de roubos ou furtos e 48% estiveram presos. Todos relataram algum problema de saúde: doenças respiratórias (92%), doenças cardiovasculares (84%), déficit de memória (65%), paranóias e depressão (75%) e tentativas de suicídio (20%).

A avalanche do crack sobre a sociedade brasileira é visível, exigindo do governo federal e dos estados projetos e ações coordenadas, que não desperdicem os esforços desenvolvidos. Esforços que já consomem quase 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), sem resultados positivos. Ampliar a responsabilidade da Secretaria Nacional de Combate às Drogas (Senad) é uma exigência que se impõe para dar um basta ao avanço do crack. Mas, somente ampliar a responsabilidade da Senad é insuficiente, não surtirá os efeitos desejados. Melhor é fazer como determinou o presidente Barack Obama, reestruturando toda a política americana de combate às drogas, que, daqui em diante, passará a incluir o tratamento de questão como “tema de saúde pública”, porém aliando prevenção a uma forte e decidida repressão.

“O crack é invenção do diabo e o jovem incauto que se arrisca a experimentar essa droga está comprando um passaporte para o inferno”, na magistral definição do médico Dráuzio Varella.

João Lyra
Ex-deputado federal