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América Latina
27/10/2025 06:00:00

Investigação aponta reorganização do crime organizado na Colômbia com ligações internacionais

Novo relatório revela a atuação de uma facção que mistura tráfico, negócios legítimos e influência global, com líderes em Madri e Dubai

Investigação aponta reorganização do crime organizado na Colômbia com ligações internacionais

As forças de inteligência colombianas estão monitorando um grupo criminoso emergente denominado Nova Junta do Narcotráfico (NJN), que teria ressurgido após a queda de antigos cartéis.

Em um documento confidencial divulgado pelo EL PAÍS, o órgão de espionagem descreve essa organização como herdeira de um dos maiores exportadores de cocaína da história do país, com atuação em Dubai, México, Turquia e Espanha.

No relatório, os agentes destacam que os atuais chefes do NJN preferem manter perfis discretos, apresentando-se como gestores de negócios e não como criminosos tradicionais.

Alguns membros, segundo fontes de inteligência, atualmente residem na capital espanhola, Madrid, enquanto outros, como Julio Lozano Pirateque, conhecido como 'Patricia', vivem na Turquia.

Pirateque, ex-traficante ligado à indústria de esmeraldas desde jovem, afirma ter se desligado das atividades ilícitas e nega qualquer intenção de atacar o presidente Gustavo Petro.

A administração de Petro tem reforçado que o NJN constitui uma ameaça significativa à estabilidade interna do país.

O próprio chefe de Estado denuncia que a organização tem forte infiltração no Estado e exerce controle sobre diversos setores, incluindo o comércio de esmeraldas, o futebol e empresas de segurança privada. Na sua avaliação, a liderança do grupo está conectada a figuras que operam em diferentes países, uma rede que voltou a ganhar força após anos de fragmentação.

De acordo com o relatório 'traficantes invisíveis de drogas', o serviço de inteligência colombiano revela que o NJN é uma organização poderosa, considerada herdeira de um cartel histórico de cocaína.

Os líderes atuais preferem manter uma postura reservada, de modo a disfarçar sua influência. Dubai é apontada como um centro de coordenação remota, onde Pirateque teria estabelecido sua base, mas atualmente o foco está em Madri, onde alguns supostos traficantes operam com conexões internacionais.

Entre os principais nomes destacados, está Jorge González, conhecido como 'J. la Firma', residente na Espanha e atualmente sob investigação por tráfico de drogas naquele país. Ainda, há ligações com Alejandro Salgado Vega, apelidado de 'El Tigre', tido como um dos traficantes mais influentes na Espanha, que teria sido localizado em Dubai.

Outro nome importante é Rutdy Alirio Zárate, conhecido como 'Runcho', apontado como responsável pelo transporte de droga entre a Colômbia e a Europa. O documento também assinala que o NJN teria expandido suas operações para outros países, incluindo a Turquia, que se consolidou como um novo ponto de apoio, assim como o Equador, Bolívia, Paraguai, Venezuela e até a Austrália.

Grande parte das atividades ilegais do grupo estaria associada a negócios legítimos, como a exploração de esmeraldas, cujo valor de exportação atingiu US$ 127,5 milhões em 2024, conforme dados da Agência Nacional de Mineração.

Além disso, o relatório aponta que a organização utiliza setores como o futebol e empresas de segurança privada para lavar dinheiro e expandir sua influência. Fotos de dirigentes de clubes aparecem no documento, reforçando as suspeitas de envolvimento com atividades ilícitas.

A estrutura do NJN, que se adapta às mudanças do cenário criminal, é liderada por cinco estrategistas, incluindo Pirateque. Este ex-traficante afirma estar desligado do passado criminoso e rejeita qualquer tentativa de assassinato de Petro, reforçando que suas atividades atuais não envolvem violência.

Petro tem utilizado suas redes sociais para denunciar publicamente a existência do NJN, que segundo ele, possui forte infiltração no Estado e controla diversos setores econômicos, incluindo o tráfico de drogas. Apesar disso, muitos especialistas e autoridades têm questionado a validade das informações, já que a Procuradoria-Geral da Colômbia afirmou, em junho, que não existem provas concretas de sua existência.

Ainda assim, documentos de inteligência revelam possíveis ligações entre o grupo e figuras de diversos países, além de indicar uma rede global de tráfico que integra criminosos de várias nacionalidades.

O relatório sugere que o grupo estaria envolvido em assassinatos recentes, incluindo a morte de um milionário de esmeraldas no estado de Minas Gerais, em abril, embora não haja evidências de conspiração contra o presidente. Petro insiste que a ameaça de ataque contra sua vida existe e que o NJN estaria por trás de atentados, como o contra o candidato da oposição Miguel Uribe Turbay, em junho, embora fontes de inteligência não confirmem essa ligação.

A análise da inteligência colombiana retrata uma organização que, após a queda de seus antigos líderes há quinze anos, ressurgiu com força renovada, operando em diversos setores econômicos e políticos, com conexões que se estendem por vários continentes.

Desde Pablo Escobar, na década de 1980, até os atuais chefes, o narcotráfico na Colômbia evoluiu para uma rede fragmentada, dominada por vários grupos internacionais, tornando o combate ao crime cada vez mais difícil e complexo.