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29/08/2025 15:00:00

Vacina contra herpes-zóster pode proporcionar proteção cardiovascular, sugere pesquisa

Estudo revela que imunização pode diminuir incidência de infartos e AVCs

Vacina contra herpes-zóster pode proporcionar proteção cardiovascular, sugere pesquisa

Uma investigação internacional divulgada nesta quinta-feira (28) durante o Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2025) em Madri, revela que a vacinação contra o herpes-zóster — conhecido popularmente como cobreiro — pode estar ligada a uma redução significativa no risco de infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).

A pesquisa analisou quase 20 anos de dados coletados em vários estudos, indicando uma diminuição de 18% nos eventos cardiovasculares em adultos com mais de 18 anos e uma redução de 16% entre indivíduos acima de 50 anos.

Principais achados da pesquisa
A meta-análise, que abrangeu 19 estudos científicos (incluindo ensaios clínicos e investigações observacionais), é pioneira ao compilar evidências globais sobre os efeitos da vacina do herpes-zóster na saúde do coração.

Os pesquisadores envolvidos no estudo constataram que a administração da vacina — seja a versão recombinante ou a atenuada — está relacionada à diminuição de 1,2 a 2,2 eventos cardiovasculares a cada mil indivíduos vacinados anualmente. Em termos práticos, isso significa que, para cada mil pessoas vacinadas, entre 1 e 2 casos de infarto ou AVC são evitados a cada ano.

Embora os resultados sejam promissores, os autores do estudo enfatizam que a maioria das evidências provém de investigações observacionais, que podem apresentar viés. Portanto, apesar da associação observada, ainda não é possível afirmar que a vacina seja a responsável direta pela redução nos casos de infartos e AVCs.

Mecanismos envolvidos
De acordo com o infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), essa pesquisa reforça um conceito já reconhecido em relação a outras vacinas, como a da gripe:

“Infecções virais podem intensificar a resposta inflamatória do corpo, resultando em complicações cardiovasculares. Prevenir essas doenças é também uma forma de resguardar a saúde do coração.”
Segundo Kfouri, a inflamação provocada por vírus como o da gripe, coronavírus, vírus sincicial respiratório e o herpes-zóster pode desestabilizar placas de gordura nas artérias, favorecendo seu desprendimento e levando a eventos graves como infartos e AVCs.

Apesar disso, Kfouri ressalta: “É necessário considerar que este é um estudo financiado pelo fabricante da vacina, o que demanda uma análise crítica. Contudo, é um dado relevante que reforça a visão de que a vacinação é uma parte integral da estratégia de prevenção cardiovascular.”

Contexto no Brasil
Atualmente, a vacina contra o herpes-zóster está disponível no Brasil apenas nas clínicas privadas. A SBIm recomenda sua aplicação de forma rotineira a partir dos 60 anos, considerando a vacinação a partir dos 50 anos para grupos em risco. Para indivíduos imunocomprometidos — como transplantados, pacientes em diálise ou que utilizam imunossupressores — a recomendação pode iniciar aos 18 anos.

A inclusão da vacina no Programa Nacional de Imunizações (PNI) ainda não possui uma previsão. “É uma vacina cara e, se for introduzida, provavelmente começará pelos grupos mais vulneráveis, como os imunossuprimidos e idosos”, explica Kfouri.

Relevância do tema
As doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte global, contabilizando mais de 3 milhões de óbitos anualmente, conforme dados da Sociedade Europeia de Cardiologia.

A entidade divulgou em 2025 um consenso clínico que defende que as vacinas sejam reconhecidas como o “quarto pilar” da prevenção cardiovascular, ao lado de medicamentos para hipertensão, controle do colesterol e diabetes.