O Ministério da Saúde de Gaza informou nesta quarta-feira (27) que dez pessoas, incluindo duas crianças, morreram nas últimas 24 horas em decorrência de fome e desnutrição. O número de vítimas fatais relacionadas à escassez de alimentos chegou a 313, sendo 119 delas crianças.
Além das mortes por fome, as forças israelenses mataram 37 palestinos desde o amanhecer, entre os quais oito aguardavam ajuda humanitária. O aumento dos óbitos por fome atribuída ao bloqueio israelense ocorre enquanto Tel Aviv pressiona pela retratação de um relatório da Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), entidade apoiada pela ONU, que declarou oficialmente a existência de fome em Gaza no último dia 22.
Segundo o jornalista Tareq Abu Azzoum, da Al Jazeera, famílias palestinas têm deixado de comer para tentar salvar os filhos. A pouca comida que entra no território chega de forma desordenada e sem segurança. “As entregas são frequentemente saqueadas por multidões famintas e por grupos armados. Israel obriga motoristas de caminhões de ajuda a seguir rotas que os expõem a saques. Armazéns da ONU estão vazios porque os caminhões não conseguem chegar em segurança”, relatou.
Ele acrescenta que Israel tem liberado a entrada de caminhões comerciais, protegidos por segurança privada, para abastecer os mercados locais. Isso cria a impressão de abundância de produtos, mas grande parte da população não tem condições financeiras de comprá-los. “Por isso, milhares continuam a enfrentar longas jornadas até os centros de ajuda humanitária no centro e sul de Gaza. É por isso que vemos mortes diárias por desnutrição severa”, disse.
Em pronunciamento no Conselho de Segurança da ONU, a CEO da Save the Children International, Inger Ashing, relatou que as clínicas da ONG estão lotadas, mas silenciosas: “As crianças não têm forças para falar ou chorar de dor. Estão deitadas, magras, definhando, dominadas pela fome e pela doença, sem acesso a suprimentos médicos e nutricionais essenciais, que estão esgotados. A poucos quilômetros, há milhares de caminhões cheios de itens vitais bloqueados.”
Ashing afirmou ainda que, recentemente, mais crianças passaram a expressar desejo de morrer. “Uma delas escreveu: ‘Eu gostaria de estar no céu, onde minha mãe está. No céu, há amor. Há comida e água.’”
Israel nega fome
O governo israelense rejeita o relatório da IPC, alegando que ele contém informações falsas e politização. A ONU, no entanto, declarou oficialmente a situação de fome em Gaza, responsabilizando o bloqueio imposto por Israel, que limita a entrada de ajuda humanitária.
A IPC estima que a fome atinge 500 mil pessoas e pode se expandir rapidamente. Para alimentar a população de 2,4 milhões de palestinos em Gaza, seriam necessários 600 caminhões de mantimentos por dia, mas Israel libera menos de 100.
Além disso, Israel impede a entrada de 430 produtos alimentícios e nutricionais, entre eles ovos, carnes, aves, peixes, laticínios, frutas, verduras, nozes e suplementos destinados a gestantes e pacientes em estado grave.