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Guerra
22/08/2025 04:00:00

O que há em Donbass, chave no debate sobre guerra na Ucrânia

O que há em Donbass, chave no debate sobre guerra na Ucrânia

Relatos ainda não confirmados na imprensa internacional levantaram polêmica nos Estados Unidos e na Europa: em encontro no Alasca, Vladimir Putin e Donald Trump teriam discutido a possibilidade de a Ucrânia ceder Donetsk e Lugansk à Rússia. A exigência de Moscou seria a retirada total das tropas ucranianas do Donbass, em troca da suspensão dos ataques em outras frentes, especialmente nas regiões de Kherson e Zaporíjia, onde também há presença militar russa.

Donetsk e Lugansk: território ucraniano com forte ligação russa
Putin insiste na relevância histórica e cultural do Donbass para a Rússia, evocando vínculos que remontam ao período czarista e à era soviética. Contudo, pela Constituição, a região sempre fez parte da Ucrânia, desde a fundação da República Socialista Soviética da Ucrânia em 1919. Diferente da Crimeia, que foi transferida da Rússia para a Ucrânia em 1954 por Nikita Khrushchev, Donetsk e Lugansk nunca pertenceram oficialmente ao território russo.

Ao longo do século 19 e depois na União Soviética, a região se consolidou como centro industrial, atraindo trabalhadores de diversas partes, especialmente da Rússia. Essa migração moldou um perfil populacional majoritariamente de língua russa, mantendo a região mais próxima de Moscou, mesmo quando o oeste ucraniano buscava laços com a União Europeia. Não por acaso, o ex-presidente Viktor Yanukovych, aliado do Kremlin, era natural de Donetsk e tinha ali sua principal base de apoio.

Conflito desde 2014
A queda de Yanukovych após a Revolução da Maidan transformou o Donbass em foco de tensões. Com a anexação da Crimeia pela Rússia e a ascensão de grupos separatistas, surgiram as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, apoiadas militarmente por Moscou. Ainda assim, a guerra separatista não conquistou amplo respaldo popular. Em 2019, Volodimir Zelenski foi eleito presidente com apoio expressivo inclusive no leste do país, defendendo a soberania ucraniana sem abrir mão de buscar o fim do conflito.

Em fevereiro de 2022, a invasão em grande escala da Ucrânia teve no Donbass uma das justificativas centrais de Putin, que alegou proteger a população de língua russa de um suposto genocídio – acusações sem fundamento comprovado. Hoje, quase toda a região de Lugansk e cerca de 70% de Donetsk estão ocupadas pelas forças russas, o que representa aproximadamente 88% do Donbass. Mais de quatro milhões de pessoas vivem nessas áreas, que concentram carvão, minério, além de reservas estratégicas de lítio, cobalto, titânio e terras raras.

Valor estratégico e militar
A relevância da região vai além da indústria pesada e dos recursos minerais. Para a Rússia, controlar Donbass significa consolidar uma conexão terrestre com a Crimeia, ligando a península ao território russo e restringindo o acesso da Ucrânia ao Mar de Azov. Já para Kiev, a região abriga o cinturão fortificado de defesa, composto por cidades estratégicas como Kramatorsk, Slavyansk e Kostyantynivka, fundamentais para conter avanços em direção ao centro do país. Sem essa linha de contenção, as planícies ucranianas ficariam expostas a novas ofensivas russas.

Desafios políticos e populares
Mesmo diante de pressões externas, Zelenski não pode abrir mão do Donbass. A Constituição ucraniana impede qualquer cessão de território, e a população também rejeita essa possibilidade: pesquisa do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev indica que 75% dos cidadãos são contrários a entregar áreas à Rússia. Assim, a disputa em torno do Donbass segue como ponto central e inegociável na guerra da Ucrânia.