A imprensa francesa aborda assuntos distintos nesta sexta-feira (5): o Le Figaro comenta a presença do Hezbollah (organização política e paramilitar fundamentalista islâmica considerada terrorista pelos EUA) no Brasil, enquanto o Le Monde avalia a lei que facilita o uso de agrotóxicos em lavouras brasileiras.
O jornal Le Figaro destaca operações realizadas pela Polícia Federal do Brasil em novembro passado, que rastrearam uma célula do Hezbollah que tentava recrutar brasileiros. A ação do grupo islâmico reacende os temores da presença de uma milícia xiita no maior país da América Latina, aponta o jornal. Na época, três suspeitos foral deitodos pela PF em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O Figaro descreve o modus operandi do aliciamento feito pelos fundamentalistas, que chegam a levar brasileiros para o Líbano com despesas de luxo pagas para terem reuniões com "chefes". O perfil buscado pelo Hezbollah no Brasil é de pessoas com histórico de crimes violentos e tráfico de drogas, mas não necessariamente com vínculos ideológicos, religiosos ou políticos e, sim, motivados por dinheiro.
Para o diário, o grupo islâmico tenta estender uma rede secreta ao redor do mundo, com células adormecidas prontas para agir principalmente na região da "tríplice fronteira", que abrange o Paraguai, o Brasil e a Argentina.
No jornal Le Monde, uma reportagem de página inteira analisa a aprovação da lei apelidada de "pacote do veneno" favorável ao uso de pesticidas no Brasil. O texto detalha que a lei, sancionada em 28 de dezembro pelo presidente Lula, acontece contraditoriamente em um momento global em que "Luiz Inácio Lula da Silva se tornou uma das principais figuras internacionais na defesa do meio ambiente”, principalmente durante a COP28 em Dubai, em dezembro, onde defendeu a agricultura sustentável.
A reportagem destaca que o Brasil já consome quase 20% de todos os pesticidas comercializados no mundo, conforme a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. E explica que a partir de sua aplicação, a nova lei vai permitir que os processos de aprovação de novos agrotóxicos sejam mais rápidos, podendo ser concluídos em um prazo máximo de dois anos, em comparação com a média atual de dez a 20 anos.
Outra contradição enfatizada no texto é que mesmo durante o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (entre 2019-2022), que era próximo ao agronegócio, mas que não chegou a aprovar a lei. Para o Le Monde, o governo brasileiro usou a lei dos agrotóxicos como um meio de obter o apoio de deputados do agronegócio para a reforma de um artigo da Constituição que limita os gastos públicos.
RFI