22/09/2025 21:52:22
Blog: O Acendedor de Lampiões
Há 14 horas

Sequelas permanentes afetam um terço dos motociclistas vítimas de acidentes de trânsito

Sequelas permanentes afetam um terço dos motociclistas vítimas de acidentes de trânsito

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) revelou que cerca de um terço das vítimas de acidentes envolvendo motocicletas atendidas nos principais serviços de ortopedia do país fica com sequelas permanentes. A pesquisa ouviu 95 chefes e preceptores de residências médicas credenciadas pela entidade.

De acordo com o estudo, em média, 360 vítimas de acidentes chegam mensalmente aos serviços analisados — o equivalente a mais de dez pacientes por dia. Dois terços dessas pessoas eram motociclistas. Após a alta hospitalar, 56,7% apresentaram pequenas sequelas e 33,9% ficaram com limitações definitivas.

Entre as principais consequências, 82% relataram dor crônica, 69,5% desenvolveram deformidades, 67,4% tiveram déficit motor e 35,8% sofreram amputações. O estudo foi apresentado durante fórum realizado na Câmara dos Deputados como parte da campanha “Na moto, na moral”, que busca reduzir mortes e ferimentos no trânsito.

O presidente da SBOT, Paulo Lobo, classificou a situação como uma “epidemia de sinistros com motos” e destacou que, apesar de o veículo representar sustento para muitos brasileiros, é necessário avançar em medidas de prevenção.

O drama da auxiliar administrativa Jéssica Santos, de 29 anos, ilustra a gravidade do problema. Em novembro do ano passado, ela voltava de uma festa no Rio de Janeiro quando sofreu uma colisão frontal entre duas motos. Lançada ao asfalto, teve múltiplas fraturas, passou por cirurgias e, quase um ano depois, ainda não recuperou totalmente os movimentos da mão esquerda e convive com dores na bacia e uma colostomia provisória.

O perfil das vítimas traçado pela pesquisa mostra que 72,8% são homens, 40,7% têm entre 20 e 29 anos, e 29,2% haviam consumido álcool. A maioria dos acidentes ocorreu em colisões com automóveis (47,1%) ou quedas (44,5%).

A demanda sobrecarrega os hospitais. Em média, os serviços realizam por mês 45 cirurgias de baixa complexidade, 58 de média e 43 de alta em vítimas de acidentes com motos. Isso tem levado ao adiamento de até 18 cirurgias eletivas por mês e até oito de emergência, para priorizar casos mais graves.

As lesões mais comuns atingem membros inferiores (51,4%), mas também afetam membros superiores (22,8%) e coluna vertebral (22,8%). Com ferimentos expostos, 6,5% desenvolvem infecções pós-operatórias e 12,9% precisam ser reinternados.

Entre as propostas discutidas está o programa nacional de segurança de motociclistas, em elaboração pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Um projeto experimental de faixas exclusivas para motos já está em teste em São Paulo, Santo André, São Bernardo do Campo, Salvador e Recife.

Representantes da saúde defenderam medidas como redução de incentivos fiscais à produção de motos e facilitação do acesso à habilitação. Já sindicatos cobram campanhas massivas de conscientização e mais garantias trabalhistas para motociclistas de aplicativos.

Para o diretor do Sindmoto-RJ, Marcelo Matos, a precarização agrava o problema: “Hoje você vê jovens trabalhando de chinelo, sem habilitação, com contas falsas. Os hospitais estão lotados de acidentados, e as empresas não se responsabilizam. O resultado são famílias sobrecarregadas e uma geração de motociclistas com sequelas permanentes.”



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