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A exemplo de dezenas de cidades do interior nordestino, a comunidade católica de União dos Palmares com destaque os adeptos do padre Cícero Romão Batista deram seqüência na manhã desta segunda feira (20), as comemorações do 75º aniversário da morte do religioso cearense, iniciadas em União dos Palmares no dia de ontem (19) quando o prefeito do município bacharel Areski Freitas participou de uma procissão entre a Avenida João Lyra Filho, (principal acesso viário a cidade pela BR-104) até a praça Padre Cícero onde repousa a estátua do padre, que foi carregada pelos fieis até o local de exposição do “santo milagreiro” na crença da maioria dos nordestinos.
A Praça Padre Cícero que se localiza no conjunto habitacional Bairro de Fátima, no cento comercial da cidade, abriga uma capela que foi construída na década de 70 no primeiro governo do ex-prefeito Afrânio Vergetti. Desde então, passou por várias reformas, a ultima pela atual administração municipal que pretendia implantar no local um “jardim de frutos tropicais”, cuja ação foi durante criticada pelos opositores do prefeito Areski Freitas.
O logradouro, cujas obras da pretensa recuperação foram iniciadas sem que houvesse planejamento e tempo hábil para sua conclusão inicialmente prevista para este dia 20, e que contou também como adversário o rigor do inverno, foi visitada por cerca de cinco mil pessoas na manhã desta segunda feira que louvaram o padre católico e assistiram uma missa celebrada pelos padres Iranjunio e Francisco (da paróquia local) e Guimarães da paróquia de Murici. Apesar da intermitência da chuva, os fieis prestigiaram o ato religioso cujo inicio foi as 9,00h e se estendeu até por volta das 11,20h.
Leia, a seguir, um pequeno histórico do mito religioso natural do Ceará:
Cícero Romão Batista nasceu no Crato em 24 de março de 1844 e faleceu em Juazeiro do Norte em 20 de julho de 1934.
É conhecido como Padre Cícero, ou, mais coloquialmente, Padim Ciço.
Iniciou a carreira eclesiástica em 1865, no Seminário da Prainha, em Fortaleza; ordenou-se padre em 1870.
Em 1872, foi nomeada vigário de Juazeiro do Norte, então um pequeno povoado na região do semi-árido cearense; angariou fundos para a construção de uma igreja e passou a desenvolver intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares.
Em 1889, durante uma comunhão, a hóstia consagrada por ele sangrou na boca de uma beata chamada Maria de Araújo. O povo considerou o fato um milagre; as toalhas utilizadas para limpar o sangue tornaram-se objetos de adoração; a notícia espalhou-se, e Juazeiro começou a ser visitada por peregrinos, interessadas nos poderes do Padre.
Cícero foi acusado por membros do Vaticano de mistificação (manipulação da crença popular) e heresia (desrespeito às normas canônicas); em 1894, foi punido com a suspensão da ordem. Por todo o restante da vida, Cícero tentou, em vão, revogar a pena. Em 1898, foi a Roma e encontrou-se com o Papa Leão XIII, que lhe concedeu indulto parcial, mas manteve a proibição de celebrar missas; apesar da proibição, Cícero jamais deixou de celebrar missas em sua igreja em Juazeiro.
Cícero valeu-se do enorme prestígio entre os fiéis para ingressar na carreira política. Em 1911, com a emancipação de Juazeiro, elegeu-se Prefeito e ocupou o cargo por quinze anos; Cícero engajou-se tanto nas disputas políticas entre os oligarcas cearenses que acabou por ver-se na situação de enfrentar tropas federais, enviadas para uma intervenção. Cícero usou sua popularidade para convencer os fiéis a pegar em armas, e obrigou o governo federal a recuar da intervenção.
Posteriormente, foi nomeado vice-governador do Ceará e eleito Deputado Federal, mas, como não queria deixar Juazeiro, jamais exerceu nenhum desses cargos.
Até sua morte, aos 90 anos, foi uma das mais expressivas figuras políticas do Estado.
Após sua morte, sua fama e seus feitos foram divulgados entre as camadas populares, não raramente com certo exagero dos poetas populares. Embora ainda banido pela Igreja, tornou-se, de fato, um santo entre os sertanejos.
No final do século 20, o Papa Bento XVI, quando ainda era Cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma, propôs um estudo sobre o Padre Cícero com a finalidade de, possivelmente, reabilitá-lo perante a Igreja Católica e, eventualmente, beatificá-lo.
No dia 22 de março de 2001, Padre Cícero foi eleito o Cearense do Século, em pesquisa organizada pela Rede Globo e TV Verdes Mares.