“As pessoas roubam descaradamente”. Assim, o superintendente da Polícia Federal em Alagoas José Pinto de Luna se refere a alguns prefeitos de Alagoas que cometem irregularidades com o dinheiro público. Com muitas denúncias anônimas em mãos, chegadas dos mais variados municípios, Luna diz que é preciso cautela já que, por se tratar de um ano eleitoral, muita coisa pode ser jogada política para desestabilizar candidaturas. Ele afirma que o objetivo da PF não é interferir no resultado das eleições e sim, apurar denúncias consistentes.
“O que eu posso dizer é que não chegou um elogio a um prefeito, só chegam denúncias. Se não chegou de todo o estado ainda falta pouco. Os prefeitos aqui pensam que o Fundo de Participação dos Municípios e as verbas federais são salários deles, mas não são. Eles têm que prestar conta e fazem isso com nota fria. Aí, todo mundo fala que isso é normal. Muita gente fala que o trabalho da Polícia Federal é só fogo de palha, mas não é, a gente está fazendo um trabalho efetivo”, afrimou o delegado.
Atualmente, há 40 inquéritos instaurados na Polícia Federal que apuram irregularidades em prefeituras de Alagoas, além da inúmera quantidade de denúncias que ainda será apurada. Atalaia, Barra de Santo Antônio, Maceió, São José da Laje, Tanque D’Arca, Santa Luzia do Norte, Anadia, Belém, Campestre, Canapi, Capela, Coqueiro Seco, Dois Riachos, Igaci, Flexeiras, Igreja Nova, Jacuípe, Jundiá e Santana do Mundaú são algumas das cidades onde foram detectadas irregularidades praticadas pelos gestores municipais. O superintendente da PF explica que, em alguns casos, as fraudes foram detectadas em gestões de anos anteriores. “Prefeitos dessas administrações e de passadas estão nessa lista. Temos 40 inquéritos, mas se aprofundarmos teremos outros”, observou Luna. Em relação a Maceió, existem três inquéritos instaurados, todos por desvio de verbas federais.
“Temos que fazer com que essa lista diminua. Mas, isso não é apenas em Alagoas, temos que frisar isso. Em Minas Gerais teve uma operação nesse sentido e você viu quantos prefeitos foram presos. Vemos crianças sem transporte escolar, mas a verba veio. Eu não estou falando nada que o povo não saiba, mas a gente tem que insistir, ficar enchendo o saco para o povo ver que a gente vai ficar perturbando. Eu gostaria que alguém dissesse que o prefeito é bom maravilhoso, que eu seria fã dessa pessoa”, disse Luna.
Sobre as declarações do prefeito Cícero Almeida, que disse ter retirado um empréstimo para o deputado Francisco Tenório, Luna destacou que isso soou como uma “desculpa prévia”, fazendo uma relação com alguém que se defende, antes mesmo de ser acusado formalmente.
Luna diz que fatos semelhantes aos descobertos com a Operação Taturana podem acontecer em outras esferas como o Tribunal de Justiça, Ministério Público e órgãos do governo do estado e da prefeitura, mas é preciso que esses setores realizem auditorias internas para que as fraudes sejam descobertas.
“Temos o exemplo do Executivo, no caso da Secretaria de Gestão Pública. O Adriano Soares fez um trabalho muito bom. Ele nos trouxe um bom material e vamos instaurar um inquérito. É uma coisa que já nasceu grande. Temos todos os relatórios que vão servir para a instauração do inquérito para apurar as irresponsabilidades. Agora, se temos os outros poderes envolvidos na Taturana, acho que não, se não seria ‘Taturana 2, a missão’. Mas, que deve haver irregularidades deve sim”, suspeita Luna.
Luna disse que não está sendo pressionado para deixar o estado, mas avisou que continua no cargo até janeiro de 2009. Ele afirmou que “em mais oito meses há ainda muita coisa para ser feita” e que a PF não sofre nenhum tipo de ingerência política. “Não sirvo a ninguém, faço o meu papel. Vão ter que me agüentar ainda alguns meses”, frisou.
A Polícia Federal divulgou o calendário dos próximos depoimentos dos envolvidos na Operação Taturana, a expectativa é que todos que estão na lista sejam indiciados:
com alemtemporeal // teresa cristina