No Dia Mundial da Saúde Mental, comemorado em 10 de outubro de 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa divulgou dados preocupantes sobre a saúde mental de profissionais de saúde.
Uma pesquisa do escritório da OMS na região revelou que aproximadamente um em cada três trabalhadores da área médica e de enfermagem enfrenta quadros de depressão ou ansiedade.
O estudo intitulado "A Saúde Mental de Médicos e Enfermeiros" demonstrou ainda que 10% desses profissionais passaram por episódios de violência física ou assédio sexual, enquanto uma parcela equivalente chegou a pensar em suicídio pouco antes de participar da pesquisa.
Segundo a análise, o impacto de anos de subfinanciamento do sistema de saúde europeu reflete-se diretamente na saúde mental desses trabalhadores. Os resultados indicam que um em cada três profissionais sofreu bullying ou intimidação nos últimos 12 meses, além de 10% relatarem episódios de violência ou abuso.
A pesquisa abrangeu mais de 90 mil respostas de profissionais de saúde de 27 países da União Europeia, além da Islândia e Noruega. Entre as condições identificadas, destacam-se transtornos de saúde mental, deficiências psicossociais e estados associados a sofrimento intenso, comprometimento funcional ou risco de autolesão. Dados globais de 2019 apontaram que quase 970 milhões de pessoas sofriam de algum transtorno mental, com ansiedade e depressão sendo as condições mais comuns. Essas condições podem afetar significativamente a vida social, familiar, acadêmica e profissional, bem como levar a mortes precoces — de 10 a 20 anos antes da expectativa média da população geral. Por outro lado, quem enfrenta problemas de saúde mental também apresenta maior risco de suicídio e de violação de seus direitos humanos. Além do impacto pessoal, as consequências econômicas incluem perdas de produtividade que superam os custos diretos do tratamento.
A Organização Mundial da Saúde reforça que as condições de trabalho, como longas jornadas, turnos noturnos e exposição a agressões, aumentam em dobro a probabilidade de desenvolver quadros de depressão, ansiedade ou pensamentos suicidas entre profissionais de saúde, em comparação com a população em geral. Hans Henri P. Kluge, diretor regional da OMS na Europa, enfatizou que "o resultado da pesquisa serve como um alerta contundente de que os sistemas de saúde europeus estão tão vulneráveis quanto aqueles que os sustentam".
Ele destacou a necessidade de ações imediatas, incluindo o combate absoluto à violência e ao assédio, reformulação de turnos e redução de horas extras, além de investimentos em tecnologia, contratação estratégica e apoio psicológico confidencial e livre de estigmas.
Apesar do cansaço e do sofrimento psicológico, muitos profissionais continuam motivados por um forte senso de missão. Três em cada quatro médicos e dois em cada três enfermeiros relatam encontrar satisfação e propósito em suas funções. Médica francesa, Melanie Debarreix, residente em radiologia, comentou que "a exaustão física e mental dos médicos pode levar a erros médicos, e essas condições têm um impacto devastador na saúde mental dos profissionais".
Ela revelou que 66% dos estudantes de medicina na França já viveram episódios depressivos, e 21% tiveram pensamentos suicidas no último ano. O relatório também reforça que o sofrimento psicológico dos profissionais de saúde gera consequências diretas na qualidade do atendimento e na operação dos sistemas de saúde.
Em certos países, até 40% dos trabalhadores com sintomas depressivos solicitaram licença médica no último ano, enquanto entre 11% e 34% consideram abandonar a profissão. Essa rotatividade evidencia uma escassez crescente de profissionais, o que aumenta o tempo de espera, reduz a qualidade dos cuidados e intensifica a pressão sobre os sistemas públicos. Estima-se que, se as ações necessárias não forem tomadas, a Euro
pa enfrentará a ausência de aproximadamente 940 mil profissionais de saúde até 2030. Para evitar esse cenário, a OMS recomenda sete medidas urgentes: implementação de tolerância zero à violência, aprimoramento da gestão de turnos, controle das horas extras, diminuição das cargas horárias, capacitação de líderes, ampliação do acesso a suporte psicológico e monitoramento contínuo do bem-estar do pessoal.
Kluge concluiu que "com a previsão de perder quase um milhão de profissionais de saúde na Europa até 2030, não podemos permitir que o burnout, o desespero ou a violência destruam essa força vital".