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Especial
11/09/2022 15:00:00

Mais de 400 pessoas estão na fila de espera por um órgão em AL; transplantados falam sobre mudança de vida

Mais de 400 pessoas estão na fila de espera por um órgão em AL; transplantados falam sobre mudança de vida

O Brasil registrou uma queda no número de cirurgias de transplantes de órgãos e tecidos durante a pandemia, de acordo com o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). Neste mês, a campanha Setembro Verde busca conscientizar sobre a importância da doação.

Em 2022, até o mês de agosto, Alagoas realizou 66 transplantes de órgãos, sendo 55 de córneas, cinco de fígado e seis de rim, segundo dados da Secretaria de Estadual de Saúde (Sesau). O número permaneceu semelhante ao mesmo período do ano passado, quando foram realizadas 65 doações, 62 de córneas e três de fígados.

Atualmente, o estado ainda possui uma longa fila de espera. Há 410 pessoas aguardando por um transplante de córnea, 58 por rins, nove por fígado e três por coração. Ao todo, são 480 alagoanos esperando por um órgão.

Ao CadaMinuto, a coordenadora da Central de Transplantes do Estado, Daniela Ramos, informa que a pandemia dificultou o transplante de órgãos. Ela explica que a Covid complicou a realização do diagnóstico de morte encefálica, que se permite a doação de múltiplos órgãos.

“A possibilidade de receber a doação de órgãos é que o paciente tenha confirmada a morte encefálica. Uma vez comprovada a morte, a família tem o direito de autorizar ou não a doação e assim poder salvar tantas outras vidas”, explica.

No entanto, Daniela ressalta a importância de informar aos familiares o desejo de ser doador de órgãos, uma vez que o  art. 14 do Código Civil, determina que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familiares. 

“Hoje no Brasil a legislação não permite que deixe nada por escrito, em documentos. Então é muito importante conversar com seus familiares, falar sobre a sua intenção de continuar sendo um doador de órgãos e poder salvar outras vidas", reforça. 

A coordenadora também lembra que com a doação, “pessoas podem ser salvas ou terem a melhor qualidade de vida”. 

Mudança de vida

Quem já esteve na fila para o transplante de córnea é Klemerson Lins, de 22 anos. Ele contou ao Cada Minuto que esperou pelo transplante de córnea por cerca de um ano. 

“Eu estava no casamento do meu primo e quando saí notei algo atrapalhando a minha visão, como se tivesse barrando. Eu não estava enxergando legal, estava ficando agoniado, era aquele negócio irritante que não me deixava enxergar”, relata o jovem. 

Ele conta que não chegou a perder a visão, mas apresentou carne viva no olho. “Eu não conseguia nem abrir os olhos, então fui enviado ao Hospital Universitário e foi onde graças a Deus eu fui acolhido”, relata Klemerson. 

De acordo com o jovem, ao ser avaliado pela médica, recebeu a notícia que seu caso era delicado e precisaria realizar transplante de córnea. Klemerson relata que após a realização do procedimento, já começou a perceber mudanças positivas em seu cotidiano. 

“Quando eu andava na rua, algumas pessoas falavam comigo e eu respondia, mas não sabia quem que era a pessoa que falou porque eu não enxergava. Hoje com o transplante, graças a Deus tem melhorado a cada dia”, comemora.

Resgate da autoestima

O transplante de córnea ajudou Klemerson não somente a ter qualidade de vida, mas também em recuperar sua autoestima. 

Eu ficava limitado para falar ou para interagir com as pessoas, também pra estudar e pra muitas coisas. Eu tinha perdido a minha autoestima e pós-cirurgia, pós-transplante, aquela autoestima voltou, eu pude voltar a tirar uma foto, uma selfie, olhar pra si mesmo e se agradar com o que está vendo”, conclui.

Uma espera de quase quatro anos

O alagoano Jorge Ricardo, de 57 anos, conta que desde 2018 aguardava para realizar um transplante de fígado, devido a uma doença descoberta oito anos antes. “Mas recebi apenas em 2021. Fiquei cerca de quatro anos esperando”.

“Em 2010 descobri que tinha hepatite B, um vírus no fígado. Na época, eu era doador de sangue e a cada quatro ou seis meses eu doava. Então, através de um exame que fiz nessa época descobri que estava com um problema no sangue”, afirma.

Ele relata que após descobrir que seria necessário fazer o transplante, sua médica o encaminhou para esperar o órgão em Recife. “Depois, fui para a fila de João Pessoa, mas não chegou um fígado em nenhum dos dois lugares. Foi quando vim para a fila de Maceió e consegui o órgão após mais 5 meses de espera”.

Jorge explica que depois do transplante tudo mudou em sua vida. “Em várias áreas, psicológica e mental. Melhorou minha qualidade de vida, sono, a minha alimentação hoje é outra, mais saudável. Há um ano e quatro meses que recebi o transporte de fígado e muito já mudou”.

“Ainda existem coisas que não posso fazer e que deve melhorar quando fizer dois anos. Mas já houveram grandes melhorias. Felizmente, até agora, meu corpo não rejeitou o órgão e está reagindo bem”, comemora.

cada minuto