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Saúde
11/07/2022 11:00:00

Médicos alertam para risco de Doenças de Transmissão Hídricas em pessoas que tiveram contato com água das enchentes

Médicos alertam para risco de Doenças de Transmissão Hídricas em pessoas que tiveram contato com água das enchentes

Doenças de Transmissão Hídrica (DTHA), como o próprio nome sugere, são aquelas em que a água é o principal veículo de transmissão. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), existem mais de 250 tipos de DTHA no mundo, entre as mais comuns no Brasil estão a hepatite infecciosa (Hepatite A e E), cólera, leptospirose, amebíase e doenças gastrintestinais. 

Além das vidas perdidas e todos os prejuízos materiais, as chuvas que atingiram fortemente Alagoas desde a segunda metade do mês de maio, causando enchentes e alagamentos em várias cidades, trouxeram mais essa preocupação: a contaminação por essas doenças.

Ainda segundo o MS, é considerado surto de DTHA quando duas ou mais pessoas apresentam doença ou sintomas semelhantes após ingerirem alimentos e/ou água de um mesmo local. No casos de doenças mais graves, como a cólera, com a confirmação de apenas um caso já é considerado surto. 

Esse tipo de doença é considerado um problema na saúde pública e está relacionado a outros fatores como o abastecimento de água tratada, saneamento básico, descarte inadequado de lixo e dejetos, alta densidade populacional e problemas na infraestrutura. 

Aumento de casos em AL

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau/AL), o número de casos de Doença Diarreica Aguda (DDA) registrados em Alagoas em 2021, durante a Semana Epidemiológica (SE) 01 e SE 26, foram 31.142. Já em 2022, este número saltou para 41.688 casos no mesmo período. 

Dos registros de DDA neste ano, somente no período das chuvas, entre a SE 18 e SE 26, foram confirmados 17.040 casos, o que representa 40,88% do total. 

Já a Leptospirose, doença considerada mais grave pelos infectologistas,  teve um aumento de 56,25% dos casos, com 32 em 2021 e 50 em 2022, dos quais 29 foram registrados no período das chuvas.

A secretaria informa que formula um plano de contingência para este período de chuvas e enchentes, que está em fase de conclusão da parte da assistência à saúde.

Leptospirose

Fernando Maia

O infectologista Fernando Maia explica que a principal doença transmitida através da água no contexto atual das chuvas que atingem o estado é a leptospirose, que se contrai por contato direto com a água da enchente, da inundação e também com a lama úmida que fica após a após a inundação, após a enchente. 

A leptospirose é transmitida através do contato prolongado com a água contaminada, pois a doença é capaz de atravessar a barreira da pele, especialmente se ela apresentar lesões, destaca a médica infectologista Mardjane Lemos. 

“Não é uma transmissão que ocorre no contato raro, mas caso a pessoa fique durante vários minutos ou horas em contato com a água que contém leptospirose eliminada pela urina de animais, não só de roedores, mas de de cachorros, de animais maiores, animais silvestres, pode haver infecção”, exemplifica a especialista. 

Doenças gastrintestinais também são comuns nesse período, como a salmonela, a diarreia bacteriana, que pode ser transmitida pelo consumo da água, alimentos ou fezes contaminadas por uma bactéria da família Shigella, e a diarreia viral, causada por vírus, como o rotavírus. 

Sintomas

Em mais de 90% dos pacientes infectados pela leptospirose os sintomas mais comuns são febre, dor no corpo e dor na cabeça, que se apresentam de forma leve.

No entanto, Fernando Maia alerta que algumas pessoas podem ter a forma grave da doença que, além dos sintomas citados, pode ter icterícia, que é quando a pele e os olhos ficam amarelos e insuficiência renal. Outra complicação da doença, que pode levar a pessoa à morte, é o sangramento pulmonar ou sangramento digestivo. 

A médica infectologista reforça que é importante chamar atenção para as pessoas que tiveram contato prolongado com água das enchentes, para que procurem atendimento médico ao primeiro sinal de febre. No caso das doenças gastrintestinais, é preciso atenção para sintomas como vômito, diarreias, e dor abdominal.

 

Além disso, Mardjane lembra que, como muitas pessoas perdem suas casas e precisam ficar abrigadas em escolas ou outros locais cedidos pelas prefeituras, há o risco de aumento da transmissão de doenças respiratórias, por isso é preciso estar atento aos sintomas gripais, como tosse, congestão, coriza e febre.

Prevenção

O médico especialista ressalta que a melhor forma de prevenção em relação à leptospirose é não entrar em contato com água ou lama contaminadas, mas em algumas situações, como a das enchentes, não é possível evitá-lo. 

“Nesses casos, assim que for possível sair da água ou do contato com a lama, lavar a pele com água limpa e sabão, não consumir água que esteja contaminada com a água da enchente e qualquer marisco ou peixe ou fruto do mar deve ser muito bem cozido antes de ser consumido”, explica. 

A infectologista Mardjane Lemos aconselha o uso de alguns equipamentos de proteção para a prevenção da leptospirose, como uso de botas, de calças e camisas impermeáveis e de luvas. Outra alternativa para a população é utilizar sacolas plásticas, desde que não possuam nenhum furo ou rasgo que comprometam sua integridade. 

“O ideal proteger as pernas, que têm mais risco de contato com a água, porém no cenário que nós vimos, de pessoas entrarem na água até a cintura, é muito difícil haver uma forma de proteção, então o que pode ser feito de fato é procurar assistência médica o mais rápido possível”, conta Mardjane. 

Em relação às doenças gastrointestinais, que são transmitidas oralmente, é preciso reforçar o cuidado com os alimentos e usar hipoclorito, principalmente na limpeza das casas atingidas pelas enchentes.  

“As secretarias de saúde devem orientar a população a usar hipoclorito para se proteger e para limpar suas casas e, dessa forma, eliminar a leptospirose que pode estar nos resíduos deixados pela água”, recomenda.

Tratamento

O tratamento da leptospirose deve ser feito o mais rápido possível, com o uso de antibióticos: “É muito importante que qualquer pessoa que teve contato com a água da enchente ou que pisou na lama e apresentar febre, dor no corpo e dor de cabeça, nos próximos vinte e oito dias após o contato, procure o médico e informe que teve contato com a água da enchente para que se possa pensar em leptospirose e iniciar o tratamento”, aconselha o infectologista.

Nos casos das doenças gastrointestinais, a grande maioria é tratada com hidratação, mas alguns casos também precisam do uso de antibióticos. 

A Sesau recomenda que a população que estiver infectada com DTH procure o Hospital Escola Dr. Helvio Auto para atendimento, principalmente para os casos suspeitos de leptospirose. 

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