Formada em Recursos Humanos, Antônia denunciou o caso à Polícia de Segurança Pública (PSP), deve registrar nova ocorrência contra a Escola Básica Ruy D’Andrade e mudar a filha de colégio. Maria torce para que isso ocorra logo.
"Estou torcendo muito para ir para a escola da minha melhor amiga", revela a menina.
Ela também já estudou durante um ano na Bélgica, quando a mãe precisou se mudar por conta do trabalho. Segundo Antônia, na escola belga, foi muito bem recebida e não houve qualquer discriminação ou bullying pelo fato de ser brasileira.
"Pelo contrário, ela foi muito bem recepcionada, tanto pelos professores quanto pelos alunos, apesar de o idioma ser outro", compara.
Em resposta à Sputnik Brasil, Amélia Vitorino, diretora do Agrupamento de Escolas (AE) de Entroncamento, informou que um inquérito de averiguações foi instaurado há uma semana e se encontra em fase de conclusão para efeitos disciplinares. Segundo ela, o AE acionou ainda uma equipe de profissionais especializados que têm abordado esta temática com a comunidade educativa e acompanhado os estudantes envolvidos no caso.
"Foi acionada a equipa técnica de psicologia para acompanhamento e apoio à aluna agredida e respectivos encarregados de educação. No quadro da sua autonomia, a escola tem trabalhado o tema do bullying, inclusive no âmbito da área disciplinar de Cidadania e Desenvolvimento, por forma a combater comportamentos desviantes e favorecer a tolerância, o respeito, bem como o bem-estar emocional da comunidade discente", escreveu Amélia Vitorino por e-mail.
'Meu filho foi espancado na escola', diz mãe brasileira
Mas bullying, xenofobia e violência não se restringem à Básica Ruy D’Andrade. No fim de janeiro, foi criada uma petição on-line "Pelo fim da violência contra crianças nas escolas portuguesas". Até o fechamento desta reportagem, mais de 1.900 pessoas já haviam assinado o documento virtual, dirigido ao ministro da Educação e à Assembleia da República.
Por mais de 15 dias, Sputnik Brasil cobra um posicionamento do Ministério da Educação e dos secretários de Estado de Educação, Inês Pacheco Ramires Ferreira e João Costa, mas eles ignoram e mantêm o silêncio sobre a questão, amplamente discutida nos meios de comunicação portugueses.
A mineira Maria Aparecida Cordeiro permaneceu em silêncio por muito tempo antes de denunciar as agressões sofridas por seu filho de oito anos na Escola Básica de Amorosa, em Silves, a 250 km de Lisboa. No entanto, depois de ele voltar para casa com hematomas no rosto, no braço e na perna no dia 25 de janeiro, após um aluno português, de 11 anos, tê-lo derrubado do escorrega e o agredido, ela decidiu denunciar.
"Ele derrubou meu filho do escorrega, sentou em cima dele, e espancou sua cabeça. Meu filho chegou todo inchado em casa, e elas [professoras] não fizeram nada. Vi aquele hematoma muito grande na cabeça dele, na orelha, e fui levá-lo ao médico", relata Maria Aparecida à Sputnik Brasil.
O périplo da brasileira começou no dia seguinte, quando levou seu filho a um centro de saúde para receber atendimento e fazer exames. Segundo ela, o médico se recusou a atendê-lo por se tratar de uma criança. Maria Aparecida também cobrou esclarecimentos da escola, mas teria sido silenciada pela coordenadora, aos berros, em uma reunião em que a "educadora" teria defendido o agressor e dito que ela era uma mãe muito protetora.
"Até que me levantei da cadeira e tive que gritar para ser ouvida. A escola, que deveria ser um lugar de educação e respeito, foi palco de uma baixaria em que duas professoras foram advogadas do agressor e de sua mãe. Meu filho e eu saímos de lá como lixo, humilhados pelas palavras que ouvíamos", detalha.
Maria Aparecida decidiu denunciar o caso na GNR. Na primeira vez em que foi tentar registrar a ocorrência, teria sido desencorajada por um policial. Ela não se deu por vencida e voltou no dia 30 de janeiro. Saiu de lá com cópias do auto da notícia-crime e um encaminhamento para perícia médica.
"Aquando da elaboração do presente auto, foi possível verificar uma escoriação na orelha direita e nódulo negro no joelho esquerdo do menor", lê-se em um trecho da descrição dos fatos feita pelo policial Filipe Silva, à qual Sputnik Brasil teve acesso.
'Cala-te! A tua fala brasileira irrita-me!', disse criança portuguesa
Em seu depoimento, a mineira também relatou outros episódios de violência e bullying que seu filho sofreu anteriormente. De acordo com o relato, X. foi discriminado não apenas pelo menino português, mas pelo motorista do transporte escolar, que teria sido conivente com a xenofobia do garoto, ao mudar o brasileiro para uma van apenas com alunos imigrantes.
"Quando meu filho ia conversar, o moleque dizia: 'Cala-te! A tua fala brasileira me irrita!'. O menino não deixava o meu filho falar. Ele dizia que tinha que tirar meu filho dali. E o motorista ficou trocando meu filho de lugar até colocá-lo em uma carrinha [van] bem velha, só com alunos de outras nacionalidades", recorda.
A mineira relata um terceiro episódio de agressão, quando seu filho estava no banheiro da escola, e um aluno português invadiu, o segurou por trás e tapou a sua boca para impedi-lo de gritar. Segundo o depoimento, a violência o traumatizou de tal forma que X. deixou de usar os banheiros do colégio, mesmo que fizesse suas necessidades fisiológicas nas calças.
"Alega ainda que o seu filho necessita de apoio psicológico, pois chega à casa todo sujo, com urina e fezes, devido a traumas de que sofre na escola", lê-se em outro trecho do depoimento.
Sputnik Brasil cobrou esclarecimentos da direção da Escola Básica de Amorosa e do Agrupamento Escolar de Silves, ao qual o colégio pertence, mas não houve respostas até o fechamento desta reportagem.