Sentida no crescimento do desemprego e no aumento do preço de itens de primeira necessidade, como alimentos, gás de cozinha, combustíveis e energia elétrica, a crise econômica agravada em razão da pandemia está longe ou mais próxima do fim? Quais as perspectivas para 2022 em relação ao país e ao mundo? O CadaMinuto ouviu o economista e professor Cícero Péricles Carvalho para trazer um panorama aos leitores e, paralelamente, reuniu em uma espécie de “guia” dicas de diversas entidades sobre formas de economizar na conta de energia e na hora de ir às compras e abastecer o carro.
Em uma primeira análise, o economista resumiu que “o Brasil vive, nestes meses de final de ano, uma conjuntura marcada pelo baixo crescimento da economia, somado a elevação da inflação e desemprego alto. Esta semana, o Banco Central fez uma previsão de crescimento de menos de 5% para este ano, uma taxa ruim porque no ano passado a economia retrocedeu 4,1%, ou seja, quase não teremos crescimento. Nos 12 últimos meses, a inflação alcançou 10,3%, com aceleração desde o mês de julho”.
Por outro lado, prosseguiu ele, “o IBGE anunciou, também esta semana, que o nível de desemprego é alto, atingindo 13,7 milhões de pessoas, com queda recorde de renda e ampliação do trabalho informal. Um cenário difícil que não deverá ser modificado tão rapidamente, tanto que o Banco Central está prevendo para 2022 uma taxa de inflação de 4,4%, numa economia que deverá crescer apenas 1,4%”.
Para Cícero Péricles, a tendência da inflação é manter-se em patamares elevados, principalmente no primeiro semestre de 2022. “As duas maiores razões são os combustíveis e os alimentos. A política de preços dos combustíveis, adotada em 2016, vinculando o preço da gasolina e do diesel ao valor do barril do petróleo no mercado internacional está se mostrando um equívoco. O preço do petróleo subiu de 32 dólares em março do ano passado para os atuais 84 dólares, com tendência de alta. O câmbio é outro grande problema. Em junho deste ano, o dólar estava cotado a 4,9 reais e agora a R$5,6. A excessiva desvalorização do real decorre das instabilidades e incertezas na política nacional, penalizando todos os preços, seja dos combustíveis ou do gás de cozinha, cujo valor já supera 10% de um salário mínimo atual”, explicou.
Conforme o especialista, outro equívoco foi desarmar o sistema de estoques reguladores de alimentos, baseado na Conab, que foi esvaziada: “Como os preços internacionais estão altos e atraentes, o país está exportando quase tudo o que produz na área agrícola, da soja ao açúcar, do milho à carne, e o abastecimento interno foi dolarizado, vinculando o preço dos alimentos aos preços internacionais. O resultado estamos vendo nos supermercados. A subida nos preços dos combustíveis e alimento se espalha pelos demais produtos e serviços, do transporte ao mercadinho”.
Situação em Alagoas
O cenário nacional, obviamente, se reproduz nas regiões do país de forma diferenciada, aponta o especialista, lembrando que, quanto mais pobre, mais impacto a região sofre. “No caso alagoano, a combinação da inflação com o desemprego é muito mais sentida que nos estados ricos. A taxa de desemprego em Alagoas é de 18,8%, são 250 mil desempregados, 260 mil ‘desalentados’, pessoas que desistiram de procurar emprego, e mais 140 mil trabalhadores em tempo parcial. Esse conjunto de 650 mil pessoas pressiona o mercado de trabalho e empurra para baixo o salário médio de quem está ocupado, daí que a renda estadual média alagoana é mais baixa que a nordestina”.
Na análise de Cícero Péricles, os setores da economia estadual estão reagindo, mas ainda distantes de uma dinâmica que atenda à demanda desse conjunto social.