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Acidente
27/04/2021 16:00:00

Vacinação contra covid: Por que municípios não aplicam toda vacina enviada por governo federal?

Vacinação contra covid: Por que municípios não aplicam toda vacina enviada por governo federal?

O vacinômetro do governo federal apresentava dois números na manhã de 21 de abril: 53,7 milhões de doses distribuídas e 33,8 milhões aplicadas, sendo 24,8 milhões de primeira dose e 9 milhões de segunda dose.

Mesmo tendo em vista que 15 milhões de pessoas ainda precisam receber a segunda injeção, a diferença de 20,3 milhões de doses entre doses distribuídas e aplicadas alimentou rixas políticas e acusações sobre supostas vacinas estocadas.

"Sabe onde o RS está estocando vacinas? Nos braços dos gaúchos! Somos o estado com o maior percentual da população vacinada com a primeira dose", rebateu Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, em uma postagem no Twitter.

A proporção de doses aplicadas varia bastante de um estado para outro, de 48% no Rio de Janeiro a 96% em Roraima, segundo dados do Ministério da Saúde.

A discrepância levou a Procuradoria-Geral da República a pedir oficialmente explicações aos 27 governadores.

Há diversas explicações, entre elas:

  • Doses reservadas para a segunda aplicação, mesmo com a mudança de orientação do Ministério da Saúde para não realizar mais reservas
  • Demora no trânsito da vacina, do envio do governo federal, passando pela distribuição dos estados e até chegar a unidades de saúde dos 5.570 municípios
  • Demora na aplicação das vacinas nos municípios
  • Números desatualizados de cidades que aplicaram as doses, mas ainda não inseriram os dados no sistema
  • Vacinas reservadas para eventuais perdas em caso de acidentes ou falta de energia elétrica, por exemplo

Há estados, inclusive, que adotaram medidas para acelerar a vacinação, como a Bahia. Segundo a Secretaria de Saúde do estado, os municípios só recebem novas remessas de vacina caso tenham aplicado 85% das doses entregues antes. "Isto foi fundamental para estimular os gestores municipais a vacinarem rapidamente, tendo em vista o receio de ficarem sem acesso as doses das novas remessas."

O governo do Rio de Janeiro, por outro lado, fala em atraso na notificação das vacinas aplicadas e diz que não adota medidas punitivas contra municípios para estimular a aceleração da vacinação ou o registro das aplicações.

O Paraná lançou duas campanhas para incentivar os municípios, uma de vacinação inclusive aos finais de semana e outra até meia-noite. No Maranhão, o governo estadual ampliou as equipes de vacinação em municípios com menos de 50 mil habitantes.

Minas Gerais, por outro lado, decidiu abrir mão da reserva de 5% das doses para casos de perdas e ampliar a oferta nos municípios.

Média de vacinas contra covid-19 aplicadas diariamente no Brasil. .  .

Reserva para segunda dose

No fim de fevereiro, ainda na gestão Pazuello, o Ministério da Saúde divulgou uma orientação para estados e municípios reservarem as doses referentes à segunda aplicação do imunizante Coronavac. O objetivo era evitar problemas em caso de atrasos na produção pelo Instituto Butantan, feita a partir de insumos importados da China.

Um mês depois, a pasta decidiu mudar a orientação e liberou a aplicação de todas as doses distribuídas, sem necessidade de reserva para a segunda aplicação. A mudança ocorreu por causa de uma "garantia da estabilidade na entrega semanal de doses produzidas no Brasil".

Mas nem todos os estados seguiram a nova orientação.

A vacinação no mundo

 
Mundo
13,2
 
1.025.601.967
Estados Unidos
68,4
 
228.661.408
China
15,6
 
226.269.993
Índia
10,1
 
139.185.173
Reino Unido
69,2
 
46.253.754
Brasil
17,9
 
38.027.113
Alemanha
30,4
 
25.446.941
Turquia
25,1
 
21.130.963
França
28,7
 
19.535.141
Indonésia
6,8
 
18.570.974
Rússia
12,4
 
18.152.707
Itália
29,4
 
17.751.562
México
12,7
 
16.410.034
Espanha
30,5
 
14.266.251
Chile
73,9
 
14.131.492
Canadá
31,9
 
12.045.041
Israel
120,2
 
10.401.437
Polônia
27,3
 
10.343.967
Emirados Árabes Unidos
103,3
 
10.215.846
Marrocos
24,2
 
8.941.120
Arábia Saudita
23,7
 
8.235.166
Bangladesh
4,8
 
7.954.176
Argentina
15,8
 
7.134.949
Hungria
54,5
 
5.268.968
Holanda
29,9
 
5.128.167
Romênia
25,1
 
4.832.203
Colômbia
8,6
 
4.400.615
Bélgica
29,6
 
3.431.848
Sérvia
47,8
 
3.253.039
Portugal
29,6
 
3.018.383
Áustria
31,4
 
2.827.613
República Tcheca
26,4
 
2.822.491
Grécia
27,1
 
2.821.625
Suécia
27,7
 
2.796.778
Japão
2,1
 
2.718.090
Coreia do Sul
4,6
 
2.371.793
Suíça
26,3
 
2.273.981
Cingapura
37,8
 
2.213.888
Camboja
12,1
 
2.027.968
Nepal
6,8
 
1.989.248
Austrália
7,6
 
1.934.077
Dinamarca
30,7
 
1.780.892
Filipinas
1,6
 
1.739.656
Finlândia
30,4
 
1.683.060
Uruguai
46,1
 
1.602.385
República Dominicana
13,9
 
1.509.898
Noruega
27,6
 
1.496.745
Eslováquia
26,5
 
1.444.284
Azerbaijão
14,0
 
1.423.295
Catar
49,1
 
1.415.761
Peru
4,3
 
1.412.281
Irlanda
28,1
 
1.385.753
Malásia
4,0
 
1.305.161
Paquistão
0,6
 
1.300.000
Bahrein
69,4
 
1.180.735
Nigéria
0,6
 
1.167.837
Tailândia
1,6
 
1.149.666
Mianmar
1,9
 
1.040.000
Cazaquistão
5,3
 
1.001.805
Sri Lanka
4,3
 
925.242
Lituânia
32,2
 
877.595
Kuwait
20,1
 
860.000
Gana
2,7
 
842.521
Croácia
19,4
 
795.597
Quênia
1,4
 
750.471
Equador
4,2
 
732.717
Jordânia
7,2
 
732.052
Bulgária
10,4
 
723.240
El Salvador
10,8
 
698.569
Costa Rica
13,7
 
698.327
Mongólia
20,7
 
678.692
Irã
0,8
 
667.202
Egito
0,6
 
660.000
Bolívia
5,6
 
656.613
Panamá
14,4
 
619.190
Eslovênia
28,1
 
584.303
Ucrânia
1,2
 
528.033
Butão
62,2
 
479.686
Uzbequistão
1,4
 
458.555
Etiópia
0,4
 
430.000
Líbano
6,1
 
415.562
Estônia
30,9
 
410.485
Albânia
13,9
 
400.064
Senegal
2,4
 
398.941
Angola
1,2
 
395.447
Zimbábue
2,5
 
372.099
Tunísia
3,1
 
368.837
Maldivas
66,8
 
360.997
Ruanda
2,7
 
349.702
Bielorússia
3,5
 
328.500
Malta
70,6
 
311.559
Iraque
0,7
 
298.377
África do Sul
0,5
 
292.623
Uganda
0,6
 
268.317
Malauí
1,4
 
267.293
Letônia
13,7
 
257.586
Venezuela
0,9
 
250.000
Omã
4,8
 
244.821
Afeganistão
0,6
 
240.000
Chipre
27,0
 
236.265
Territórios Palestinos
4,2
 
213.989
Vietnã
0,2
 
209.632
Nova Zelândia
3,8
 
183.351
Luxemburgo
27,7
 
173.153
Guatemala
0,9
 
165.271
Togo
1,9
 
160.000
Sudão
0,3
 
140.227
Laos
1,9
 
137.026
Jamaica
4,6
 
135.473
Guiné
1,0
 
129.345
Guiné
1,0
 
129.345
Seicheles
123,2
 
121.165
Moldávia
3,0
 
120.254
Somália
0,7
 
117.567
Maurício
9,2
 
117.323
Costa do Marfim
0,4
 
117.227
Guiana
14,4
 
113.596
Islândia
33,2
 
113.330
Paraguai
1,4
 
98.666
Argélia
0,2
 
75.000
Barbados
25,0
 
71.881
Ilha de Man
81,9
 
69.658
Gibraltar
201,8
 
67.972
Ilhas Cayman
97,0
 
63.774
Nicarágua
0,9
 
61.625
Montenegro
9,5
 
59.911
Honduras
0,6
 
57.639
Moçambique
0,2
 
57.305
Fiji
6,2
 
56.000
Guiné Equatorial
4,0
 
55.799
Bermuda
84,0
 
52.337
Macedônia do Norte
2,5
 
51.853
Guernsey
69,5
 
46.587
Serra Leoa
0,6
 
44.347
Taiwan
0,2
 
42.672
Belize
9,9
 
39.330
Botsuana
1,6
 
36.652
Suriname
6,2
 
36.503
Geórgia
0,9
 
36.056
Eswatini
2,7
 
31.846
Antigua e Barbuda
30,4
 
29.754
Andorra
34,2
 
26.414
Mali
0,1
 
26.226
San Marino
76,7
 
26.025
Ilhas Turks e Caicos
62,8
 
24.300
Santa Lúcia
13,0
 
23.941
Dominica
32,0
 
23.055
Mônaco
58,5
 
22.953
Ilhas Faroe
35,4
 
17.280
Gâmbia
0,7
 
16.735
Trinidade e Tobago
1,2
 
16.462
Kosovo
0,000
 
16.132
Lesoto
0,7
 
16.000
Bahamas
3,8
 
15.000
Bósnia-Herzegóvina
0,5
 
15.000
Congo
0,3
 
14.297
Zâmbia
0,076
 
14.012
São Vicente e Granadinas
12,5
 
13.852
Groenlândia
22,7
 
12.859
Granada
11,3
 
12.764
São Cristóvão e Nevis
22,3
 
11.848
Liechtenstein
27,4
 
10.457
Djibuti
1,0
 
10.246
São Tomé e Príncipe
4,4
 
9.724
Anguilla
38,9
 
5.835
Gabão
0,3
 
5.762
Namíbia
0,2
 
4.748
Santa Helena, Ascensão e Tristão da Cunha
75,3
 
4.572
Ilhas Malvinas ou Falkland
126,5
 
4.407
Mauritânia
0,063
 
2.930
Timor Leste
0,2
 
2.629
Síria
0,014
 
2.500
Brunei
0,5
 
2.323
Cabo Verde
0,4
 
2.184
Quirguistão
0,032
 
2.100
Ilhas Salomão
0,3
 
2.000
Montserrat
35,0
 
1.751
Níger
0,006
 
1.366
Papua Nova Guiné
0,012
 
1.081
Sudão do Sul
0,009
 
947
Líbia
0,011
 
750
Armênia
0,019
 
565
Tonga
0,5
 
500
Camarões
0,002
 
400
Nauru
1,6
 
168
Benin
0
 
0
Burkina Fasso
0
 
0
Burundi
0
 
0
Chade
0
 
0
Comores
0
 
0
Coreia do Norte
0
 
0
Cuba
0
 
0
Eritreia
0
 
0
Guiné-Bissau
0
 
0
Haiti
0
 
0
Iêmen
0
 
0
Ilhas Cook
0
 
0
Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul
0
 
0
Ilhas Pitcairn
0
 
0
Ilhas Virgens Britânicas
0
 
0
Kiribati
0
 
0
Libéria
0
 
0
Madagascar
0
 
0
Niue
0
 
0
República Centro-Africana
0
 
0
República Democrática do Congo
0
 
0
Samoa
0
 
0
Tadjiquistão
0
 
0
Tanzânia
0
 
0
Território Britânico do Oceano Índico
0
 
0
Toquelau
0
 
0
Turcomenistão
0
 
0
Tuvalu
0
 
0
Vanuatu
0
 
0
Vaticano
0
 
0
 

O governador do Piauí e presidente do Fórum de Governadores do Nordeste, Wellington Dias (PT), tem afirmado que os gestores temem a falta de imunizantes para a segunda aplicação, dado que o número de doses previstas para abril é menor do que o de março.

Em ofício enviado ao ministro da Saúde em 08/04, ele afirma que pretendia "expor preocupação" sobre o cronograma de entregas. "Estaremos juntos por mais vacinas para a primeira dose, mas é importante completar a imunização com aplicação da segunda dose." Estudo divulgado recentemente no Chile apontou que a eficácia da primeira dose da Coronavac contra mortes por covid é de 40%. Com as duas doses, passa a 80%.

O intervalo entre a aplicação das duas doses da Coronavac pode variar de 14 a 28 dias, e da AstraZeneca-Oxford, de 4 a 12 semanas.

Mulher sendo vacinada no Rio de Janeiro

CRÉDITO,REUTERS/RICARDO MORAES

 
Legenda da foto,

Alguns governos preferem reservar as segundas doses das vacinas por temor de que o governo federal não consiga garantir entregas. Segundo o governo da Bahia, o risco é faltar dose e ter que imunizar mais duas vezes quem já recebeu a primeira injeção.

No caso do Espírito Santo, o governo estadual decidiu só enviar os imunizantes pouco antes de cada aplicação correspondente. A estratégia visa "garantir tempo oportuno da imunização da população e a organização das ações de vacinação das cidades", enviando aos 78 municípios capixabas o quantitativo referente à segunda dose na terceira semana para a Coronavac e na 11ª semana, para Covishield (AstraZeneca-Oxford). O Pará adota estratégia semelhante.

Para o governo baiano, o risco de aplicar o que tiver disponível sem fazer reservas é ter que começar tudo de novo. Com a mudança, "o Ministério da Saúde tem a obrigação de garantir a segunda dose em tempo hábil, sob risco de reduzir ou anular o efeito da primeira dose e ter que imunizar novamente o mesmo público."

O Rio Grande do Sul afirmou seguir à risca as orientações do Ministério da Saúde, que determina a cada envio de vacinas para os estados a quantidade que deve ser aplicada como primeira dose e reservada para segunda dose.

Dados diferentes e desatualizados

Atualmente, é possível encontrar pelo menos cinco números diferentes sobre o andamento da vacinação em cada estado brasileiro sem que nenhuma dessas fontes de informação esteja exatamente correta por causa de atrasos no registro e na transmissão dos dados.

Como afirma a secretaria estadual de saúde de Mato Grosso, "existe um descompasso entre a realidade da aplicação da vacina e a alimentação do sistema de vacinação com os registros oficiais".

Peguemos o exemplo do Paraná.

boletim do governo do estado apontava na manhã de 20/04 o montante de 2.433.979 doses distribuídas para os municípios e 1.984.273 doses aplicadas (81,5% do total).

No mesmo horário, o painel de vacinas do Ministério da Saúde informava 2.840.551 doses distribuídas aos municípios e 1.785.042 aplicadas (62,8% do total).

consórcio de veículos jornalísticos, criado em 2020 quando o governo federal mudou a divulgação de dados da pandemia, indicava 1.911.296 vacinados no Paraná (sem informar o total distribuído).

projeto independente Covid-19 no Brasil, coordenado por Wesley Cota, físico e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV), falava em 1.911.510 doses aplicadas no estado (também sem informar o total distribuído).

Por fim, a Secretaria de Saúde do Paraná informou à reportagem da BBC News Brasil em 19/04 ter recebido até agora 2.858.690 doses de vacinas do governo federal.

E quando eu vou ser vacinado?

No papel, o cronograma atual do Ministério da Saúde prevê 563 milhões de doses, e a entrega de 154 milhões delas no primeiro semestre de 2021, considerando apenas vacinas aprovadas pela Anvisa: Coronavac, AstraZeneca-Oxford e Pfizer.

Isso seria suficiente para imunizar o grupo prioritário inteiro, mas não significa que todas essas 78 milhões de pessoas estariam vacinadas antes de julho.

Mas os constantes atrasos em importações de insumos e vacinas, além de problemas na produção em território nacional e a não aprovação de outros imunizantes por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fazem com que esse cronograma seja cada vez mais difícil de ser atingido.

Cronograma previsto de entregas mensais de vacina contra covid-19. Em março, governo Bolsonaro mudou cinco vezes previsão de doses abaixo, em milhões.  .

Um estudo recente da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) apontou que que Brasil precisa vacinar 2 milhões por dia para controlar a pandemia em até um ano. E atualmente o país mal tem conseguido passar de 1 milhão por dia.

Se essa proporção de vacinas distribuídas/aplicadas se mantiver ao longo do ano, a imunização dos grupos prioritários pode se estender até setembro de 2021 no Brasil.

A tendência, até o momento, é que o início da vacinação dos adultos não prioritários deva acontecer pelo menos em meados do segundo semestre de 2021, enquanto a de jovens com menos de 25 anos deve acontecer só em 2022.

A situação dos menores de idade é ainda mais incerta.

Para tentar contornar tanta incerteza, um grupo de voluntários montou o site chamado Quando Vou Ser Vacinado, que tenta calcular, a partir dos dados atuais de vacinação, quando diferentes faixas etárias devem ser vacinadas no país. Por essa estimativa que vai sendo atualizada constantemente, um morador de São Paulo de 18 anos que não pertence a nenhum grupo prioritário deve receber sua primeira dose em maio de 2022.

Bbc News Brasil