A pandemia está fazendo com que as pessoas usem cada vez mais equipamentos eletrônicos, como computadores e celulares, por esses serem uma das únicas formas para manter o contato com amigos e familiares durantne o período de isolamento social.
O uso de dispositivos tecnológicos tem suas vantagens, mas o exagero pode prejudicar a saúde e levar ao desenvolvimento da doença conhecida como nomofobia.
Essa fobia é caracterizada pela dependência patológica das tecnologias, de acordo com Anna Lucia Spear King, psiquiatra e coordenadora do núcleo Delete do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
“Para desenvolver nomofobia, a pessoa deve ter algum transtorno primário associado, como ansiedade ou depressão, o que potencializa o uso desses dispositivos tecnológicos”, destaca a especialista.
A psiquiatra ressalta também que pessoas já diagnosticadas com fobia social têm maior tendência de desenvolver esse medo patológico de ficar longe das tecnologias, aproximando-se ainda mais de um dispositivo específico.
“Pacientes com fobia social ficam ainda mais dependentes de computadores. Isso porque ele serve como escudo de proteção para que vença a vergonha e, com isso, se sinta mais confiante e socialmente mais participante, uma vez que contatos presenciais podem causar estresse”, afirma a coordenadora do Delete.
Sintomas e prejuízos
Pessoas que começam a desenvolver a nomofobia apresentam sintomas físicos como suor excessivo quando não possuem contato com os aparelhos eletrônicos, além de problemas na coluna, articulações e visão, esses sendo caracterizados por conta da pessoa não conseguir ficar sem mexer no celular.
Os pacientes diagnosticados com essa doença também começam a apresentar sintomas emocionais e até sociais, como problemas relacionados ao sono, que podem afetar atividades diárias, acarretando até na perda da concentração e da memória.
“O paciente demonstra algumas dificuldades na sua vida profissional, acadêmica e pessoal, deixando de entregar trabalhos, repetindo de ano ou ficando de recuperação em muitas matérias e brigando com familiares por não conseguir se afastar das tecnologias”, afirma Anna Spear, que também é autora do livro “Nomofobia - Dependência do Computador, Internet, Redes Sociais? Dependência do Telefone Celular?”.
Uso excessivo não necessariamente é nomofobia
O uso excessivo de redes sociais e aplicativos na internet não necessariamente caracteriza que a nomofobia. “Há uma diferença entre as pessoas que usam muito as tecnologias, para aquelas que realmente possuem essa doença. No primeiro caso, é a falta do uso consciente”, afirma a especialista.
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“A efeito de comparação, nem todo mundo que bebe vai desenvolver o alcoolismo. Deve existir alguma tendência ou transtorno primário para que os sintomas dessa doença possam começar a ser notados no indivíduo”, completa a psiquiatra.
O Delete faz esse tipo de diagnóstico para poder, posteriormente, tratar das pessoas que possuem a fobia de ficar longe dos aparelhos eletrônicos. Anna destaca que, a partir do momento que é possível notar que o paciente desenvolveu a doença, inicia-se um tratamento do transtorno de origem, que pode ser a depressão, ansiedade, compulsão, fobia social ou transtorno do pânico.