"Nós, da Organização Mundial de Saúde (OMS), não defendemos o confinamento como o principal meio de controle desse vírus."
Quando o enviado especial da OMS para covid-19, o britânico David Nabarro, se expressou dessa forma em uma entrevista para a revista The Spectator, ele certamente não imaginou a tempestade que suas palavras produziriam.
"Os confinamentos têm uma consequência que não devemos nunca subestimar: eles tornam os pobres muito mais pobres", disse Nabarro.
Pouco depois, inúmeros meios de comunicação e personalidades começaram a noticiar que a OMS havia recuado em seu apoio aos confinamentos. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a afirmar que a organização estava concordando com ele.
"A Organização Mundial da Saúde acaba de admitir que eu estava certo. Os confinamentos estão matando países em todo o mundo. A cura não pode ser pior do que o problema (...). Uma longa batalha, mas eles finalmente fizeram a coisa certa", disse Trump na segunda-feira por meio de sua conta no Twitter.
A posição do presidente americano é a mesma do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), que por diversas vezes criticou as medidas de isolamento social adotadas por Estados e cidades do país, alertando que os prejuízos à economia poderiam ser piores que os impactos da própria pandemia.
Em um encontro com produtores rurais, em setembro, o presidente disse que as defesas da necessidade de isolamento, eram "conversinha mole". "Isso é para os fracos. O vírus, eu sempre disse, era uma realidade, e tínhamos que enfrentá-lo. Nada de se acovardar perante aquilo que nós não podemos fugir dele", afirmou Bolsonaro
Na maioria do Brasil, foram adotadas medidas de isolamento mais brandas, mas, em cidades de alguns Estados, foram aplicados períodos de confinamento por determinação da Justiça ou por decisão de prefeitos ou governadores.
Em reação a isso, o governo Bolsonaro editou uma medida provisória para concentrar no Executivo federal o poder de estabelecer normas sobre esse assunto. A questão foi parar no Supremo Tribunal Federal, que decidiu que Estados e municípios tinham autonomia para determinar medidas de isolamento.
Em resposta ao comentário feito por Trump, Nabarro afirmou que o problema é usar os confinamentos como "principal meio de controle" do coronavírus. Uma porta-voz da OMS, Margaret Ann Harris, esclareceu que essa sempre foi a posição da organização, que nunca deixou de considerar o confinamento "mais uma arma do arsenal" de combate à pandemia.
"O que sempre dissemos é que os confinamentos podem ajudar a ganhar algum tempo, especialmente se houver transmissão comunitária intensa", explicou Harris.
"Você pode se encontrar em uma situação em que a transmissão é intensa e, por diferentes motivos, não é possível identificar ou rastrear todos os infectados. Neste caso, talvez seja necessário frear a propagação do vírus com o uso do confinamento."
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