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Educação
15/04/2020 00:00:00

O professor Salim Karim, principal especialista em HIV da África do Sul, acredita que essas são "hipóteses interessantes", mas nada além disso. "Acho que ninguém no planeta tem as respostas", afirma. Shoul, entretanto, diz que o país ainda está se "

O professor Salim Karim, principal especialista em HIV da África do Sul, acredita que essas são

As desigualdades e assimetrias de aprendizado nas escolas, principalmente públicas, tendem a se agravar, passado o período da quarentena. Isto porque 20% por cento dos domicílios brasileiros – o equivalente a 17 milhões de unidades residenciais –  não estão conectados à internet, o que impossibilita o acesso de alunos ao material de ensino a distância disponibilizado em seus portais por muitas escolas públicas do ensino fundamental e do ensino médio. Vivem nesses domicílios cerca de 42 milhões de pessoas, entre as quais, 7 milhões são de estudantes, 95% matriculados em escolas públicas e 71% cursando o ensino fundamental.

A falta de conexão à internet também impõe graves dificuldades para que os trabalhadores autônomos se cadastrem para o recebimento do auxílio emergencial de R$ 600. Há nessas residências “desconectadas” 12 milhões de pessoas que integram a População Economicamente Ativa (PEA), das quais 64% são autônomos, sem proteção social, exercendo precariamente trabalhos diversos. Os dados são do Observatório Social da COVID-19, recém-criado pelo Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), que produz e divulga informações sobre a situação social e econômica do país, para acompanhar e avaliar a realidade demográfica, social, de conectividade e do mercado de trabalho sobre a qual são aplicadas as políticas públicas.

Integram o observatório os professores Marden Barbosa de Campos e Jorge Alexandre Neves, ambos do Departamento de Sociologia, alunos e ex-alunos da UFMG, além de dois pesquisadores vinculados à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ao Centro Universitário Joaquim Nabuco (Uninabuco), de Recife. As duas situações – alunos em idade escolar – e adultos com direito ao auxílio emergencial que vivem em domicílios “desconectados” engrossam as estatísticas dos mais desiguais entre aqueles que já habitam a periferia das oportunidades na sociedade brasileira.

Os primeiros, não conseguem ter acesso aos conteúdos complementares postados pelas escolas em seus respectivos sites. Os segundos precisarão se expor a diversas situações de aglomeração e risco de contágio para buscar informações que lhes permita acessar o auxílio emergencial.

Assimetria do aprendizado

 “Enquanto muitos alunos em domicílios com acesso à internet, de melhor nível socioeconômico, terão acesso a conteúdos e às atividades que levam ao desenvolvimento cognitivo escolar; os outros não”, avalia o sociólogo Jorge Alexandre Neves.

“Não estamos com isso dizendo que as escolas não devam disponibilizar esse conteúdo, mas, é preciso ter em mente, que durante a pandemia, teremos mais um novo elemento de assimetria para o aprendizado, que se soma a todas as outras variáveis já conhecidas da sociologia”, acrescenta Neves. Diversos estudos no campo do rendimento escolar apontam para o efeito do nível socioeconômico dos pais – sobretudo a escolaridade da mãe – sobre o desempenho dos filhos nas escolas.

“Esse efeito é muito maior, por exemplo, do que a diferença que se observa entre o desempenho do aluno da escola pública e o aluno da escola privada”, afirma ele, lembrando que a maior parte da desigualdade educacional no Brasil se explica pelo nível socioeconômico das famílias. Principalmente no ensino fundamental.

AUXÍLIO EMERGENCIAL

Mesmo dentre os desiguais, estar ou não conectado à internet impõe desafios diferentes, até mesmo para ter acesso a um auxílio emergencial, o que nem sempre é simples nos domicílios dos “desconectados”.

Segundo os dados do Observatório Social da COVID-19, 64% dos 12 milhões de trabalhadores de unidades residenciais sem acesso à internet estão na informalidade, trabalhando em situação precária e sem qualquer proteção social.

“Essa é, em princípio, uma população com alta probabilidade de ser beneficiária do programa de auxílio emergencial. Mas sem acesso à internet, há risco de que o programa do auxílio emergencial apresente um grave problema de ineficiência”, afirma Jorge Alexandre Neves, enfatizando que toda política social que não chega ao grupo ao qual se destina é ineficiente. Na avaliação do sociólogo, o governo precisaria utilizar toda a estrutura da assistência social no Brasil – como os Centros de Referência da Assistência Social (Cras) e Centros Especializados de Referência da Assistência Social (Creas), para, com o apoio logístico das Forças Armadas,  fazer a busca ativa dessas pessoas.

Msn