Oscar Manuel dos Santos Filho nasceu próximo ao mar e lá está até hoje. Pescador desde criança e já próximo da idade de sua aposentadoria, passa pelo pior momento da pesca do estado em décadas. "Nunca na minha vida aconteceu uma crise dessa", contou ele. Desde o aparecimento de manchas de óleo na costa brasileira, em agosto, a mercadoria vem passando por uma baixa.
A percepção de uma queda vertiginosa nas vendas do peixe é compartilhada por todos os envolvidos na atividade. A maioria dos comerciantes ouvidos pela Gazeta afirmam que a queda nas vendas foi de mais da metade. "Chegamos no nível de passar aperto dentro de casa", contou Cláudio. "O meu fornecedor já está perdendo a paciência comigo. No fim do mês quase nunca consigo pagar o valor completo".
Adriana Amaro, que também comercializa peixes na capital, segue com os refrigeradores cheios de peixe. "Não vende. Normalmente esse lugar é muito movimentado, e até agora ninguém", contou, mostrando o estabelecimento vazio. Seus três gatos descansavam pelo local, agora sem serem enxotados por clientes. "Trinta e cinco anos vendendo peixe, e nunca vi isso na minha vida", reclamou.
O governo federal prometeu o pagamento do defeso, que até agora não chegou. "Não vi a cor da primeira parcela", disse Cláudio Santos, que mantém uma banca de peixes na Vila dos Pescadores, no bairro histórico do Jaraguá. Outro pescador, que não quis se identificar, afirmou que busca receber o auxílio faz meses. "Já fui em tudo quanto é lugar, nunca me recebem direito. Não sei pra onde tá indo esse dinheiro que liberaram", contou.
A banca de Cláudio fornece camarão, peixes e até mesmo polvo. A mercadoria estava intocada desde que foi posta sobre a mesa. "Os clientes da casa, que confiam na gente e sabem que nosso peixe não tem óleo, de vez em quando aparecem. Mas isso não sustenta uma família", desabafou.
Os comerciantes do Mercado da Produção que fazem a venda de peixes e crustáceos de água doce dizem não sentir o impacto da tragédia. "Aqui, graças a Deus, tudo corre bem", disse uma vendedora que não se identificou. "Nossos produtos vêm da lagoa, então não tem risco".
Órgãos de saúde de diversos estados passaram a recomendar cautela na compra do peixe e, em alguns casos, a proibição da pesca. Na região de divisa entre Alagoas e Pernambuco, por exemplo, a pesca de camarão e lagosta foi interditada por "provável contaminação química" das manchas de óleo.
Um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), contudo, não encontrou vestígios de contaminantes em peixes do mar que banha a capital. Foram coletados 25 peixes carapebas entre Maceió e Paripueira, e em nenhum deles foram encontrados traços de óleo.
A Vigilância Sanitária do estado também afirma que o pescado alagoano é seguro. "Não há nenhuma restrição para o consumo de pescado e frutos do mar (...) até porque grande parte do pescado comercializado em Alagoas é oriundo de criatórios de água doce e o pescado é trazido do alto mar", disse Josenildo Torres, da assessoria de comunicação da Secretaria de Estado da Saúde.
O maior inimigo apontado tanto pelos pescadores quanto pelos comerciantes é a desinformação. "Isso é uma calúnia, das grandes. Isso não existe, peixe com óleo aqui em Maceió", reclamou Cláudio. "Até agora não pesquei um peixe sujo", disse Oscar, com um quê de tristeza. "Mas o povo tá receoso, desde que começou essa história de óleo".
As vendas ainda não se deram sinais de recuperação, apesar dos laudos apontarem que o pescado é seguro. Oscar espera por dias melhores, mas não quer estar muito próximo para vê-los. "Já contribuí demais, vivo mais no alto mar que em terra", contou, "espero me aposentar logo".
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