O que está em pauta na mídia reverbera nas redes sociais, no bate-papo do dia a dia, na sala de aula e, por que não?, nas questões objetivas e na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A proximidade da aplicação das provas traz sempre aos candidatos a dúvida sobre como os temas caros ao debate público podem incidir, direta e indiretamente, nas provas.
Cursinhos e plataformas on-line de estudo preparam conteúdos exclusivos a respeito, quase como uma disciplina a ser lecionada. Não se trata de propor um jogo adivinhação, é claro. Porém, convém compreender que o Enem, como prova de maior amplitude do Brasil, propõe que os secundaristas pensem o país e o mundo. Ter alguma intimidade com os mais variados assuntos e estar atento às fontes é fundamental. “Por não confiar em algumas notícias, procuro sempre sites e jornais mais críveis”, afirma Marcelo Cascaes, 19 anos, candidato a uma vaga em direito.
“No Enem, dificilmente será cobrado o entendimento de uma notícia factual e pronto. A intenção do exame é usá-la para ver se o aluno entende o contexto, apostando na interdisciplinaridade. Se surge um texto sobre o Estado de Israel, ele é o mote para cobrar do aluno tudo o que aconteceu na região para culminar na atual conjuntura”, exemplifica Ricardo Marcílio, professor de geografia e atualidades do Descomplica. “Você pode pegar um fato histórico de muito tempo atrás e propor uma história comparada, promovendo ganchos e conexões”, acrescenta Fábio Braz, consultor pedagógico do SAS.
Corte temporal
“Atualidades”, aqui, remontam especialmente a fatos ocorridos no primeiro semestre de 2018. Aplicado em 4 e 11 de novembro, o exame deve estar pronto com antecedência, de modo que as questões possam ser pré-testadas e o formato da prova, definido. Portanto, não há tempo hábil para que constem na prova, digamos, o incêndio no Museu Nacional do Brasil, ocorrido no Rio de Janeiro em setembro, ou desdobramentos truculentos do processo eleitoral em andamento.
O imediatismo não chega a tanto, garantem os professores. “Eu diria que vão até junho, no máximo, que é quando as provas precisam estar prontas”, afirma Orlando Stiebler, professor de história e atualidades da plataforma on-line QG do Enem. “As atualidades de 2018 que estiveram na mídia durante esse período são as que devem constar nas questões.”
“O Enem faz muito isso de pegar um tema da atualidade e retornar a algum assunto. Por exemplo, relacionar a ascensão dos partidos de direita na Europa com a Revolução Francesa e como surge direita e esquerda. Faz mais isso do que abordar temas totalmente atuais”, afirma a estudante Ana Lídia Barbosa, 20.
Temas nacionais e internacionais
Para o professor Orlando, o que está em pauta influencia na prova em duas frentes. “Podem estar tanto nas questões objetivas quanto na redação. Esta é mais ligada à abordagem filosófica, sociológica e comportamental. Temas são mais ‘abstratos’, por assim dizer. Estão no cotidiano, com uma abordagem mais subjetiva e exigindo propostas dos candidatos”, define. A outra parte diz respeito a temas em geopolítica e história contemporânea.
Além disso, a dissertação difere-se pelo conteúdo tradicionalmente nacional e voltado à aplicação no presente, enquanto as indagações objetivas apresentam amplas possibilidades. Breno Vargas, 18, aposta nessa diferenciação e se preocupa com os temas internacionais. “Acredito que as questões virão falando sobre os conflitos no Oriente Médio e a guerra na Síria.” Para ele, a maior dificuldade é colocar em prática o aprendizado. “É um conteúdo escasso de questões para treinar, tenho que me virar lendo as notícias. Me preparo estando atento às revistas e jornais digitais, e gosto muito de rádio também”, complementa.