Uma pesquisa do sociólogo argentino Júlio Jacobo Waiselfisz, realizada com o apoio do Data-SUS do Ministério da Saúde e do Ministério da Justiça, aponta que 24 dos 556 municípios mais violentos do Brasil estão em Alagoas. A pesquisa chamada Mapa da Violência nos Municípios Brasileiros 2008 revela que de 2002 a 2006 apenas 24 cidades concentraram 80,7% de todos os homicídios do Estado.
Maceió ocupa o primeiro lugar no ranking das cidades mais violentas de Alagoas, seguida por Arapiraca e outras 22 cidades de pequeno e médio porte. São elas: Rio Largo, Joaquim Gomes, União dos Palmares, Paripueira, Pilar, Satuba, Messias, Roteiro, Canapi, Porto Calvo, Delmiro Gouveia, Barra de São Miguel, Fleixeiras, Marechal Deodoro, Japaratinga, São Miguel dos Campos, Murici, Dois Riachos, Maragogi, São José da Lage, Maribondo. No ranking nacional, Maceió ocupa o 22º lugar.
Para o historiador Geraldo de Majella, que analisa detalhadamente os dados do Mapa da Violência nos Municípios Brasileiros 2008 no que diz respeito a Alagoas, o combate à criminalidade e ao crime organizado tem ficado evidenciado em vários lugares do mundo e não é uma atribuição apenas das polícias. “As polícias têm papel importante, desde que sejam bem aparelhadas, tecnicamente capazes de trabalhar e que os policiais sejam capacitados. Não devemos acreditar em métodos salvacionistas. Quando vemos policiais nas ruas, atrapalhando o trânsito, expondo armas e cães, blindados, o senso comum acredita infelizmente que essa exposição é a garantia de segurança. O combate efetivo da criminalidade deve envolver a sociedade civil e todas as instâncias do Estado – Judiciário, Legislativo, Executivo e Ministério Público”, afirma o historiador.
Segundo ele, ao permanecer o improviso e a desorganização, o crime organizado ampliará a sua influência. “A tendência é dominar faixas significativas do território, onde o agente estatal da segurança pública ou de outra área terá que pedir permissão ao tráfico ou ao político que comanda o crime. A situação é de alerta máximo”, atenta Geraldo de Majella.
De acordo com o Mapa da Violência, em 2006 foram registrados 1.610 homicídios no Estado. Desses, 1.299 ocorreram somente nos 24 municípios mais violentos. “Isso indica claramente que se houvesse planejamento e integração nos trabalhos das polícias, essas taxas seriam reduzidas”, explica Geraldo de Majella. A área dos 24 municípios compreende 1.606.794 habitantes do universo de 2.978.604 habitantes que há em Alagoas.
Para o historiador, “a violência é um dos problemas mais importantes do mundo contemporâneo”. “Erra quem pensa que resolverá esse problema com os olhos voltados, apenas, para a repressão. O Estado deve manter-se preparado para a repressão à criminalidade. Essa é uma das suas funções, mas só isso é inócuo como resolução do grave problema da criminalidade e da crescente violência urbana. A realidade tem demonstrado cabalmente que polícia na rua, sem que haja a implementação de políticas públicas na área da educação, geração de emprego e renda, cultura, saúde, habitação, saneamento básico, etc, é um ‘tiro no escuro’, para usar uma metáfora conhecida de todos”, observa.
Segundo Geraldo de Majella, a solução, no entendimento dos pesquisadores, é o diálogo entre as polícias e os centros de produção de conhecimento, as universidades, as organizações não-governamentais (Ong´s) e os organismos internacionais de cooperação para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes no combate à violência Ele aponta um exemplo onde isso deu certo.
Diadema, no ABC paulista, por exemplo, detinha altas taxas de homicídios. Isso vinha sendo, como em Alagoas, postergado, tratado como natural ou como algo comum reclamar apenas das condições de trabalho. Em muitos casos é verdadeiro, mas não é isso apenas. Há doze ou treze anos que a tendência de crescimento de homicídios foi invertida, ou seja, tem havido diminuição. Essa redução se deu porque houve investimento e envolvimento da comunidade, mas nesse caso e em todos os outros tem a participação direta do pode público local. A prefeitura é quem dinamiza as ações”, analisa Geraldo de Majella.
Outra iniciativa eficiente para combater a violência, segundo ele, é o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). “O novo nesse projeto é articular políticas de segurança com ações sociais, priorizando a prevenção e buscando atingir as causas que levam à violência. Tudo isso sem abrir mão das estratégias de ordenamento social e segurança pública. O Programa terá disponível até 2012 R$ 6,707 bilhões para investimento”, conclui Geraldo de Majella.
por Diego Barros / Colaboração