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G1
Sob protestos da categoria, começam a valer neste sábado (2) as novas regras
para motoboys e mototaxistas exercerem a profissão no Brasil.
Quem
descumpri-las poderá ser multado e ter a moto apreendida para regularização.
Porém, caberá aos estados decidir se as autuações também serão feitas a partir
de hoje.
O item mais polêmico das novas regras é a exigência de um curso
de capacitação para os motoboys e mototaxistas. As aulas devem ser dadas por uma
instituição autorizada pelos Detrans e podem ser pagas ou gratuitas -fica a
cargo do estado e dos municípios decidirem.
A Associação Nacional dos
Detrans pediu, na última quinta (31) que o Departamento Nacional de Trânsito
(Denatran) determinasse o adiamento da fiscalização com multas por causa do
alto custo dos cursos, alto curso dos equipamentos exigidos, número
reduzido de instrutores capacidados e número reduzido de instituições
capacitadas para os cursos.
Pelos mesmos motivos, o sindicato que
representa a categoria no estado de São Paulo organizou um protesto nesta sexta
(1º) que percorreu diversos pontos da cidade, causando lentidão no
trânsito.
Os Detrans sugerem que a fiscalização comece de forma educativa
e cobre, a partir de junho, os equipamentos de segurança obrigatórios, e que só
a partir de setembro seja cobrado o curso.
O que diz a lei
A lei
federal, de 2009, regulamentada no ano seguinte, já devia ter entrado em vigor
em agosto do ano passado, mas foi adiada justamente pela falta de locais
autorizados a dar as aulas. Sem esse curso e o uso de uma série de equipamentos
de segurança, esses profissionais cometerão, segundo a lei, infração grave (5
pontos na carteira de habilitação e multa de R$ 127,69).
Na prática, cabe
aos estados definir quando as autuações começam a ser feitas. Em São Paulo, a
fiscalização está prevista para começar neste sábado, a cargo da Polícia
Militar. No Rio de Janeiro, não haverá muitas nos primeiros 4 meses, informa o
Detran. Isso porque cursos só começaram a ser dados no estado nesta semana, em
dois únicos pontos.
Como é curso
Com 50 horas-aula, sendo 5 delas de
prática, o curso obrigatório para quem faz entregas ou transporta passageiros em
moto é ministrado por órgãos que sejam autorizados pelo Detran. Pode ser
gratuito ou pago: a decisão é dos estados e municípios. . Parte da carga horária
pode ser cumprida à distância.
No estado de São Paulo, o Detran diz que
cerca de 21 mil profissionais fizeram o curso. O sindicato da categoria estima
que este número seja maior, de 36 mil, somente na capital paulista. Mas ele
ainda é muito inferior aos 500 mil motoboys e mototaxistas que existem no
estado, sendo 200 mil na capital, também de acordo com o Sindimoto.
Custo
do curso
Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) oferece o
curso gratuitamente e diz que disponibiliza incluse a moto para as aulas
práticas. O Detran-SP autorizou ainda 17 auto-escolas e 21 postos do Serviço
Social do Transporte (Sest) a dar as aulas. Nesses casos, o curso é cobrado e,
segundo o departamento, não há valor fixo. O Detran-SP diz que, no Sest, o custo
médio é de R$ 160 e que, no ano passado, ofereceu 20 mil cursos
gratuitos.
No Rio de Janeiro, o Detran diz que oferecerá cursos grátis
com 60 vagas por turma. No Paraná, os cursos são oferecidos por Centros de
Formação de Condutores (CFC) autorizados pelo Detran e custa, em média, de R$
300 e R$ 400, segundo o sindicato local.
Burocracia
O sindicato de SP
se queixa também de que a maioria das cidades ainda não regulamentou a profissão
de motoboys e mototaxistas. E que na capital, onde isso já acontece, a
burocracia atrasa quem quer estar em dia com a lei. Segundo a entidade, 36 mil
profissionais já fizeram o curso, mas apenas 15 mil conseguiram o aval da
prefeitura.
Cabe aos municípios autorizar ou não esse tipo de atividade
no local e como ela se dará. Na capital paulista, por exemplo, não é permitido o
serviço de mototáxi. O motofrete é regulamentado em 14 cidades do estado,
segundo o Detran.
Acidentes
Além de fazerem o curso, os motoboys terão de
utilizar equipamentos de segurança nas motos. O capacete, obrigatório por lei,
deverá ser acompanhado de proteção para as pernas (mata cachorro), antena que
corte linhas (de pipa, por exemplo), colete com faixas refletivas e faixas
refletivas na moto. No caso dos motoboys, é necessária a utilização de uma caixa
(baú) com faixas refletivas e identificação.
Para o ortopedista Marcelo
Rosa de Rezende, do Hospital das Clínicas de São Paulo, a exigência desses
equipamentos é um começo para a redução do número de acidentes. Eles poderão
evitar traumas menores, afirma. A maioria dos traumas de motociclistas
atendidos no hospital, segundo ele, são nas pernas, que têm mais contato com os
carros.
No HC-SP, 44% dos pacientes atendidos na Ortopedia são
motociclistas, diz o médico, mas não é possível determinar se os que trabalham
com moto predominam.
Um levantamento do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do HC feito em 2009 com pacientes vítimas de acidente com
motocicleta apontou que apenas 25% dos usuários aprenderam a dirigir em
auto-escola; 32% se diziam autodidatas e os demais disseram que foram ensinados
por parentes ou amigos.
Saber direção defensiva é o caminho principal, na
opinião de Rezende, para combater traumas mais graves. O médico também é
motociclista. Ando de moto há 30 anos, nunca sofri um acidente, conta. Por
isso acredito muito na direção defensiva, no motociclista bem informado,
instruído. Não faço apologia do uso de moto, ali se está mais exposto, mas,
sabendo disso, me protejo mais.
Para Rezende, o poder público deveria
rever os casos em que o curso é pago porque um acidentado com moto pode custar
muito mais caro aos governos. Um paciente internado aqui na Ortopedia custa, em
média, R$ 40 mil. Ele costuma passar 18 dias aqui, o que é uma média muito alta.
São várias cirurgias, muitas vezes vários dias de UTI. O custo, no fim, é muito
maior do que oferecer curso gratuito para todos, avalia o médico.