Aparentemente a cada novo domingo a feira livre do Bairro Roberto Correia de Araujo em União dos Palmares arregimenta mais vendedores informais e diversifica os produtos expostos a venda, mesmo alguns deles não oferecendo o mínimo de higiene para o consumo humano. Para uns, é sempre divertido fazer um visita ao local; para outros, é uma necessidade econômica comprar na feira. Acrescente-se que também é uma oportunidade impar de conhecer um pouco mais a simplicidade e a sabedoria desta gente simpática e trabalhadora de União dos Palmares.
Na feira se comercializa desde a farinha de mandioca à ‘massa-puba’ que também é um subproduto da mandioca e serve para fazer bolos. Também tem feijão com vasta variedade, verduras, legumes, ferragens, facões, facas-peixeiras, melancias, ‘carne-verde’, galinhas vivas e abatidas, peixes fresco e salgados, tecidos, confecções, raízes de arvores, panelas de barro e como toda feira que se preza, a famosa “feira do troca”.
Lamenta-se, entretanto, a ausência do poder público, desde a organização dos vendedores nos dias dos eventos comerciais para efetuar e preservar a saúde da comunidade através da fiscalização necessária da vigilância sanitária e até mesmo o incentivo para os que os artesãos locais exponham e comercializarem os produtos que fabricam.
A disposição das bancas é desorganizado. A exemplo de eventos similares na cidade, carrinhos de mão atropelam a todo instante os transeuntes; as bancas que comercializam carne verde estão cheias de moscas transmissíveis de doenças (uma desditosa mendiga foi flagrada com as pernas expostas pedindo esmolas defronte às bancas que vendiam carne, ignorando o perigo de contaminação que representa); o que prevalece é o bom humor destes cidadãos que vivem na informalidade cujo trabalho anônimo colabora de forma decisiva na economia do município.
Poucos são os comerciantes que são assíduos nos produtos que vendem. Assim, um dia você pode encontrá-lo vendendo inhame, batata e macaxeira, em outra feira, vendendo verduras ou galinhas ‘capira’. É uma opção atrativa e até certo ponto agradável para as manhãs dos domingos até o inicio das tardes, onde também, se vende fumo ‘in natura’ e a famosa aguardente conhecida como ‘cachaça de cabeça’ ou a ‘misturada’ (que é o acondicionamento a cachaça comum de raízes e ervas).
Produtos do Paraguai nem se fala, pois existem em abundancia. É uma maneira de algumas pessoas humildes sobreviver usando como base a economia das classes menos favorecidas. O sonho de consumo se mistura a qualidade do que é adquirido, que às vezes tem mais utilidade que as grandes marcas e atinge seu objetivo.
Vez por outra, na ‘Feira dos Terrenos’ (*) se ouve o lamento de uma sanfona, o rufar do bombo e a cadencia de um tarol, além, claro de uma apresentação de violeiros que em geral fazem apologia a um fato ou a uma pessoa. É a cultura nordestina provando que ainda tem espaço na modernidade.
(*) O Bairro Roberto Correia de Araujo hoje considerado o maior do interior de Alagoas em função de sua ser população superior a 14 mil habitantes é carinhosamente chamado de “Terrenos” porque o lugar cresceu graças à doação de terrenos da outrora Fazenda Frios para a comunidade de sem tetos da época por políticos. Mais da metade de suas dezenas de ruas não têm a menor infra-estrutura como esgoto e iluminação pública regular, além de ser considerado um dos locais mais violentos da cidade. Margeia a BR-104 por um extensão superior a dois quilômetros. A maior parte de seus moradores sobrevivem da agricultura (cortadores de cana ou prestadores de serviços temporários diversos em fazendas quando não na região em outro estados).
Outro fator que tem colaborado para a expansão da “Feira dos Terrenos” é a proximidade do município da divisa de Alagoas com Pernambuco (apenas 34 quilômetros), o que atrai além de comerciantes do vizinho estado, dezenas de pessoas que só tem tempo de fazer suas compras no domingo. A presença da pequenos estabelecimentos comerciais, dentre estes alguns supermercados e até lojas de material de construção complementam a diversificação do quadro comercial do local
Afinal, no Brasil, nada é completo. Se o fosse, o governo participaria ativamente da feira o que se completaria com a oferta de preços bem menores que o das cidades vizinhas e do próprio comercio do centro da cidade, e porque não, até o fato da ‘Serra da Barriga’ ser localizada em União dos Palmares, e ser conhecida mundialmente poderia influenciar na expansão do turismo, por conseqüência do nosso comercio informal, o que significaria mais divisas para o município com maior quantidade de dinheiro circulando. O que falta, então?
Agora pela manhã tem feira. Por que não vista-la e participar desta ‘Festa do Interior’ em União dos Palmares a apenas 75 quilômetros de Maceió?

















