Sexo e prazer na terceira idade: uma combinação possível?

A  imagem de uma doce velhinha fazendo quitutes deliciosos ...  Um velhinho numa cadeira de balanço lendo jornal, cochilando ou simplesmente entregue às lembranças da juventude. Assim nós, adultos de hoje, crescemos enxergando nossos queridos vovôs e vovós: seres assexuados, sem sonhos, sem projetos, sem prazer e sem vida própria. Figuras que existem apenas para “servir” a filhos e netos.

Assim  vivemos a infância, a adolescência e até a juventude como se não fôssemos jamais chegar à chamada velhice. Apenas na meia idade é que nos damos conta que o envelhecer é inevitável e isso apavora a muitos, principalmente  numa sociedade como a nossa em que a beleza e a juventude são cultuadas fortemente. Aprendemos que apenas os jovens têm valor, são bonitos e sentem prazer.  Daí o desejo desenfreado de segurar a juventude, como se ela por si só fosse a garantia de uma vida  feliz e prazerosa.

A idéia de finitude assusta o ser humano. E a velhice é sinônimo de fim em nossa cultura. Gerações e mais gerações vivenciaram sua velhice apenas à espera  da morte chegar. Felizmente estamos vivendo um período em que os jovens podem esperar muito mais da sua terceira idade. Já existem grupos da chamada “Boa Idade” que se permitem viajar, dançar, estudar, trabalhar, se cuidar, namorar...  enfim, viver e sentir prazer na vida! 

Mas por que será que tantas pessoas ainda se chocam quando o assunto é sexo e prazer sexual na velhice? O que acontece com o sexo nesse período da vida? Bem... tudo muda com o tempo. Por que o sexo não deveria mudar? O modo de fazê-lo, de vivê-lo, de significá-lo, de representá-lo, de sê-lo.  Há mudanças significativas tanto no aspecto físico como fisiológico do sexo, mas não havendo doença ou efeito colateral de algum medicamento, elas não costumam impedir o prazer sexual. É muito importante tanto para o homem como para mulher conhecer as tais mudanças que ocorrem na resposta sexual de ambos. Esse conhecimento vai facilitar a maneira de encarar e vivenciar esta nova fase da vida de uma forma mais positiva.

Muitas das modificações  sexuais que ocorrem na mulher  podem ser atribuídas à diminuição dos hormônios femininos após a menopausa. Nessa fase, é comum haver a falta de lubrificação vaginal, principalmente durante a relação sexual; o revestimento da vagina se torna fino e facilmente irritável; há uma maior exposição do clitóris e redução do seu tamanho; ocorre a  flacidez dos pequenos e grandes lábios; a vagina pode ficar curta, estreita e menos elástica; além da redução ou até mesmo ausência do aumento das mamas durante a excitação. No entanto, por incrível que pareça, nada disso impede a mulher de ter prazer sexual até o fim da vida. Pois muitos desses sintomas podem ser atenuados com o emprego de cremes apropriados e da terapia de reposição hormonal, sob rigorosa supervisão médica. 

Já os homens, apesar de não sofrerem uma queda brusca nos seus hormônios, também vivenciam algumas mudanças. No que diz respeito à ereção, é necessário mais tempo além de uma estimulação genital mais direta para que o homem atinja a mesma; a lubrificação que antecede ejaculação diminui ou desaparece; há uma modesta diminuição na firmeza da ereção; a intensidade e volume da ejaculação diminuem; passa haver uma menor necessidade física de ejacular; há uma perda da ereção logo após a ejaculação e o período refratário passa a ser maior: de horas ou dias. No caso do homem, a mulher pode  ajudá-lo com uma massagem no pênis, fazendo pressão para baixo; isto favorece o acúmulo de sangue nos corpos cavernosos. beneficiando a ereção. Pode ainda facilitar o ângulo de penetração, colocando um travesseiro sob a pélvis durante a relação sexual.

No entanto os grandes vilões do prazer sexual do idoso são os preconceitos e tabus que envolvem o sexo nesta fase da vida. As pessoas sensíveis a essas pressões culturais podem sentir-se culpadas ou embaraçadas quando sentem desejo ou excitação sexual, passando a evitar esse contato. Outro fator que atrapalha bastante o exercício da sexualidade na terceira idade é a vergonha do corpo, principalmente  entre as mulheres. Assim, a preocupação com a estética interfere negativamente na entrega, tão importante para a obtenção do prazer sexual.

Mas por que o corpo tem que ser jovem para usufruir desse prazer? A ideia de beleza precisa urgentemente ser redefinida para que nela sejam incluídas personalidade, inteligência, expressividade, conhecimento, realizações, disposição, estilo pessoal; enfim, traços pessoais que fazem de cada indivíduo único e que podem ser encontrados em qualquer idade.

É importante lembrar que a relação sexual é algo extremamente complexo que abrange o corpo, a mente e as emoções. Assim, não devemos reduzir a atividade sexual ao coito. Na realidade, essa é uma fase propícia para o completo desfrutar da sexualidade tanto por parte do homem como da mulher. O homem está apto para relações mais ricas em carícias e a mulher, livre, sem obrigação de criar filhos, sem medo de gravidez e madura para vivenciar o amor de forma completa .

O sexo na terceira idade faz a pessoa se sentir mais ativa, mais jovem, mais amada e plena. Então, se permita!  Experimente!

... E  assim, a imagem que os nossos netos terão de nós, vovós e vovôs, com certeza será bem mais positiva que aquela da velhinha cozinhando e  do velhinho cochilando. Quem sabe, a de um casal de idosos vivendo sua sexualidade com MUITO PRAZER!!!

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silvana melo