Com tudonahora // wellington santos, gilvan ferreira, lucas lisboa e marina ferro
O crack já ocupa o primeiro lugar no ranking das drogas ilícitas mais consumidas em Alagoas, segundo relatório da Polícia Federal (PF). Esses dados são comprovados com o relatório de apreensão de entorpecentes dos oito últimos meses da Delegacia de Combate ao Narcotráfico da superintendência da PF em Alagoas.
De janeiro a agosto, os policiais federais apreenderam mais de 18 quilos de cloridrato, produto químico utilizado para a fabricação do crack, cinquenta e sete quilos de pasta base e cerca de 160 quilos do crack pronto para venda e consumo.
A quantidade é o dobro da apreensão de maconha. Nesse mesmo período, a Polícia Federal reteve pouco mais de 83 quilos da droga, que, anteriormente, era a mais consumida no estado.
O crack tem relação direta com a violência, de acordo com números oficiais da Secretaria de Estado da Defesa Social (SEDS). Os dados apontam que 80% dos homicídios em Alagoas estão diretamente ligados ao acerto de contas do tráfico de drogas – jovens que matam outros jovens por R$ 10 ou R$ 20 que não foram pagos na venda de uma pedra de crack.
“O crack é mais lucrativo porque vicia mais”
De acordo com o delegado federal Ramon Menezes, titular da Delegacia de Combate ao Narcotráfico, o crescimento do crack no estado tem relação com o aumento do lucro dos traficantes. “Por ter mais poder de viciar, essa droga passou a ter a preferência dos usuários e, assim, gera mais lucro aos traficantes”, explica o delegado federal.
Ele também cita a maior facilidade de transporte e distribuição da droga que, geralmente, chega a Alagoas por via terrestre, vinda da fronteira do Brasil com a Colômbia, passando pelo Mato Grosso e São Paulo. No estado, a droga é distribuída aos usuários por uma rede de traficantes que atuam na maioria dos bairros da capital e no interior. O registro da apreensão e consumo atinge os 102 municípios alagoanos.
A facilidade da produção do crack é outro fator que possibilita o crescimento do mercado. “Em qualquer casebre ou garagem de ponta de rua é possível fabricá-lo, pois a técnica é muito simples”, destaca o delegado.
Um quilo de pasta base de cocaína rende de 4 a 6 quilos de crack, segundo a PF. Já 1 quilo de crack pode ser transformado em 4 mil pequenas pedras da droga; cada uma delas é vendida no varejo pelos traficantes por R$ 5.
“A venda da maconha vem caindo e sendo substituída pela venda do crack” afirma Ramon Menezes. “Estamos apreendendo cada vez menos maconha. É tanto que a produção em algumas áreas de Alagoas, como no alto Sertão, e em municípios do Polígono da Maconha vem sendo reduzida”.
Dependência e programas de tratamento em Alagoas
A evolução da dependência do crack registrada pelo Hospital Portugal Ramalho, em Maceió, dá a dimensão do quadro de epidemia em que se transformou o problema, segundo atesta Aldenis Aguiar, diretor-geral do hospital.
Segundo levantamento quantitativo feito por Aguiar, somente em 2010 o Portugal Ramalho atendeu 95 usuários de crack, de um total de 397 dependentes de drogas internados na unidade. “Por esse levantamento, percebe-se que o crack já responde por quase um terço das dependências de todas as drogas juntas”, observa.
Este ano, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgou uma pesquisa feita durante dez anos com usuários de crack. O trabalho mostra que um terço deles faleceu, outro terço continuou em uso crônico da droga e a outra parte conseguiu entrar em recuperação.
“Esse número de pessoas em recuperação pode aumentar ainda mais, à medida que se ofereça mais tratamentos no Brasil”, comenta o psiquiatra e diretor médico do programa Acolhe Alagoas, Marcelo Machado.
Nos últimos cinco anos o governo do Estado promoveu, no mínimo, dez programas ou ações voltadas para a juventude. Com foco no combate às drogas, na valorização da vida e na promoção da paz, as ações contam com a parceria de organismos da sociedade civil e da Justiça, como o Ministério Público.
Com o programa Acolhe Alagoas, o governo investe pela primeira vez na formação de uma rede de comunidades terapêuticas, com atendimento gratuito a jovens em situação de risco social, principalmente usuários do crack. Atualmente, cerca de 1 mil dependentes estão em tratamento pelo programa.
“Dessas mil pessoas em tratamento, 80% são dependentes do crack”, afirma Maria Luíza Sampaio, superintendente de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Estado da Promoção da Paz (Sepaz).
Hoje são 29 centros de acolhimento em todo o estado, onde o usuário do meio do tráfico fica alojado durante cerca de seis meses. Durante esse tempo, ele participa de um trabalho de resgate de sentimentos, apoio espiritual, terapia ocupacional, entre outras terapias.
Após o cumprimento do programa, o dependente químico em recuperação é atendido por uma equipe da Superintendência de Política sobre Drogas da Sepaz, onde passa por uma avaliação, a fim de ser reinserido no mercado de trabalho.
“Elaboramos os currículos e ensinamos como eles devem se comportar em uma entrevista de emprego”, explica a diretora de Reinserção Social, Suely Xisto. “Depois que o currículo está pronto, nós encaminhamos ao Sistema Nacional de Emprego (Sine)”, completou.
Modalidades de internamento
As comunidades foram divididas em modalidades: para o sexo feminino com idade de 12 a 18 anos; para o sexo masculino com idade de 12 a 18 anos; para o sexo feminino a partir dos 18 anos; e para o sexo masculino a partir dos 18 anos.
Outras duas modalidades são voltadas para as comunidades preparatórias, uma novidade no Acolhe Alagoas 2011. Elas preparam adolescentes a partir dos 12 anos por, no máximo, trinta dias para encaminhá-los às comunidades acolhedoras contratadas.
O titular da Sepaz, Jardel Aderico, disse que os contratos têm validade até dezembro de 2011, período em que a secretaria repassará mensalmente recursos para essas instituições, destinados para custeio e investimentos em bens permanentes.
As comunidades que fazem parte do Acolhe Alagoas 2011 são a Fazenda Esperança, o Centro Betesda, São Miguel Arcanjo, Projeto Sarar, Juvenópolis, Renascer, Dom Bosco, Associação Sagrada Família, Cares, Associação Nossa Senhora das Graças, Comunidade Nova Jericó, Fazenda Divina Misericórdia, Casa do Oleiro, Comunidade Dona Paula, Fundação Rosa Mística, Associação Crack Nem Pensar, CNTV, Kerygma, Bom Samaritano, Comug e Aliança de Restauração.