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Alagoas pode fechar 2011 com mais assassinatos do que 2010, considerado o ano com a maior taxa de homicídios que um Estado brasileiro já registrou. Segundo dados oficiais do Instituto Médico Legal Estácio de Lima – o IML de Maceió, de 1º de janeiro a 31 de agosto deste ano, foram registrados 1.618 homicídios, no Estado.
Deste total, 1.136 homicídios foram registrados pelo IML de Maceió e 482 contabilizados pelo IML de Arapiraca. Não estão contabilizados os achados macabros (corpos desfigurados desovados) e nem as vítimas de latrocínio (roubo seguido de morte).
Mesmo assim, se a média de assassinatos se mantiver no mesmo patamar dos oito primeiros meses do ano – 200 homicídios por mês ou 50 por semana –, o Estado deve chegar ao final de dezembro com mais de 2.400 homicídios. Caso essa projeção se confirme, Alagoas baterá o recorde histórico de 2010, que registrou 2.226 homicídios.
Segundo dados oficiais da Secretaria de Estado de Defesa Social (SDS), os 2.226 assassinatos contabilizados no ano passado representam uma taxa de homicídios de 71,3 para cada 100 mil habitantes. Os dados detalhados dos oito primeiros meses do ano – com informações de mortes por município, sexo e faixa etária –, ainda não foram divulgados pelo governo do Estado.
Também não estão contabilizados os assassinatos registrados no último final semana. De acordo com o IML de Maceió, foram mais de 20 corpos recolhidos, na capital e no interior, nos primeiros dias de setembro. Entre os mortos está o vereador de Anadia, Luiz Ferreira de Souza, assassinado com mais de 12 tiros, na tarde de último sábado.
Luiz Ferreira era médico e foi diretor do Hospital Geral do Estado (HGE). Ele foi seguido, emboscado e morto dentro do carro, logo apoio sair de uma emissora de rádio, onde tinha acabado de confirmar sua pré-candidatura à prefeitura de Anadia, pelo PPS. A Delegacia Geral da Polícia Civil de Alagoas designou três delegados para investigar o crime, que segundo familiares da vítima tem conotação política.
Guerra civil
De acordo com os dados oficiais do IML de Maceió, ao todo, capital e interior, realizaram, de janeiro a agosto deste ano, cerca de 10.500 exames, entre laudos cadavéricos e de lesões corporais. Os legistas do Instituto dizem que os crimes violentos colocam Alagoas numa situação de guerra civil. Por isso, os médicos do IML de Maceió e do IML de Arapiraca – que são os únicos do Estado – reivindicam melhor remuneração e melhores condições de trabalho.
“O médico legista de Alagoas ganha cerca de R$ 3 mil por mês, que representa a metade da menor remuneração paga um profissional de Medicina Legal no Brasil, que é o salário de R$ 6 mil pago em Pernambuco aos profissionais de lá”, comentou um médico legista de Maceió, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, o IML de Maceió tem 19 médicos legistas e 5 odonto-legistas, enquanto o IML de Arapiraca conta com 15 médicos legistas e nenhum odonto-legista.
“Nos últimos anos, Alagoas registrou um aumento assustador no número de homicídios. Por isso a nossa carga de trabalha é muito pesada. Precisamos de mais profissionais, de melhores salários, melhores equipamentos e melhores condições de trabalho. Estamos trabalhando aqui, praticamente, na mesma situação de 15 anos atrás, quando mataram PC Farias e fizeram autópsia dele com uma faca de mesa”, comentou o médico legista, que pediu para não ser identificado.
Segundo ele, os dados de homicídios poderiam ser muito maiores, se fossem contabilizados os corpos desovados ou enterrados em cemitérios clandestinos. De acordo com esse legista, se os dados oficiais do IML já colocam Alagoas na liderança do ranking macabro, imagine se fossem contabilizadas as vítimas de assassinatos cujos corpos são extraviados ou enterrados em cemitérios clandestinos.
Ranking macabro
Pesquisa recente, realizada pelo Ministério da Saúde, afirma que cerca da metade dos cemitérios de Alagoas são clandestinos. Além disso, boa parte dos cemitérios oficiais enterra morto sem atestado de óbito. Essa prática também ajuda a camuflar o número real de assassinatos registrados no Estado.
O governador Teotônio Vilela Filho (PSDB) reconhece que Alagoas enfrenta problemas com a segurança pública, mas diz que esse drama é comum aos outros Estados. Vilela coloca a culpa no avanço das drogas e diz que o governo tem investido pesado na segurança, para reverter o quatro desfavorável. Ele afirma que os índices já foram piores, no entanto os dados revelam que a violência vem recrudescendo no Estado.
Em 1999, por exemplo, Alagoas registrou apenas 552 homicídios. Onze anos depois, em 2010, o crescimento das mortes violentas no Estado foi superior a 300%, com os mais de 2 mil assassinatos registrados no ano passado. Já em comparação a 2009, o Estado registrou em 2010 uma alta de 11% no total de homicídios. Os crimes de mando também continuam, alimentados tanto pela ingerência política quanto pela impunidade que ainda é muito grande no território alagoano.
Para o Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas (Sindpol), "nunca se matou tanto em Alagoas, como no governo Teotônio Vilela". De acordo com levantamento da entidade sindical, nos primeiros quatro anos do atual governo, foram registrados em Alagoas 8.198 homicídios. Esse número daria uma média de 2.050 assassinatos por ano - média já superada em 2010 e prestes a ser superada também em 2011, quando o Estado pode registrar mais de 2,4 mil homicídios.
SDS é assaltada
Além de bem armada, a bandidagem está caba vez mais ousada, em Alagoas. Até a Secretaria de Defesa Social (SDS) foi arrombada e roubada, no último final de semana, em Maceió. Os militares que trabalham na repartição da SDS foram pegos surpresos com a ousadia dos bandidos, quanto chegaram para trabalhar, esta manhã.
Segundo eles - que trabalham no prédio onde funciona uma policlínica dos Bombeiros, no bairro da Pajuçara -, os bandidos invadiram o local, de madrugada, levaram os monitores e os computadores. O furto aconteceu de sábado para domingo e ninguém foi preso. “Eles quebraram a fechadura da porta, entraram e levaram os nossos equipamentos”, revelou um militar. O caso deve ser investigado pela Polícia Civil.