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04/09/2011 15:21:51

Cavalcante é amado e odiado em Santana do Ipanema

Cavalcante é amado e odiado em Santana do Ipanema
Ex-cel. deixa prisão

Com gazetaweb // patricia bastos

 

O folclore em torno do nome do ex-tenente coronel Manoel Francisco Cavalcante permanece forte no município onde ele nasceu, Santana do Ipanema, mesmo depois de passar 13 anos preso, sob a condenação de ter liderado a Gangue Fardada, responsável por vários homicídios ocorridos nas décadas de 1980 e 1990.

A Gazeta de Alagoas esteve na cidade onde o “coronel Cavalcante”, como continua a ser conhecido, começou a sua história. As reações de familiares, amigos de infância e companheiros da política não podiam ser mais diferentes. Enquanto alguns simplesmente se recusam a falar e outros pedem anonimato, há ainda aqueles que dizem sentir saudades da época em que o ex-militar foi comandante do Batalhão.

Em Santana do Ipanema, a população teme até mesmo explicar onde fica a famosa Chácara dos Cavalcante, local que foi utilizado para encontros políticos e que teria servido também para planejar algumas das ações da Gangue Fardada.

Ex-militar pode ser preso novamente

A liberdade de Cavalcante, entretanto, pode durar pouco tempo. O promotor de justiça Cyro Blatter deverá encaminhar, nesta segunda, um pedido de recolhimento imediato do ex-militar ao juiz Braga Neto. Conforme informações divulgadas pelo Ministério Público Estadual, ele não poderia ter sido solto, porque há um pedido de prisão preventiva relacionado a outro processo de homicídio.

Cyro Blatter defende a tese de que a pena em relação ao homicídio de Cristóvão Luiz dos Santos, o “Tó”, que está em grau de recurso no Tribunal de Justiça, não teria sido computada pela Justiça ao conceder a progressão da pena. Em 2007, Manoel Cavalcante foi condenado a 20 anos de prisão pelo assassinato, ocorrido em 1999, no município de Santana do Ipanema. Tó, que trabalhava como caseiro na Chácara dos Cavalcante, era a principal testemunha dos processos relacionados à Gangue Fardada.

Soltura de ex-PM provoca reações

Santana do Ipanema – A soltura do ex-tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante provocou várias reações, que foram desde a indiferença dos deputados João Beltrão, Cícero Ferro e Antônio Albuquerque – delatados por Cavalcante como mandantes de alguns dos crimes cometidos pela Gangue Fardada – até a indignação por parte do procurador-geral de Justiça, Eduardo Tavares.
“Tirar o preso do regime fechado para o regime domiciliar é algo incompreensível e sem precedentes na Justiça brasileira. Por outro lado, o fato de haver uma prisão provisória decretada em desfavor do ex-coronel deveria impedir a soltura dele. De certo modo, foi uma grande perda para a sociedade alagoana”, afirmou o procurador.

Amigos de infância exaltam o ex-oficial

Apesar do medo de muitas pessoas de falar sobre Manoel Cavalcante, amigos de infância do ex-militar o retratam como uma pessoa simples e simpática.
“Mesmo depois, quando ele voltou para Santana já como militar, continuou uma pessoa simples. Sinto saudades da época em que ele e o delegado Ricardo Lessa mandavam aqui. A gente podia dormir com as portas abertas que ladrão não entrava. Naquela época, a polícia era muito respeitada”, afirmou José Alírio de Queiroz.

Segundo ele, Cavalcante foi uma pessoa muito influente em Santana na década de 90, quando comandou o 9º Batalhão da Polícia Militar. Na mesma época, ele começou a se envolver na política.

Crimes da Gangue Fardada

Até hoje não há uma noção exata de quantos crimes foram praticados pela Gangue Fardada, que envolvia 32 policiais e ex-policiais militares, além de um ex-prefeito e um delegado. A estimativa é de que mais de cem pessoas foram assassinadas pela quadrilha. No início, o grupo agia a mando de políticos e de pessoas influentes no Sertão, e depois de algum tempo os assassinatos passaram a incluir testemunhas e os próprios membros da gangue, em crimes de queima de arquivo. A quadrilha seria responsável também por sequestros, extorsão, assalto a banco e roubos de carros e cargas.

Cavalcante foi condenado pela morte do delegado Ricardo Lessa e do motorista dele, Antenor Carlota da Silva, ocorrido em 1991. O delegado, que atuava no Sertão, seria líder de um grupo de extermínio rival da Gangue Fardada. Os ex-policiais militares Everaldo Pereira dos Santos e Cícero Felizardo foram condenados a 33 anos de prisão pela autoria material do crime.