De acordo com uma pesquisa recente, aproximadamente 20% da população brasileira já utilizou drogas proibidas pelo menos uma vez. O levantamento, elaborado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e atualizado pelo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), revela que 18,7% dos brasileiros tiveram contato com substâncias psicoativas ilegais. Entre os homens, esse índice chega a 23,9%, enquanto entre as mulheres, o percentual é de 13,9%.
Notavelmente, entre as adolescentes do sexo feminino, a incidência de consumo foi maior do que entre os meninos. A pesquisa destaca que, até um ano antes da coleta de dados, mais de 8,1% dos brasileiros — o que corresponde a cerca de 13 milhões de pessoas — tinham feito uso de drogas ilícitas.
O estudo aponta ainda que, de 2012 a 2023, o consumo entre adultos mais do que dobrou, passando de 6,3% para 15,8%. Essa expansão foi especialmente acentuada entre as mulheres, com a participação delas crescendo de 3% para 10,6%.
Realizada com uma amostra de 16.608 indivíduos acima de 16 anos durante os anos de 2022 e 2023, a pesquisa mantém a mesma metodologia das versões anteriores de 2006 e 2012, permitindo comparações históricas. Segundo Clarice Madruga, pesquisadora responsável pelo estudo, os resultados evidenciam grupos mais vulneráveis frente ao consumo problemático, especialmente entre jovens do sexo feminino.
O relatório também aponta uma expansão no padrão de uso, com mudanças no perfil dos consumidores, sobretudo entre adolescentes e mulheres, além de um aumento na presença de substâncias sintéticas. As regiões Sul e Sudeste lideram o consumo, com uma concentração significativa em jovens adultos entre 18 e 34 anos.
Os dados indicam que o uso de cocaína e crack permanece relativamente estável, embora haja sinais de crescimento no consumo de estimulantes sintéticos e alucinógenos em ambientes urbanos de lazer. Em nível internacional, o estudo posiciona o Brasil numa faixa intermediária de prevalência de uso, porém com uma alta incidência de transtornos associados, o que sobrecarrega os serviços de saúde mental, emergência e políticas públicas específicas.
O uso de cannabis, conhecida também como maconha, skunk ou haxixe, continua sendo a droga ilícita mais consumida no país. Mais de 10 milhões de brasileiros, ou seja, 6% da população, relataram uso na última década. O número total de indivíduos que já experimentaram a substância é de aproximadamente 28 milhões (15,8%), o dobro do registrado em 2012, com maior aumento entre as mulheres.
Entre jovens de 14 a 17 anos, ao menos um milhão são usuários ocasionais, sendo que metade deles utilizou a droga no ano anterior à pesquisa. A mudança nas tendências também é perceptível, com uma redução do consumo entre meninos de 7,3% para 4,6%, enquanto o uso entre meninas cresceu de 2,1% para 7,9%.
Mais da metade dos usuários de cannabis (54%) declarou consumir diariamente por pelo menos duas semanas consecutivas, o que equivale a 3,3% da população, ou mais de 3,9 milhões de pessoas. Aproximadamente 2 milhões de brasileiros atendem aos critérios de dependência da substância, representando 1,2% da população ou uma a cada três pessoas que usam a droga.
O estudo revela que cerca de 3% dos consumidores já buscaram atendimento de emergência devido ao uso, sendo que, entre adolescentes, essa proporção sobe para 7,4%, indicando maior vulnerabilidade a crises agudas e intoxicações.
Outra tendência apontada é o crescimento do uso de drogas sintéticas e psicodélicas na última década. O consumo de Ecstasy aumentou de 0,76% para 2,20%, enquanto a utilização de alucinógenos saiu de 1,0% para 2,1%. Além disso, os estimulantes estimulantes sintéticos (ATS) tiveram um aumento de 2,7% para 4,6%.
O levantamento foi realizado em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e a Direção de Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, além do instituto Ipsos Public Affairs.
A pesquisa evidencia um mercado de drogas mais complexo, com uma maior variedade de substâncias, o que implica riscos adicionais para os consumidores, principalmente os jovens.
A vulnerabilidade de adolescentes, especialmente meninas, frente a eventos adversos, sofrimento psicológico, poliuso e situações de emergência exige a revisão das estratégias de prevenção, que devem ser mais sensíveis às questões de gênero e integradas à promoção da saúde mental, redução da violência e combate à discriminação.
Para os especialistas, os resultados reforçam a importância da vigilância epidemiológica contínua sobre álcool e drogas, como ferramenta essencial para o sistema de saúde e proteção social. Segundo eles, esse monitoramento é fundamental para orientar políticas de atendimento mais eficazes e informadas, contribuindo para o enfrentamento das questões relacionadas ao uso de substâncias ilícitas na sociedade brasileira.