23/12/2025 20:29:21

Comportamento
14/12/2025 00:00:00

Pesquisa revela que quase 20% dos brasileiros já experimentaram substâncias ilícitas

Dados indicam maior prevalência entre jovens do sexo feminino e crescimento no uso de drogas sintéticas

Pesquisa revela que quase 20% dos brasileiros já experimentaram substâncias ilícitas

De acordo com uma nova análise, aproximadamente uma em cada cinco pessoas no Brasil, ou seja, 18,7%, já tiveram contato com drogas proibidas ao menos uma vez ao longo da vida. Esse estudo, elaborado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), atualizou os dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad).

O levantamento mostra que 23,9% dos homens e 13,9% das mulheres já usaram substâncias psicoativas ilícitas. Além disso, a pesquisa revelou uma maior incidência de consumo entre adolescentes do sexo feminino (menores de idade), com um número superior ao dos meninos nessa faixa etária.

O estudo aponta que, até um ano antes da coleta de dados, mais de 8,1% dos brasileiros, totalizando cerca de 13 milhões de pessoas, tinham feito uso de drogas. Comparando os anos de 2012 e 2023, o consumo geral entre adultos saltou de 6,3% para 15,8%, apresentando um crescimento de aproximadamente 150%. Por outro lado, para as mulheres adultas, essa taxa aumentou de 3% para 10,6%, triplicando em relação ao passado.

Realizada com uma metodologia semelhante às duas primeiras edições do estudo, a pesquisa contou com 16.608 questionários respondidos por indivíduos com idade superior a 16 anos, nos anos de 2022 e 2023. Os resultados indicam uma necessidade urgente de atenção especial às jovens meninas, especialmente as mais novas, conforme destacou a especialista Clarice Madruga, uma das responsáveis pelo relatório.

O documento também evidencia uma expansão no consumo de drogas, mudanças nos perfis dos usuários, sobretudo entre adolescentes e mulheres, além do aumento na presença de substâncias sintéticas no país. As regiões Sul e Sudeste lideram o consumo, concentrado principalmente em jovens adultos de 18 a 34 anos.

Os dados indicam uma estabilidade no uso de cocaína e crack, embora apontem uma expansão do uso de estimulantes sintéticos e drogas alucinógenas em ambientes urbanos de lazer. Internacionalmente, o estudo mostra que o Brasil ocupa uma posição intermediária em prevalência de uso de drogas, mas apresenta uma elevada incidência de transtornos relacionados ao consumo, impactando significativamente os sistemas de saúde mental, emergência e políticas públicas.

O uso de cannabis continua sendo a substância ilícita mais popular no país, com cerca de 10 milhões de brasileiros tendo consumido o produto no último ano, o que representa 6% da população. No total, 28 milhões de pessoas com 14 anos ou mais já experimentaram a maconha ao longo da vida, o dobro do índice registrado em 2012, com aumento mais expressivo entre as mulheres.

Entre jovens de 14 a 17 anos, ao menos um milhão são consumidores ocasionais, metade deles tendo usado a droga no último ano. Diferentemente das edições anteriores, o consumo entre meninos caiu de 7,3% para 4,6%, enquanto entre meninas houve um aumento de 2,1% para 7,9%.

Mais da metade dos usuários de cannabis (54%) declarou uso diário por pelo menos duas semanas consecutivas, o que equivale a 3,3% da população, ou seja, mais de 3,9 milhões de brasileiros. Além disso, aproximadamente 2 milhões de indivíduos atendem aos critérios de dependência, representando 1,2% da população ou um a cada três usuários.

O estudo mostra que cerca de 3% dos consumidores procuraram assistência de emergência devido ao uso, enquanto esse índice sobe para 7,4% entre adolescentes, sinalizando maior vulnerabilidade a intoxicações e crises agudas, conforme os dados.

Nos últimos dez anos, também houve crescimento na experimentação de drogas sintéticas e psicodélicas. O uso de Ecstasy subiu de 0,76% para 2,2%, enquanto o de alucinógenos passou de 1,0% para 2,1%. Além disso, estimulantes sintéticos, conhecidos como ATS, tiveram aumento de 2,7% para 4,6%.

Este levantamento foi realizado em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e a equipe de Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em colaboração com a Ipsos Public Affairs.

A pesquisa destaca que o crescimento no consumo de drogas sintéticas evidencia um cenário mais complexo e com maior risco para os usuários, especialmente adolescentes, com maior vulnerabilidade de meninas a eventos adversos, sofrimento psicológico, poliuso e necessidade de intervenções emergenciais.

Tais descobertas reforçam a importância de revisões nas estratégias de prevenção, que devem ser mais sensíveis às questões de gênero, integrando-se à promoção da saúde mental e à redução de violência e discriminação.

Para os especialistas, os resultados ressaltam a indispensabilidade de uma vigilância contínua sobre o uso de álcool e outras drogas, como ferramenta essencial na rede de proteção social e saúde pública. Além disso, ressaltam a relevância de pesquisas periódicas para orientar ações governamentais e políticas públicas eficazes na atenção aos consumidores e na prevenção do uso de substâncias ilícitas.