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América Latina
23/12/2025 18:00:00

Venezuela no centro de uma complexa disputa geopolítica envolvendo EUA, China e Rússia

Conflitos internacionais se intensificam na região, com petróleo como principal fator de interesses divergentes

Venezuela no centro de uma complexa disputa geopolítica envolvendo EUA, China e Rússia

A Venezuela tornou-se palco de uma rivalidade tensa entre potências globais, onde o petróleo desempenha papel crucial na estratégia de cada nação. Os Estados Unidos, a China e a Rússia estão envolvidos em uma disputa que vai além das questões econômicas, refletindo interesses políticos e de influência na América Latina.

Recentemente, a Marinha americana intensificou suas ações no Caribe, apreendendo embarcações que partem da Venezuela, incluindo petroleiros, desde dezembro de 2025. Além de combater o narcotráfico — cuja participação do país sul-americano ainda é debatida por especialistas —, os EUA também visam interromper o fluxo de petróleo venezuelano no mercado internacional.

A importância do petróleo venezuelano para a economia global é inegável. Com reservas superiores a 300 bilhões de barris, o país detém as maiores reservas comprovadas do planeta e encontra-se em uma condição econômica delicada. Essas riquezas energéticas são uma peça-chave na estratégia do governo dos EUA, especialmente sob a administração de Donald Trump, que considerava os recursos venezuelanos essenciais para suas políticas energéticas.

Além disso, a relação de Maduro com Pequim é fortalecida pelo controle sobre essas reservas, que representam uma oportunidade de reforçar a autonomia energética da China diante das sanções ocidentais, que vetam certos tipos de petróleo venezuelano, como o Merey. A China, por sua vez, vem aumentando suas importações de petróleo venezuelano, atualmente respondendo por cerca de 4% do total do país.

Segundo análises de mercado citadas pela agência Reuters, espera-se que, em dezembro, a China registre recordes diários de compras, adquirindo mais de 600 mil barris por dia — volume que equivale à maior parte da produção venezuelana diária. Esse fornecimento é estratégico para Pequim, que busca reduzir sua dependência de fontes externas e ampliar sua autonomia energética globalmente.

Como contrapartida, o fluxo de capital chinês para a Venezuela é expressivo, incluindo empréstimos que totalizam entre 60 e 70 bilhões de dólares, fortalecendo o apoio financeiro ao regime de Maduro. A relação sino-venezuelana também se manifesta na tecnologia e defesa. Equipamentos militares chineses estão presentes no país, assim como a infraestrutura de telecomunicações, que tem forte participação de componentes chineses. Em uma demonstração dessa relação, Maduro apresentou em setembro um novo celular Huawei, alegando que foi um presente de Xi Jinping, garantido como inatingível pelos serviços de inteligência americanos.

A aproximação entre Caracas e Pequim demonstra também uma estratégia de resistência às pressões ocidentais, com Pequim posando como aliada de Maduro, mesmo condenando verbalmente ações como a apreensão de petroleiros. Essa postura é vista como uma manobra para manter os EUA distraídos na região, enquanto a China solidifica sua presença. Por outro lado, a atenção de Washington tem se concentrado cada vez mais no Indo-Pacífico, onde a China busca consolidar seu domínio e expandir suas reivindicações sobre Taiwan.

Isso favorece Pequim, que consegue tirar o foco dos Estados Unidos da Venezuela e de Cuba, áreas nas quais busca ampliar sua influência. A Rússia também possui interesses estratégicos na Venezuela, tentando estabelecer uma presença duradoura na América Latina para desafiar a hegemonia americana na região.

Desde o encontro do então presidente Vladimir Putin com Hugo Chávez, em 2001, Moscou tornou-se o principal fornecedor de armas para Caracas. Quando a crise política venezuelana se agravou em 2019, com Juan Guaidó se autoproclamando presidente e recebendo apoio imediato dos EUA, a Rússia enviou tropas e equipamentos militares para reforçar Maduro, revertendo qualquer tentativa de mudança de regime por parte de Washington.

Analistas como Vladimir Rouvinski destacam que, neste cenário, Moscou conseguiu, de certa forma, salvar o mandatário venezuelano, criando uma situação inédita desde a crise dos mísseis em Cuba, onde Washington precisou negociar diretamente com Moscou. No entanto, especialistas alertam que a Rússia, por ora, limita-se a oferecer apoio verbal, sem envolvimento decisivo na crise venezuelana.

Os EUA, por sua vez, continuam a pressionar Caracas, incluindo declarações de Donald Trump exigindo a devolução de bens e recursos que, segundo ele, foram anteriormente expropriados pelo regime. As ações de Washington refletem também interesses econômicos na região, especialmente na Guiana, onde a exploração de petróleo na área de Essequibo, reivindicada pela Venezuela, mostra-se mais lucrativa para empresas americanas.

Durante seu mandato, Trump ampliou sanções contra Maduro e buscou a derrubada do regime venezuelano, apoiando opositores como Guaidó. A estratégia envolveu ações militares, políticas e econômicas, com forte ênfase na tentativa de mudanças de poder, mesmo diante de obstáculos e limitações impostas por interesses geopolíticos mais amplos.