A expectativa pelo resultado da Mega da Virada, considerada o principal sorteio das Loterias Caixa, tornou-se uma tradição entre os brasileiros na última noite de dezembro. Nesta 17ª edição, o prêmio chegou ao patamar histórico de R$ 1 bilhão, representando um aumento de 57% em relação aos R$ 635 milhões do ano anterior, o maior valor já previsto em todas as edições da loteria.
As apostas podem ser feitas até às 20h de quarta-feira (31/12), horário de Brasília. O sorteio ocorrerá no mesmo dia às 22h, sendo transmitido ao vivo pelo Facebook das Loterias CAIXA e pelo canal oficial da CAIXA no YouTube. Este prêmio não acumula. Caso não haja ganhadores na faixa principal, que exige acerto de seis números, o valor será redistribuído entre os acertadores da segunda faixa, que requer cinco acertos, e assim sucessivamente.
Segundo informações da Caixa Econômica Federal, o montante recorde de 2024 é resultado tanto do sucesso nas vendas quanto de duas modificações na mecânica de cálculo do prêmio: o aumento da porcentagem de arrecadação destinada à premiação de 5% para 10%, e a elevação do percentual do prêmio para a primeira faixa de 90%. Antes de divulgar a estimativa do prêmio de um concurso, análises preditivas são realizadas com base no histórico de vendas e no impacto de outras modalidades de loterias, além do prazo de apostas disponíveis.
Para determinar o valor estimado do prêmio, a Caixa aplica percentuais específicos previstos para cada faixa de premiação, conforme diretrizes do Ministério da Fazenda. Desde 2009, quando começou a realização da Mega da Virada, 130 apostas vencedoras já foram registradas, com os números mais frequentes sendo: 10 (cinco vezes), 5, 33 e 36 (quatro vezes cada), além de 3, 17, 20, 29, 34, 41, 56 e 58 (três vezes cada).
Ainda assim, existem dúvidas sobre a melhor estratégia de escolha de números ou combinações que possam aumentar as chances de sucesso, além de questionamentos sobre jogos coletivos e bolões. Matematicamente, o que define as probabilidades de ganhar na Mega da Virada é o número total de combinações possíveis de seis números, considerando os 60 disponíveis no total. Segundo o estatístico Euler Alencar, essa chance é de aproximadamente 1 em 50.063.860, ou seja, cerca de 0,000001997%.
Para ilustrar, a probabilidade de uma pessoa acertar a combinação principal é comparável a tirar um nome aleatório de um saco com 50 milhões de nomes e sorteá-lo. Diego Marques, professor do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília (UNB), explica que quanto maior o número de combinações possíveis, menor a probabilidade de vitória.
Contudo, a chance de não haver ganhadores na faixa principal, considerando o número de apostas realizadas, é bastante baixa. Em 2023, por exemplo, o número de apostas superou 485 milhões, tornando improvável que alguém acerte todos os seis números devido ao limite de combinações possíveis, que é pouco mais de 50 milhões. Com uma quantidade tão elevada de apostas, a probabilidade de ninguém acertar diminui à medida que se faz mais apostas.
Para 80 milhões de apostas, por exemplo, a chance de nenhum vencedor fica em torno de 20%, enquanto com 150 milhões, ela cai para cerca de 5%. A Mega da Virada, diferente de outros concursos, não acumula, o que aumenta o incentivo para apostas em faixas inferiores, como cinco ou quatro acertos, ampliando as possibilidades de ganhar. A estratégia mais eficaz para ampliar as chances de vitória, de acordo com especialistas, é realizar múltiplos jogos. Isso pode ser feito de duas formas: efetuando várias apostas de seis números ou optando por apostas múltiplas, que envolvem mais números na mesma aposta.
Contudo, o custo aumenta proporcionalmente ao número de números selecionados, sendo R$ 6 para uma aposta simples de seis números, e R$ 42 para sete números. Matematicamente, apostar em mais números oferece a mesma possibilidade de aumento de chances quanto fazer diversas apostas.
Por exemplo, apostar em sete dezenas equivale a fazer sete apostas de seis números, reduzindo a probabilidade de 1 em 50 milhões para cerca de 1 em 7 milhões. Essa é uma estratégia considerada inteligente pois permite maior cobertura de combinações com menor custo.
Quanto à questão de números mais ou menos propensos a serem sorteados, os matemáticos garantem que todos têm iguais chances. Seja escolhendo números aleatórios ou sequências específicas como 1, 2, 3, 4, 5 e 6, a probabilidade permanece a mesma, cerca de 1 em 50 milhões.
Assim, não há vantagem em apostar em números históricos ou mais sorteados. Por vezes, a imprensa publica listas dos números mais frequentes até hoje, levando as pessoas a questionar se vale a pena apostar nesses. Especialistas ressaltam que o passado não influencia o presente de um sorteio aleatório; toda combinação tem a mesma chance de ser sorteada. Por outro lado, selecionar números baseados em datas de aniversários ou outros padrões reduz a variedade de possibilidades, aumentando a chance de divisão do prêmio com outros vencedores.
Jogos coletivos e bolões representam uma estratégia eficaz de aumento de possibilidades. Ao unir recursos, o grupo consegue fazer apostas com maior quantidade de números, elevando as chances de vitória, mesmo que o prêmio seja dividido posteriormente.
Na Mega da Virada, o número de participantes não altera as probabilidades individuais de acerto, que permanecem em torno de 1 em 50 milhões. Contudo, o valor do prêmio aumenta com o número de apostas, tornando mais atraente o risco de dividir o montante.
Quando comparado a outros eventos extremamente raros, ganhar na Mega-Sena é consideravelmente mais provável do que ser atacado por um tubarão ou atingido por um raio, de acordo com especialistas.
Récis Varão, da Unicamp, estima que a chance de ataque de tubarão é de 1 em 10 milhões, enquanto a de ser atingido por um raio é de aproximadamente 1 em 1 milhão, ou seja, é 50 vezes mais provável ser atingido por um raio do que vencer na loteria. Além disso, cerca de uma em cada 10 mil pessoas nasce com seis dedos na mão, o que torna essa ocorrência cerca de 5 mil vezes mais provável do que ganhar na Mega-Sena, segundo Marques, da Universidade de Brasília.
Apesar das probabilidades baixas, muitos matemáticos admitiram que apostam na loteria como uma forma de diversão ou sonho, reconhecendo que a loteria é uma espécie de imposto disfarçado para quem desconhece estatística. O próprio conceito de jogar, mesmo sabendo das chances, é motivado pelo aspecto psicológico de imaginar o que faria com o prêmio. Moacyr Alvim, da Escola de Matemática Aplicada da FGV, alerta que a loteria não deve ser encarada como investimento.
Quem pensa que, investindo muito dinheiro ou sendo esperto, pode garantir a vitória, está cometendo um erro, já que o jogo é estruturado para fazer a maioria das pessoas perderem dinheiro. Ainda assim, a diversão de jogar, como presente de Natal, pode valer a pena para muitos, desde que com moderação.