Com o ambiente europeu ainda dividido, o Mercosul intensifica sua estratégia de estabelecer novos acordos comerciais, destacando-se na arena global diante da hesitação da União Europeia em avançar com o tratado de livre comércio. Enquanto a UE enfrenta obstáculos internos e resistência agrícola, países como Japão, Índia e Canadá demonstram forte interesse em fortalecer vínculos econômicos com o bloco sul-americano.
Impulsionadas pelas tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump, as negociações entre o Mercosul e nações como Emirados Árabes Unidos, Canadá e Índia estão ganhando destaque, representando uma resposta às restrições comerciais americanas.
Por Augusta Saraiva 21 de dezembro de 2025 | 13h37 Últimas cotações Ibovespa -0,29% 158.006,06 pontos Dólar +0,60% R$ 5,58 Nasdaq +0,55% 23.435,68 pontos Bitcoin/USD +1,66% 89.606,54 dólares
Segundo a Bloomberg, enquanto a União Europeia se esforça para fechar um acordo comercial com o Mercosul, concorrentes globais atentos ao mercado consumidor e às vastas reservas minerais da América do Sul monitoram o movimento.
As negociações entre o bloco sul-americano e parceiros como Emirados Árabes Unidos, Canadá e Índia estão adquirindo nova relevância, como contrapeso às tarifas impostas pelos Estados Unidos na gestão Trump.
Por outro lado, uma União Europeia fragmentada mantém sua postura de cautela após mais de duas décadas de debates e tentativas de acordo.
O receio de que países rivais tenham acesso preferencial ao mercado do Mercosul — incluindo seus minerais estratégicos — tem chamado atenção de centros de influência desde Londres até Tóquio.
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Yasushi Noguchi, embaixador do Japão no Brasil, afirmou nesta semana à Bloomberg News que há forte interesse do seu país na dinâmica do acordo entre UE e Mercosul, devido à concorrência direta das companhias japonesas com as europeias no mercado internacional.
A frustração do Japão com a demora na assinatura foi evidenciada na reunião de líderes do Mercosul no sábado (20), marcada pelos entraves causados pela resistência dos agricultores europeus, especialmente na França e na Itália.
Na ocasião, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva declarou que “sem vontade política e coragem dos líderes europeus, não será possível concluir um tratado que se arrasta há 26 anos”, reforçando que o Mercosul continuará buscando novas parcerias enquanto o impasse persiste.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que tinha previsto participar da assinatura do acordo, teve que cancelar sua viagem na última hora após a UE não conseguir reunir apoio suficiente para a ratificação. O entendimento é de que a votação deve ocorrer em meados de janeiro. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que possui voto decisivo, manifestou confiança de que poderá aprovar o tratado, caso obtenha mais tempo para consolidar o apoio interno.
O bloco do Mercosul, composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, já havia concordado com uma medida de salvaguarda de última hora exigida pela UE, destinada a proteger seus agricultores. Países como França e Polônia continuam a se opor ao tratado, alegando que sua agricultura, especialmente na América do Sul, enfrentaria prejuízos significativos.
De acordo com a Bloomberg Economics, a assinatura do acordo poderia gerar um crescimento de 0,7% na economia do Mercosul até 2040, enquanto na Europa o impacto estimado é de 0,1%. Ainda assim, analistas destacam que a União Europeia ganha também em projeções de influência geopolítica, especialmente em uma região onde a China amplia sua presença.
Para o continente sul-americano, o tratado representa uma oportunidade de criar um mercado com aproximadamente 780 milhões de consumidores, potencializando setores como o agrícola e ampliando os investimentos europeus na região.
Com as tarifas de Trump alterando o comércio global, a União Europeia busca acelerar a formação de novas alianças e fortalecer acordos antigos, numa estratégia de diversificação. Em 2025, o Mercosul firmou um pacto de livre comércio com o bloco da EFTA, que inclui Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, e planeja avançar com negociações com Emirados Árabes Unidos e Canadá até 2026.
Além disso, há planos para iniciar diálogos comerciais com o Reino Unido, aprofundar conversas com o Vietnã e El Salvador, e estabelecer uma estrutura de cooperação econômica com o Japão. Segundo o ministro paraguaio das Relações Exteriores, Ruben Ramirez, a disposição é de avançar, reconhecendo os limites dos prazos internos europeus, mas alertando que tais prazos não são ilimitados.