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19/12/2025 11:00:00

Identificação precoce de sinais de depressão pode prever risco de Alzheimer

Estudo de duas décadas indica que certos sintomas emocionais na meia-idade estão associados ao desenvolvimento de demência futuramente

Identificação precoce de sinais de depressão pode prever risco de Alzheimer

Uma pesquisa realizada ao longo de vinte anos na Inglaterra sugere que certos indicativos emocionais durante a meia-idade podem servir como alertas antecipados de uma possível degeneração cerebral futura, incluindo a doença de Alzheimer.

O estudo, publicado na revista The Lancet Psychiatry na última segunda-feira (15/12), revela que seis sinais específicos de depressão estão ligados a uma maior probabilidade de desenvolver demência posteriormente.

Embora a conexão entre depressão e demência seja amplamente reconhecida, os cientistas destacam que nem todos os sintomas depressivos possuem o mesmo impacto. Segundo Philipp Frank, psicólogo epidemiológico responsável pela pesquisa, “os resultados demonstram que o risco de Alzheimer está relacionado a um subconjunto particular de manifestações depressivas, não à depressão como um todo.

Essa análise mais detalhada nos ajuda a identificar indivíduos mais vulneráveis anos antes do surgimento da condição”. O estudo foi conduzido por uma equipe do University College London, no Reino Unido, analisando dados de 5.811 participantes de uma investigação longitudinal iniciada no final da década de 1990. Na fase inicial, entre 1997 e 1999, os voluntários tinham idades entre 45 e 69 anos e não apresentavam diagnóstico de demência.

Ao longo de aproximadamente vinte anos, os pesquisadores acompanharam a evolução mental desses participantes, coletando informações detalhadas sobre sua saúde emocional. Os registros médicos e de saúde pública utilizados até 2023 indicaram que 10,1% das pessoas desenvolveram alguma forma de demência. A análise revelou que indivíduos que apresentaram cinco ou mais sintomas de depressão na meia-idade tiveram um aumento de 27% na chance de receberem um diagnóstico de demência posteriormente. Entre os sintomas que elevaram o risco, destacam-se a perda de autoconfiança, dificuldades para lidar com problemas cotidianos, ausência de afeto pelos outros, nervosismo constante, baixa concentração e insatisfação com tarefas diárias.

Destes, a perda de segurança pessoal e a sensação de incapacidade de enfrentar desafios diários tiveram o impacto mais marcante, aumentando o risco de demência em cerca de 50% cada. Por outro lado, sintomas clássicos de depressão, como alterações no sono e pensamentos suicidas, não mostraram correlação significativa com o desenvolvimento de demência ao longo do tempo.

Os autores ressaltam que o estudo identifica associações estatísticas, sem estabelecer uma relação causal direta. Contudo, os resultados sugerem que certos padrões emocionais e cognitivos podem ser sinais precoces de alterações no cérebro. Frank complementa: “Prestar atenção a essas manifestações emocionais na meia-idade pode abrir possibilidades para intervenções preventivas mais eficazes. Os sintomas comuns desse período parecem conter informações relevantes sobre a saúde cerebral a longo prazo”.

A pesquisa também contribui para uma compreensão mais aprofundada da depressão, reconhecendo que ela não se manifesta de maneira uniforme em todas as pessoas. Os sintomas variam bastante e frequentemente se confundem com sinais de ansiedade, tornando o diagnóstico e o acompanhamento mais complexos. Porém, os próprios autores reconhecem limitações na análise, como o fato de o estudo ter sido conduzido somente no Reino Unido, predominantemente com trabalhadores públicos, um grupo geralmente mais saudável do que a média.

Assim, a incidência de demência observada foi inferior à registrada na população geral britânica. Apesar disso, os pesquisadores consideram os dados relevantes como ponto de partida para futuras investigações, especialmente diante do envelhecimento acelerado da população mundial e do aumento previsto de casos de demência nas próximas décadas.

Mika Kivimäki, epidemiologista, afirma: “A depressão apresenta diferentes formas e frequentemente se sobrepõe aos transtornos de ansiedade. Descobrimos que esses sinais sutis podem indicar quem tem maior risco de desenvolver problemas neurológicos, permitindo uma abordagem mais personalizada na prevenção e tratamento de condições de saúde mental”.