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Acidente
15/12/2025 16:00:00

Ascensão da direita: Kast conquista a presidência chilena em cenário de mudança na América Latina

Novo líder chileno promete combate à imigração ilegal e reformas econômicas enquanto simboliza uma guinada política na região

Ascensão da direita: Kast conquista a presidência chilena em cenário de mudança na América Latina

No domingo (14), o ex-deputado e descendente de alemães, José Antonio Kast, foi eleito o próximo presidente do Chile, marcando uma virada política significativa na América Latina, em meio a uma crescente insatisfação com a criminalidade e a imigração descontrolada.

Com 83,4% das urnas processadas, Kast conquistou aproximadamente 59% dos votos, superando a candidata de centro-esquerda Jeannette Jara, que obteve cerca de 41%, conforme dados do órgão eleitoral Servel.

Ao tomar posse em 11 de março, o novo mandatário anunciou que seu governo será caracterizado por uma postura de emergência, com foco na repressão à imigração clandestina, além de propostas para redução de impostos e cortes nos gastos públicos. Sua vitória foi refletida em todas as 16 regiões do país. Kast, que possui uma trajetória como ex-deputado de direita e tem suas raízes familiares na imigração alemã do pós-guerra, tende a alinhar o Chile às lideranças de direita globais, embora evite fazer comparações diretas.

Sua agenda inclui estreitas ligações com figuras de destaque de extrema-direita, tendo se encontrado com líderes como Giorgia Meloni, do Itália; Nayib Bukele, de El Salvador; e Viktor Orbán, da Hungria. Durante a campanha, Kast amenizou suas posições conservadoras em temas sociais, como aborto, buscando atrair um eleitorado mais moderado, enquanto intensificava críticas ao presidente de esquerda, Gabriel Boric. A sua campanha foi celebrada por apoiadores no bairro de Las Condes, em Santiago, onde bandeiras chilenas foram agitadas e buzinas tocaram em comemoração após o anúncio da vitória.

A ex-candidata Jara, do Partido Comunista do Chile, reconheceu a derrota publicando uma mensagem no X (antigo Twitter), destacando que a democracia foi clara em seu veredito. Ela liderou uma coalizão de partidos de esquerda e centro-esquerda, defendendo questões sociais e de segurança, e agora deve assumir um papel de oposição ao novo governo.

Na esfera regional, a vitória de Kast simboliza uma tendência de rejeição aos governos de esquerda na América Latina, após o sucesso de Javier Milei nas eleições argentinas e o término de 20 anos de administração socialista na Bolívia, sob lideranças como Rodrigo Paz. Além disso, seu triunfo representa uma vantagem estratégica para os Estados Unidos, especialmente para o ex-presidente Donald Trump, ao fortalecer alianças conservadoras na região, que tem se voltado mais para a China nas últimas décadas.

De acordo com Marco Moreno, diretor do Centro de Democracia e Opinião Pública na Universidade Central do Chile, esta vitória marca o início de um ciclo político baseado na busca por mudanças radicais. As primeiras ações de Kast deverão incluir o enfrentamento de uma crise na segurança pública, com medidas mais restritivas, além de ações relacionadas à imigração.

Com 59 anos, Kast enfrenta desafios consideráveis desde o primeiro dia, incluindo um Congresso fragmentado e a pressão por resultados rápidos. Seus apoiadores depositam esperança na recuperação econômica do país, uma das mais prósperas da América Latina, após anos de crescimento lento e incertezas sob o mandato de Boric.

O presidente eleito prometeu reduzir a alíquota do imposto de renda para médias e grandes empresas, de 27% para 23%, além de acelerar o crescimento econômico para 4%, partindo dos atuais 2,5%. Entre suas propostas mais controversas está a intenção de cortar US$ 6 bilhões em gastos públicos nos próximos 18 meses, sem diminuir os benefícios sociais. Críticos questionam a viabilidade de tais medidas, alegando que a proposta é tecnicamente inviável e difícil de ser aprovada em um Congresso altamente dividido.

Segundo Axel Callis, sociólogo e pesquisador na Tuinfluyes.com, Kast demonstra pouca experiência em negociações políticas fora de seu círculo íntimo, o que pode dificultar sua gestão. Sua equipe de assessores inclui nomes de fora do establishment tecnocrático chileno, como o principal conselheiro econômico Jorge Quiroz, o economista Bernardo Fontaine, o ex-deputado Rodrigo Álvarez e o empresário Alejandro Irarrázaval.

Após avançar ao segundo turno, Kast também recebeu apoio de economistas que haviam apoiado sua adversária de centro-direita, Evelyn Matthei. Embora seja advogado de formação, fundador do Partido Republicano do Chile e tenha atuado como deputado por 16 anos, Kast ainda não possui experiência na administração executiva.

Sua familiaridade com as necessidades da população vem de anos de visitas ao interior do país, onde conhece de perto as prioridades dos cidadãos, segundo seu assessor Ivan Poduje. Na primeira etapa do pleito, ocorrida em 16 de novembro, Kast obteve 23,9% dos votos, ficando atrás de Jara, que liderou com 26,9%, de acordo com dados do órgão eleitoral governamental.