O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira, dia 20 de novembro de 2025, um decreto que suspende temporariamente a aplicação de tarifas de 40% sobre uma variedade de produtos agrícolas importados do Brasil, que haviam sido estabelecidas em julho passado.
Ao entrar em vigor, as tarifas de julho originaram uma lista de exceções, inicialmente abrangendo cerca de 700 itens. Com a nova decisão, Trump expandiu essa lista, incluindo uma série de produtos adicionais, tais como café, diferentes cortes de carne bovina, tomate, manga, banana e cacau.
A medida de suspensão retroativa é válida para mercadorias que chegaram aos Estados Unidos a partir do dia 13 de novembro, data em que o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, participaram de uma reunião em Washington para discutir as tarifas. Empresas e associações comerciais comemoraram o anúncio, enquanto o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, comentou que "ninguém respeita quem não se respeita".
Parlamentares da oposição sugeriram que a decisão americana foi motivada pela necessidade de conter a inflação doméstica dos EUA, e não por esforços diplomáticos brasileiros, como apontam algumas análises (leia mais abaixo as reações). Essa conversa ocorreu após diversas negociações entre Brasília e Washington, incluindo uma ligação telefônica entre Lula e Trump no dia 6 de outubro, na qual o presidente americano mencionou a relação e o início de negociações, conforme declarado por Trump no decreto.
O chefe do governo dos EUA também afirmou que recebeu recomendações de vários de seus assessores para suspender certas importações agrícolas do Brasil, alegando que avanços iniciais nas negociações justificaram a decisão, embora Rubio continue monitorando as evoluções e possa recomendar futuras ações. Lula, enquanto participava da abertura do Salão do Automóvel em São Paulo, afirmou que "ninguém respeita quem não se respeita" e expressou contentamento pelo começo do afrouxamento das tarifas brasileiras, enfatizando a importância do respeito mútuo em política e economia.
Por sua vez, o Itamaraty declarou que recebeu com satisfação a decisão de Trump e reafirmou o compromisso de continuar o diálogo diplomático para solucionar pendências entre os países, mantendo os 200 anos de excelentes relações diplomáticas e negociando a eliminação de tarifas sobre o restante do comércio bilateral. Celso Amorim, assessor internacional do governo, considerou a suspensão como uma "ação positiva" decorrente de um esforço diplomático cuidadosamente conduzido, e destacou que esse passo é um avanço na direção certa, enquanto viajava à África do Sul para participar da cúpula do G20. Trump justificou a suspensão ao afirmar que, após aval de seus funcionários, certas tarifas agrícolas brasileiras não deveriam mais existir devido ao progresso nas negociações.
Contudo, ele destacou que Rubio continuará avalizando a manutenção ou alteração dessas medidas, dependendo das circunstâncias. O impacto dessa decisão também se reflete na economia brasileira, já que Lula comentou que a redução das tarifas era uma demonstração de respeito mútuo, e que a melhora nas relações poderia facilitar futuras negociações, incluindo a retirada de tarifas adicionais. O Brasil é o principal fornecedor de café para os EUA, respondendo por aproximadamente um terço das importações, e também ocupa o quarto lugar em exportação de mangas e goiabas, com cerca de US$ 56 milhões embarcados em 2024. Apesar do peso na pauta de exportações, produtores brasileiros de manga enfrentaram dificuldades devido às tarifas, que resultaram em encomendas canceladas. Além disso, o Brasil lidera globalmente na exportação de carne bovina, respondendo por 23% das importações americanas.
Os EUA, por sua vez, são o segundo maior mercado para a carne brasileira, atrás apenas da China, mas atualmente enfrentam uma crise de oferta, com o menor número de cabeças de gado em 74 anos, consequência de anos de seca e preços baixos. Essa escassez tem mantido os preços elevados nos supermercados, mesmo com a redução das tarifas e uma demanda constante. A suspensão também deve beneficiar a Argentina, que representa 2,1% das importações americanas de carne e é governada por Javier Milei, aliado de Trump, que anunciou planos de aumentar suas compras do produto. Trump sempre afirmou que suas tarifas não provocariam aumento de preços ao consumidor, mas analistas apontam que a recente suspensão sinaliza uma mudança na postura americana, uma vez que a inflação nos EUA tem crescido, pressionando a economia local.
Dados do centro de pesquisa Tax Foundation mostram que o Brasil, com US$ 7,4 bilhões em importações, é o quarto maior fornecedor de alimentos para os EUA, atrás da União Europeia, México e Canadá. Apesar de ser o maior exportador mundial de café, os EUA produzem quase nada dessa commodity, sendo o Brasil seu principal fornecedor. Em setembro, a quantidade de café brasileiro enviada aos EUA caiu quase 50% em comparação ao mesmo mês de 2024, refletindo os efeitos das tarifas e a crise de oferta no país. Na primeira conversa oficial com Lula para tratar das tarifas, Trump admitiu que os EUA sentiam falta de alguns produtos brasileiros, incluindo o café.
Além disso, o Brasil também é um grande exportador de mangas e goiabas, com cerca de US$ 56 milhões exportados em 2024, embora os produtores dessas frutas tenham sofrido com cancelamentos devido às tarifas. Na área de carnes, o Brasil ocupa a quarta posição mundial, respondendo por 23% das importações americanas, com a China sendo o maior mercado.
O país enfrenta uma redução histórica na produção bovina, com o menor número de cabeças de gado em sete décadas, resultado de anos de seca e preços baixos, o que eleva os preços ao consumidor. Nos EUA, a produção de carne bovina encontra-se em baixa, enquanto o consumo permanece firme, gerando aumento nos preços nos supermercados. A suspensão das tarifas recentemente anunciada também favorece a Argentina, onde o presidente Javier Milei anunciou planos de ampliar suas vendas ao mercado norte-americano, o que gerou reações de produtores brasileiros enfurecidos. Embora Trump tenha declarado que suas tarifas não elevam os preços para os consumidores, economistas alertam que esses custos tendem a ser repassados ao final ao consumidor, o que é corroborado pelo aumento de 2,7% nos preços dos alimentos ao longo do último ano, conforme dados do Departamento do Trabalho dos EUA.
Essa decisão de suspender temporariamente as tarifas revela uma mudança importante na estratégia comercial dos EUA, em meio a um contexto de inflação crescente.