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América Latina
12/12/2025 14:00:00

O que se sabe sobre a apreensão de petroleiro pelos EUA na costa da Venezuela

O que se sabe sobre a apreensão de petroleiro pelos EUA na costa da Venezuela

Um helicóptero militar dos Estados Unidos voa rente ao mar encoberto por névoa até se aproximar de um enorme navio-tanque. A aeronave permanece suspensa enquanto soldados em trajes camuflados descem por cordas e alcançam o convés da embarcação. As imagens divulgadas pelo governo americano mostram a etapa mais recente do processo de pressão de Washington sobre o governo de Nicolás Maduro, que desta vez envolveu a tomada de um petroleiro.

Segundo autoridades americanas, o navio estaria envolvido no transporte de petróleo venezuelano e iraniano submetido a sanções, atuando dentro de uma rede clandestina cuja renda financiaria grupos considerados terroristas pelos EUA. Já o chanceler venezuelano, Yvan Gil, classificou a ação como um ato de pirataria internacional e declarou que o presidente Donald Trump estaria interessado em se apropriar dos recursos energéticos do país caribenho.

Trump afirmou que a operação resultou na apreensão de um navio de grande porte, o maior já capturado pelos Estados Unidos, embora a localização exata da abordagem não tenha sido tornada pública. A procuradora-geral Pam Bondi compartilhou o vídeo da operação e informou que a detenção do navio envolveu a Guarda Costeira americana, o FBI, o Departamento de Segurança Interna e o Pentágono. Fontes militares disseram à CBS News que o petroleiro havia acabado de deixar um porto venezuelano pouco antes de ser interceptado.

O vídeo de 45 segundos mostra os militares caminhando pelo convés com armas em punho, sem que membros da tripulação apareçam. A ação mobilizou dois helicópteros, dez fuzileiros navais, dez integrantes da Guarda Costeira e equipes de operações especiais, incluindo o grupo de elite Maritime Security and Response Team, treinado para contraterrorismo e abordagens de alto risco. Criada após os atentados de 11 de Setembro, essa unidade é preparada para desembarques rápidos como o que aparece nas imagens. A Guarda Costeira coordenou a operação com apoio da Marinha.

Victor Hansen, professor de direito e ex-advogado militar, avaliou que o governo Trump não apresentou com clareza a justificativa legal para apreender o petroleiro, ressaltando que a ação parece estar ligada ao descumprimento de sanções impostas à Venezuela e ao Irã. Ele explicou que operações desse tipo, mesmo quando conduzidas por forças de aplicação da lei, contam com análises jurídicas constantes, embora os advogados não tenham autoridade para vetar ou autorizar missões. Destacou ainda que, embora abordagens marítimas já tenham ocorrido em outras regiões do mundo, o fato de o navio e sua carga terem sido retidos torna este episódio incomum.

A empresa de análise marítima Vanguard Tech identificou o navio como Skipper e afirmou que ele vinha transmitindo coordenadas falsas havia algum tempo. A embarcação já havia sido sancionada pelos EUA em 2022, suspeita de transportar petróleo cuja comercialização geraria receitas para o Hezbollah e para a Força Quds do Irã. Estimativas indicam que o petroleiro teria deixado o porto de José levando cerca de 1,8 milhão de barris de petróleo pesado, dos quais aproximadamente 200 mil teriam sido transferidos para outro navio antes da interceptação, segundo informações divulgadas pela Reuters com base em análises do TankerTrackers.com e da estatal PDVSA.

O BBC Verify localizou o petroleiro no MarineTraffic, que o registrava navegando sob bandeira da Guiana na última atualização antes da apreensão. No entanto, a Administração Marítima guianense afirmou oficialmente que o Skipper estava usando a bandeira do país de forma indevida, pois não consta em seu registro. Dados de rastreamento indicam que o navio esteve próximo ao Irã em setembro, seguiu para a costa da Guiana no fim de outubro e apresentou poucos deslocamentos, possivelmente devido à manipulação de sua localização.

Questionado sobre o destino do petróleo apreendido, Trump respondeu que os EUA provavelmente ficariam com a carga. O tipo de petróleo transportado está avaliado em cerca de US$ 61 por barril no mercado internacional, o que elevaria o valor total da carga a mais de US$ 95 milhões, caso o volume a bordo realmente corresponda ao estimado. Bondi reforçou que o petroleiro já havia sido alvo de sanções por participar de uma rede de transporte ilegal voltada a financiar organizações consideradas terroristas. Maduro acusou os EUA de usar o aparato militar no Caribe como parte de uma campanha para removê-lo do poder e se apropriar das reservas venezuelanas, alegações negadas por Washington.

A Venezuela possui as maiores reservas comprovadas de petróleo bruto do mundo, mas enfrenta dificuldades estruturais para explorá-las devido à deterioração de sua infraestrutura e às rígidas sanções americanas. O petróleo venezuelano é pesado e altamente viscoso, exigindo tecnologia específica para extração, o que torna sua produção ainda mais complexa.

A campanha de pressão do governo Trump tem se concentrado também no combate ao tráfico de drogas, especialmente fentanil e cocaína, e incluiu a classificação do Tren de Aragua e do Cartel de los Soles como organizações terroristas, sendo este último supostamente liderado por Maduro. Trump também acusou o governo venezuelano de liberar presos e internos de hospitais psiquiátricos para migrar aos EUA, declarações feitas sem apresentar evidências. O controle da imigração permanece entre as prioridades da Casa Branca.

Como parte dessa estratégia, os EUA deslocaram cerca de 15 mil militares, além de porta-aviões, destróieres e navios de assalto anfíbio para o Caribe. O USS Gerald Ford, maior navio de guerra do mundo, serviu de base para os helicópteros usados na apreensão do petroleiro. Mick Mulroy, ex-fuzileiro naval e ex-oficial paramilitar da CIA, afirmou que a apreensão aumenta a pressão sobre o governo Maduro e pode sinalizar o início de uma campanha mais ampla para coibir o transporte de petróleo ou de insumos usados na sua extração.

Desde o início de setembro, forças americanas já realizaram mais de vinte ações em águas internacionais contra embarcações suspeitas de transportar drogas, resultando em mais de oitenta mortes. Os EUA defendem que essas operações fazem parte de um conflito armado não internacional contra traficantes que estariam conduzindo uma guerra irregular contra o país. Entretanto, especialistas em direito afirmam que classificar esses indivíduos como narcoterroristas não os transforma automaticamente em alvos militares legítimos, o que torna as ações juridicamente controversas.