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Curiosidades
13/11/2025 06:00:00

Estudo revela como o cérebro decide entre preservar ou apagar memórias

Pesquisas mostram que emoções intensificam o fortalecimento de recordações fracas ao associá-las a eventos marcantes

Estudo revela como o cérebro decide entre preservar ou apagar memórias

De acordo com uma recente investigação científica, a maneira como o cérebro filtra lembranças quotidianas depende de fatores emocionais e associações com experiências marcantes.

Memórias de eventos triviais podem se tornar mais vívidas quando vinculadas a acontecimentos impactantes, gratificantes ou emocionalmente carregados.

A publicação na revista Science Advances apresenta a primeira evidência de que o cérebro reforça gradualmente memórias frágeis, especialmente aquelas que guardam semelhanças com experiências emocionalmente intensas, explica Chenyang Lin, da Universidade de Boston (EUA), um dos autores do estudo.

Por exemplo, uma pessoa que tem seus números sorteados na loteria provavelmente lembrará de detalhes anteriores ao evento, mesmo que esses detalhes pareçam insignificantes ou de pouco valor, uma tendência que costuma ocorrer em diferentes contextos, apontam os pesquisadores.

A antiga noção de que a memória funciona apenas como um arquivo passivo foi revista. Agora, entende-se que o cérebro faz escolhas constantes sobre o que deve ser guardado ou descartado. Assim, momentos carregados de emoção podem estabilizar memórias frágeis, facilitando sua recuperação, explica Robert Reinhart, colega de pesquisa.

A busca por estratégias que potencializem recordações úteis ou reduzam as prejudiciais tem sido uma meta da neurociência há décadas. Segundo Reinhart, a intensidade emocional pode ser uma ferramenta importante nesse processo.

Apesar dos avanços, ainda não há consenso na ciência sobre os efeitos de melhora retroativa ou proativa da memória — ou seja, se o cérebro prioriza memórias próximas aos eventos marcantes, seja antes ou depois deles. Pesquisas anteriores apresentaram resultados conflitantes.

Este estudo, no entanto, destaca-se por ser o primeiro a testar a teoria da 'priorização gradual' — uma nova hipótese sobre a consolidação de experiências diárias — em seres humanos.

Para comprovar suas hipóteses, os pesquisadores realizaram uma série de dez testes de memória com 650 participantes, complementando a análise com dados coletados por inteligência artificial.

Os voluntários assistiram a dezenas de imagens, e, no dia seguinte, realizaram avaliações surpresa para verificar sua memória. Observou-se que memórias relacionadas a eventos marcantes, chamadas lembranças proativas, eram mais fortes conforme o impacto emocional do acontecimento.

Quanto mais significativo o evento, maior a probabilidade de recordar detalhes posteriores a ele. Por outro lado, lembranças que precederam esses momentos — as lembranças retroativas — eram fortalecidas quando existiam pistas que as conectavam aos eventos emocionais subsequentes.

As descobertas têm importantes implicações práticas, especialmente na área da saúde mental e educação. Elas sugerem que o fortalecimento de memórias pode ser potencializado por estímulos emocionalmente envolventes.

Na medicina, por exemplo, esse conhecimento pode ajudar a recuperar recordações debilitadas por processos de envelhecimento ou a tratar traumas, evitando, porém, que memórias dolorosas sejam reavivadas. Reinhart destaca que essa compreensão também pode ser aplicada na educação, promovendo o uso de materiais emocionalmente relevantes para facilitar a retenção de conceitos difíceis.

A pesquisa abre caminhos para avanços no tratamento de questões relacionadas à memória, oferecendo novas perspectivas sobre a capacidade do cérebro de reorganizar suas lembranças conforme experiências emocionais significativas.