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Saúde
11/11/2025 00:00:00

Estudo revela que a gestão de cinco fatores de risco pode acrescentar até 14 anos à expectativa de vida

Pesquisa global demonstra o impacto de hábitos saudáveis na longevidade, mesmo após os 50 anos

Estudo revela que a gestão de cinco fatores de risco pode acrescentar até 14 anos à expectativa de vida

Um levantamento publicado na revista The New England Journal of Medicine demonstra que a adoção de medidas para controlar hipertensão, níveis elevados de colesterol, diabetes, excesso de peso e o hábito de fumar pode aumentar a duração de vida em até 14 anos. Os pesquisadores analisaram informações de aproximadamente 2 milhões de indivíduos distribuídos por 39 países, evidenciando os benefícios de um estilo de vida saudável mesmo após os cinquenta anos.

De acordo com o estudo, a ausência desses cinco fatores de risco está relacionada a uma média de 13,3 anos adicionais de vida livre de doenças cardiovasculares para as mulheres e 10,6 anos para os homens. Os fatores considerados controláveis representam cerca de metade do risco geral de doenças cardíacas e outras enfermidades relacionadas ao sistema cardiovascular, que afetam especialmente pessoas com mais de 50 anos.

Quando hábitos preventivos são adotados na meia idade, por volta dos 40 anos, o potencial de extensão da longevidade pode chegar a 14,5 anos para mulheres e 11,8 anos para homens. Os dados indicam que mudanças comportamentais entre os 55 e 60 anos proporcionam o maior ganho de anos de vida sem complicações cardíacas.

Parar de fumar, por exemplo, acrescenta vários anos de expectativa de vida, assim como a ausência de diabetes e de consumo de tabaco impacta em uma média de 6,4 anos para as mulheres e 5,8 para os homens, além de uma diferença de 5,6 anos e 5,1 anos respectivamente.

Conduzido por pesquisadores da Universidade de Hamburgo, o estudo contou com a participação de 350 mulheres na menopausa de Passo Fundo e 1,7 mil indivíduos acompanhados pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As informações obtidas também fazem parte do projeto EpiFloripa, que avalia as condições de saúde de adultos e idosos na cidade de Florianópolis.

Por mais que os resultados mostrem o potencial de aumentar a expectativa de vida com mudanças de comportamento, eles não garantem que um indivíduo específico viverá exatamente até 14 anos a mais, pois outros fatores, como infarto súbito, podem ocorrer sem a presença dos fatores de risco.

Eleonora d'Orsi, professora do Departamento de Saúde Pública da UFSC e uma das autoras do estudo, reforça que o Estado deve atuar para reduzir esses riscos. Segundo ela, as doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de mortalidade mundial, conforme dados da Organização Mundial de Saúde, e o Brasil possui políticas públicas bem estruturadas no combate a esses fatores.

Ela cita o sucesso do país na luta contra o tabagismo, destacando que as ações governamentais brasileiras são algumas das mais eficazes e sistematizadas do mundo, incluindo protocolos para o controle da hipertensão, mudanças de comportamento e promoção de atividades físicas ao ar livre, como academias de rua.

Para Karen Oppermann, professora de medicina da UPF, iniciativas simples, porém bem planejadas, como a presença de profissionais de saúde envolvidos na conscientização, podem fazer diferença significativa na redução do risco cardiovascular, que é responsável pela maior mortalidade global.

Além disso, fatores socioeconômicos têm forte influência na prevalência de doenças, pois populações com menor renda tendem a consumir mais alimentos ultraprocessados, o que aumenta o risco de desenvolver múltiplos fatores de risco, como apontado por estudos de 2022 da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Diversas pesquisas indicam que desigualdades sociais relacionadas à renda, moradia, emprego, transporte e acesso aos serviços de saúde contribuem para a maior incidência dessas condições.

Apesar dessas disparidades, d'Orsi destaca que os resultados do estudo oferecem esperança, pois demonstram que a mudança de hábitos após os 50 anos ainda pode proporcionar ganhos de longevidade. Para o tabagismo, a recomendação é clara: evitar fumar completamente. Dados do Instituto Nacional do Câncer dos EUA, publicados em 2017 na revista Jama International Medicine, comprovam que não há quantidade segura de cigarros, e que até o consumo ocasional aumenta as chances de morte precoce, além de elevar o risco de câncer de pulmão, enfisema e outras doenças.

Por outro lado, Jamaira Victorio, fisiologista da UFSC que não participou do estudo, comenta que a heterogeneidade dos dados coletados globalmente pode influenciar a precisão das conclusões devido às diferenças regionais e às informações variáveis. Contudo, ela considera os resultados "extraordinários" e acredita que estratégias de mudança de comportamento deveriam ser incentivadas não somente pelo Estado, mas também pelos países, para preparar as futuras gerações para um envelhecimento mais saudável.

Por fim, Oppermann informa que a pesquisa seguirá adiante, incluindo novas variáveis e ampliando o escopo de análise, reforçando a importância de ações contínuas para a redução do risco de doenças cardíacas e aumento da qualidade de vida em todo o mundo.