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Saúde
10/11/2025 05:00:00

Paciente com câncer cerebral denuncia negligência do sistema de saúde estadual

Homem enfrenta dificuldades para obter quimioterapia no serviço público, enquanto luta por sua vida

Paciente com câncer cerebral denuncia negligência do sistema de saúde estadual

Um vídeo divulgado na última sexta-feira (7) nas plataformas de redes sociais gerou indignação e revolta entre os usuários ao exibir a crise enfrentada pelo policial penitenciário José Márcio da Costa, de 57 anos, que foi diagnosticado com um câncer no cérebro.

O profissional está há seis meses tentando garantir o acesso ao tratamento quimioterápico oferecido pelo sistema de saúde estadual, sem sucesso até o momento. Após esgotar todas as alternativas burocráticas disponíveis e não conseguir assegurar o tratamento necessário, Márcio decidiu expor o descaso das autoridades de saúde do estado, destacando que sua luta é além do seu próprio caso, englobando outros que também dependem de assistência médica vital.

Ele afirma que o vídeo foi uma tentativa de alertar sobre a situação de vários pacientes que enfrentam dificuldades semelhantes. Com 18 anos de serviço na polícia, José Márcio foi diagnosticado, no começo deste ano, com Glioblastoma Multiforme, um tipo altamente agressivo de tumor cerebral primário de alto grau e IDH selvagem.

Após uma intervenção cirúrgica realizada no Hospital Metropolitano em 26 de abril, que visou remover um tumor de grande extensão na região temporoparietal, os médicos recomendaram a realização de 30 sessões de radioterapia juntamente com um ciclo de 42 dias de quimioterapia com o medicamento Temodal (Temozolamida).

Este procedimento visa controlar a recidiva tumoral, mas o tratamento não ocorreu como planejado, principalmente devido à indisponibilidade do remédio. As sessões de radioterapia começaram no Hospital Universitário em 3 de outubro, enquanto o quimioterápico deveria ter sido administrado simultaneamente.

No entanto, o Hospital Metropolitano conseguiu liberar apenas três comprimidos até o momento. Por conta do atraso, o ciclo de quimioterapia se estenderá por um período maior e com uma dose superior, prejudicando ainda mais a condição de Márcio, que já realizou 19 sessões de radioterapia e recebeu apenas dois dias de medicação. Antes de iniciar o tratamento, a realização de uma ressonância magnética revelou uma recidiva residual do tumor, reforçando a necessidade urgente de ambos os tratamentos.

Márcio relata que enfrenta uma verdadeira "via crucis" na busca por seus direitos, destacando que a Lei dos 60 Dias, que estabelece o prazo máximo para o início do tratamento oncológico pelo SUS, não vem sendo cumprida na rede estadual de saúde, pois as constantes promessas de liberação de medicamentos não se concretizam.

Na semana passada, ele recebeu uma ligação do hospital solicitando que buscasse o remédio, mas ficou surpreso ao receber apenas metade da quantidade solicitada, o que levou ao cancelamento do ciclo de quimioterapia.

Em sua declaração, Márcio afirma que, após 18 anos de dedicação exclusiva ao serviço público, é vítima de negligência médica e administrativa ao precisar de assistência e não receber a devida atenção. No momento desta reportagem, José Márcio e sua esposa, Jéssica Oliveira, permanecem no hospital aguardando a liberação de pelo menos dois comprimidos, programados para sexta-feira e segunda-feira.

Diversos funcionários do Hospital Metropolitano, que preferiram não se identificar, relataram que a falta de medicamentos já foi comunicada várias vezes às autoridades da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), sem que providências efetivas tenham sido tomadas.

Um técnico qualificou o secretário Gustavo Pontes como um gestor fraco, incapaz de administrar adequadamente a pasta, e apontou que a escassez de remédios é apenas uma manifestação de uma má gestão mais ampla.

Outro funcionário expressou sua frustração, dizendo que as pessoas muitas vezes acreditam que eles são responsáveis pela falta de medicamentos, quando na verdade o objetivo é auxiliar todos os pacientes. Segundo ele, a diretoria do hospital já alertou diversas vezes as autoridades sobre a situação, mas as soluções continuam sendo lentas e sem prioridade clara.

A situação tem causado desgaste político, com parlamentares da oposição se preparando para cobrar melhorias na gestão da saúde pública de Alagoas, especialmente na assistência aos pacientes oncológicos. Enquanto isso, o comprometimento de José Márcio permanece firme, e ele adiantou que pode recorrer à Justiça para garantir o acesso ao tratamento adequado. Vale lembrar que a Lei nº 12.732/2012, conhecida como Lei dos 60 Dias, garante a pacientes com câncer o início do tratamento em até dois meses após o diagnóstico.

Além disso, eles têm direito a exames em até 30 dias, bem como a atendimento humanizado, assistência psicológica e acesso a exames preventivos, conforme estabelecido na Lei nº 14.238/2021 - Estatuto da Pessoa com Câncer.

O direito ao tratamento integral inclui diversas especialidades médicas (como fisioterapia, nutrição e serviço social), além do cuidado com a dor e sintomas que prejudicam o bem-estar do paciente.

Quando necessário, também é assegurado o fornecimento de cuidados paliativos para aliviar o sofrimento, buscando melhorar a qualidade de vida de quem enfrenta a enfermidade, mesmo diante da negligência do sistema público de saúde.