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Economia
05/11/2025 10:00:00

Dólar sobe e se aproxima de R$ 5,40 com aumento da aversão ao risco no exterior

Dólar sobe e se aproxima de R$ 5,40 com aumento da aversão ao risco no exterior
 

O dólar teve forte valorização nesta terça-feira, 4, acompanhando o movimento global da moeda americana diante da cautela dos investidores, que demonstraram maior aversão ao risco.

O cenário é influenciado pelas incertezas sobre até onde o Federal Reserve deve manter o ciclo de flexibilização monetária e pelos temores de uma correção mais acentuada nas bolsas de Nova York.

Apesar disso, o real apresentou desempenho mais resiliente que outras moedas emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano.

A expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha nesta quarta-feira, 5, a taxa Selic em 15% ao ano, com uma comunicação firme que desestimule apostas de cortes ainda em 2025, ajuda a conter parte das pressões sobre a moeda brasileira. Essa postura tende a suavizar o impacto da aversão global ao risco e das remessas de recursos ao exterior típicas do período.

O dólar à vista encerrou o dia com avanço de 0,77%, cotado a R$ 5,3989 — o maior fechamento em dez dias — após atingir a máxima de R$ 5,4017 durante a tarde.

Após ter subido 1,08% em setembro, a moeda acumula alta de 0,35% nos dois primeiros pregões de outubro. No acumulado do ano, o real ainda registra valorização de 12,64%, mantendo-se como a divisa com melhor desempenho entre as principais moedas da América Latina.

Segundo João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, o movimento é amplamente global. “As moedas estão se desvalorizando diante do dólar, com investidores buscando ativos mais seguros, como os títulos do Tesouro americano.

Essa busca por proteção reflete a incerteza sobre o ritmo e a intensidade dos cortes de juros nos Estados Unidos após duas reduções consecutivas de 25 pontos-base”, explicou.

O índice DXY, que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, ultrapassou os 100 mil pontos pela primeira vez desde o início de agosto.

A libra esterlina caiu ao menor patamar desde abril, pressionada por temores fiscais no Reino Unido. A única exceção entre as principais moedas foi o iene japonês, que registrou valorização de cerca de 0,30% frente ao dólar. No mercado de commodities, tanto o petróleo quanto os metais apresentaram queda.

Nos últimos dias, dirigentes do Federal Reserve expressaram opiniões divergentes sobre a possibilidade de novos cortes de juros ainda neste ano, refletindo as divisões internas do comitê de política monetária (FOMC).

O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou na semana passada que não há garantia de redução das taxas em dezembro, o que reforçou o tom cauteloso do mercado.

A paralisação parcial do governo americano, que já dura mais de 30 dias, também amplia a percepção de risco e obscurece o cenário econômico. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, declarou que os efeitos do shutdown já começam a ser sentidos na economia.

“A fala dura de Powell gerou dúvidas sobre os próximos passos do Fed. Agora o mercado começa a cogitar uma pausa nos cortes de juros, o que reduz o apetite por ativos de risco e fortalece o dólar”, avaliou a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.

Mesmo que o Federal Reserve não reduza novamente os juros neste ano, analistas projetam que o diferencial entre as taxas internas e externas continuará elevado, principalmente se o Copom iniciar um ciclo de afrouxamento apenas em 2026.

Entre 65 instituições consultadas pelo sistema Projeções Broadcast, do Grupo Estado, 29 apostam em um corte na Selic apenas em janeiro do próximo ano.