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Brasil
29/10/2025 02:00:00

Megaoperação contra o Comando Vermelho no Rio deixa 64 mortos e 81 presos

Megaoperação contra o Comando Vermelho no Rio deixa 64 mortos e 81 presos

Uma grande operação das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho resultou na morte de 64 pessoas e na prisão de 81 suspeitos nesta terça-feira. A ação ocorreu nos complexos do Alemão e da Penha e é considerada pelo governo fluminense a maior já realizada pelas forças de segurança do Estado. Entre as vítimas fatais estão quatro policiais, e há registros de moradores e agentes feridos.

A ofensiva mobilizou cerca de 2.500 agentes para cumprir cem mandados de prisão em uma área de nove milhões de metros quadrados. Segundo o governador Cláudio Castro, a operação é parte da chamada Operação Contenção, uma ação permanente voltada ao combate à expansão do Comando Vermelho. Ele declarou que a ação foi planejada há mais de 60 dias e que contou com um ano de investigações. Durante a coletiva, o governador classificou os criminosos como “narcoterroristas” e destacou que o Estado agiu com mandados judiciais.

Entre os detidos estão líderes da facção que atuam no tráfico de drogas, como Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como Belão, e Nicolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro. Segundo as autoridades, foram apreendidos 72 fuzis e grande quantidade de entorpecentes. Os confrontos ocorreram principalmente em áreas de mata, mas criminosos tentaram bloquear vias, incluindo a Avenida Brasil, além de incendiar veículos em barricadas.

Durante a operação, criminosos usaram drones para lançar explosivos contra as forças policiais, e fugas em fila indiana foram registradas na Vila Cruzeiro. A Polícia Militar colocou todo seu efetivo nas ruas, suspendeu atividades administrativas e elevou o nível operacional da cidade devido aos bloqueios.

O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União solicitaram explicações ao governador Cláudio Castro sobre a alta letalidade da ação, pedindo detalhes sobre os objetivos, custos e respeito às determinações do Supremo Tribunal Federal previstas na ADPF 635, que exige medidas de redução da letalidade policial.

Em resposta, Castro chamou a ADPF de “maldita” e disse que a decisão do STF teria limitado a atuação policial e beneficiado o crime organizado. Já organizações de direitos humanos classificaram a ação como uma “chacina” e denunciaram a política de segurança baseada na violência e na morte, apontando que essas práticas afetam, sobretudo, as populações negras e pobres das favelas.

A Human Rights Watch também criticou a operação, dizendo que a morte de mais de 60 pessoas, entre civis e policiais, representa uma tragédia e reforça o fracasso das políticas de segurança do Rio. A entidade defendeu investigações independentes sobre o planejamento e a execução da ação.

De acordo com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense, esta foi a operação mais letal já registrada na região metropolitana desde 1990. O grupo contabiliza mais de 700 operações com mortes desde 2007, somando 2.905 civis e 31 policiais mortos, e aponta que essas ações se tornaram a regra no Estado.

O governador Cláudio Castro afirmou que o Rio de Janeiro está “sozinho” no combate ao crime, acusando o governo federal de não oferecer apoio com tropas ou blindados. Ele afirmou ter feito pedidos de auxílio às Forças Armadas em outras ocasiões, que teriam sido negados.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, rebateu a acusação e disse que não recebeu pedido algum do governo fluminense para esta operação. Ele afirmou que o Ministério tem prestado apoio constante ao Estado com equipamentos, armas e presença da Força Nacional, cuja atuação no Rio segue vigente até dezembro. Lewandowski classificou a ação como “bastante cruenta” e defendeu que o combate à criminalidade deve ser feito com planejamento e inteligência.

Organizações civis também questionaram a eficácia da ofensiva. Isabelly Damasceno, da ONG Movimentos, afirmou que uma operação que resulta em 60 mortes “não é inteligente nem efetiva”, e que o governo não pode tratar o extermínio como política de segurança pública.

O Comando Vermelho, principal facção do Rio e uma das maiores do país ao lado do PCC, surgiu no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, durante os anos 1970. Inicialmente criado sob o lema “Paz, Justiça e Liberdade”, o grupo se consolidou como uma organização criminosa focada no tráfico de drogas. Hoje, possui presença em todos os estados brasileiros e ramificações no exterior, exercendo domínio territorial e controle sobre serviços locais nas comunidades, em uma estrutura que lembra o modelo de atuação das milícias.