O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou uma retratação pública nesta sexta-feira (24), após uma declaração polêmica feita durante uma entrevista coletiva na capital indonésia, Jacarta. Na ocasião, ele afirmou que traficantes também seriam vítimas dos consumidores de drogas, o que gerou reações negativas e interpretações equivocadas.
Na manhã de sexta, ao comentar a política antidrogas adotada pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Lula criticou a estratégia militar americana de enfrentamento ao narcotráfico na América Latina, defendendo que os Estados Unidos deveriam focar na sua própria redução do consumo de drogas, ao invés de atuar militarmente na região.
“Sempre que discutimos o combate às drogas, talvez fosse mais eficaz enfrentá-lo internamente, combatendo os usuários. Eles são responsáveis pelos traficantes, que, por sua vez, também são vítimas dos consumidores. Há uma troca: quem vende porque há quem compre, e quem compra porque há quem venda”, afirmou o líder petista.
A fala foi interpretada por muitos como uma tentativa de diminuir a responsabilidade dos criminosos, o que gerou diversas críticas de políticos da oposição e também nas redes sociais.
Horas depois, Lula utilizou sua conta na plataforma X, antiga Twitter, para se retratar, admitindo que “fez uma frase mal colocada” e reafirmando o compromisso do governo na luta contra o crime organizado.
“Na quinta-feira, fiz uma declaração mal formulada e quero deixar claro que meu posicionamento é veemente contra traficantes e organizações criminosas. O que importa, além das palavras, são as ações que meu governo vem promovendo, como a maior operação contra o crime organizado na história, o envio ao Congresso da PEC da Segurança Pública e os recordes de apreensão de drogas no país. Nosso combate ao tráfico e ao crime organizado continuará firme”, ressaltou Lula.
Durante a entrevista, o presidente também criticou a operação militar dos Estados Unidos no Mar do Caribe, que contou com caças, navios de guerra e cerca de 10 mil soldados, sob a alegação de combater cartel de drogas ligado à Venezuela. O Brasil teme que essa iniciativa represente uma possível intervenção militar na América do Sul.
Além disso, Lula condenou a comparação feita por Trump entre traficantes de drogas e grupos terroristas como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, considerada por ele um equívoco. Para o presidente, o combate ao narcotráfico deve respeitar a soberania dos países e a autodeterminação dos povos, sendo realizado por meio de cooperação internacional policial e judicial, e não por ações militares.
“A luta não consiste em matar pessoas. Devemos prender, julgar e punir conforme a lei”, concluiu Lula.